domingo, 1 de novembro de 2009

PARÁBOLA - SUS - Ao som de Mozart - Lacrimosa abre Allas




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&

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Parábola do sistema único de ´stupidez´ 




Dr. Alessandro Loiola*



Era uma vez uma moça muito inteligente chamada Verdade. Toda vez que a Verdade chegava perto das pessoas, elas fugiam. Algumas até diziam preferi-la sempre à sua prima biscateira, a Mentira, comentavam como a Verdade era magnífica e necessária, mas ficar por perto? Não, não.


Então, certa noite, a Verdade sentou-se sozinha e desanimada em uma calçada. E antes que algum passante mais atrevido sugerisse um programa (quem não gosta de apertar, torcer e fornicar com a Verdade?), uma senhora corcundamente idosa aproximou-se.


- Por que você está tão triste? - perguntou Dona Sabedoria.


- Ninguém gosta de mim. - chorou a Verdade.


A velha mediu a Verdade dos pés à cabeça, fez uma pausa e cravou:


- Mas também, olhe para você, veja só o seu estado...! Lastimável!


A bem da verdade, a Verdade não estava lá essas coisas. Talvez por acreditar que apenas sua luz interior fosse suficiente, ela nunca havia se preocupado muito com a parte de fora. O vestido sujo maltrapilho, o penteado dreadlock e aquele perfume estilo Moscas Ardentes, do Bosticário, não eram realmente sedutores.


- Vamos fazer uma coisa? Vou lhe apresentar uma amiga - aconselhou Dona Sabedoria.


- Tenho certeza de que ela poderá lhe dar umas dicas.


E Dona Sabedoria e a Verdade foram até uma casa de massagem gerenciada por uma cafetina chamada Riqueza. A Riqueza era, por assim dizer, o bicho: por mais que ela se escondesse e esquivasse, os homens sempre estavam atrás dela - e algumas vezes por cima e por baixo também. A Riqueza, sem dúvida alguma, sabia das coisas.


- Eu não entendo... - questionou a Verdade, olhando com desdém para a Riqueza.


- Você é fútil, volátil, passa de mão em mão sem criar laços, não cultiva respeito ou sentimentos. Afinal, o que os homens vêem em você?


- O que eles vêem em mim, querida? - disse a Riqueza, colocando o indicador com 3cm de unha postiça vermelha no canto da boca.


- O que eles não vêem em você, eu lhe digo. Mal acabada desse jeito, nem o inquilino do viaduto vai lhe dar uma cantada. Mas eu já sei o que fazer: vou lhe emprestar um vestido meu, que é fatal. Tiro e queda, meu amor. Ele se chama Parábola.


E desde então, a Verdade tem conseguido se aproximar dos homens travestida de Parábola. A parábola não assusta, é engraçadinha e permite que a Verdade dê sua opinião. Entretanto, é só marcar aquela esticada no motel e tudo recomeça: ainda não existe um remédio para evitar o terror na frente da verdade nua e crua. A resposta para isso, nem mesmo a Sabedoria ou a Riqueza parecem ter.


E é com esse espírito altruísta em busca da Verdade que abrimos o champanhe para comemorar os 20 anos do SUS - ou Sistema Único de Stupidez, como costumo chamar, pedindo perdão pela transgressão da língua no último verbete, mas imprescindível para sustentar a sigla.


Surtos psicóticos

O SUS é fruto daqueles surtos psicóticos que nossos governantes têm, quando acham que vivem em um planeta com recursos ilimitados. No papel, o SUS é belíssimo. Na prática, é de uma patetice sem tamanho. Em teoria, o SUS é um plano de saúde com cobertura em 100% do território nacional, oferecendo resgate e assistência médica em todas as especialidades 24h por dia, 7 dias na semana, além de pré-natal, puerilcultura, vacinas, tratamento oncológico e assistência odontológica sem glosas por pré-existência.

Um plano assim, particular, sairia, em média, a uns R$ 400,00 por cabeça, por mês.

Contabilidade

Vamos fazer a contabilidade. Quatrocentos reais por cabeça por mês. Somos 200 milhões de brasileiros. Se o governo fosse de fato oferecer o que reza a Constituição (um plano de saúde top de linha com acesso universal), seria necessário um investimento de cerca de R$ 80 bilhões/mês (R$ 400 x 200 milhões de pessoas), ou R$ 960 bilhões/ano. E de quanto é o orçamento anual do SUS? R$ 35 bilhões/ano. Isso lá em casa dava até pra fazer uma festa, mas no universo do SUS... tsc tsc...

Se formos temperar a conversa com os desvios, os superfaturamentos, as prefeituras que instalam manilhas, compram lanche de escola e inauguram praças com verba da saúde, então é melhor nem pensar em colocar na ponta do lápis.

E se o governo fala em aumentar impostos para financiar o embuste, ops, perdão, financiar o SUS, a gritaria é geral. Melhor fazer reuniões e encontros e workshops e conferências intermináveis para saber como humanizar o inabitável, como pagar com um sorriso nos lábios e uma explicação estapafúrdia uma conta que nunca fecha.

Para fazer o SUS engrenar, não precisamos de mais parábolas. Muito menos desse cordel de faz de contas. Para fazer o SUS engrenar, é preciso algo acima. É preciso muito dinheiro e uma nação de homens (e mulheres) de Verdade, de preferência guiados pelas mãos da Sabedoria. Aí sim, teremos saúde. E qualidade de vida.

E um país de Verdade, ao invés de futebol com carnaval para inglês ver.

Apesar dessa ser uma idéia boa e linda, acho que não vai rolar. Todo brasileiro sempre adia o encontro com a velha corcunda para passar antes no bordel da Riqueza, "pra dar aquela saideira, sacumé?". Sei. Quem sabe depois, né? Quem sabe.

Eu vou estar esperando sentado na calçada.



FONTE:  Qua, 04 Nov, 06h28
Dr. Alessandro Loiola*  
Fale com ele pelo e-mail aloiola@brpress.net


*Dr. Alessandro Loiola é médico, escritor e palestrante. Autor de, entre outros livros, "Para Além da Juventude - Guia para uma Maturidade Saudável" (Editora Leitura).
 Fale com ele pelo e-mail aloiola@brpress.net



Paracelso bate palmas
 - enfim aparece a Verdade
 na boca de um Médico
*

É de médicos inteligentes (indignados)

que o brasileiro precisa
-Viva Alessandro Loiola!



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