quarta-feira, 17 de março de 2010

GALÁXIAS A OLHO NU

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GALÁXIAS

As três galáxias que podemos ver a olho nu

Guilherme Murici Corrêa (Monitor UFMG/Frei Rosário)

Galáxias

Todos os planetas do nosso Sistema Solar orbitam o Sol, que é apenas uma dentre bilhões de estrelas que compõe a nossa galáxia: A Via Láctea. Observada e nomeada desde tempos muito remotos, foi apenas descoberto que o “caminho de leite” na verdade se tratava de um imenso número de estrelas, quando o famoso astrônomo Galileu Galilei a observou.

Quando observamos o céu em uma noite sem nuvens podemos ver milhares de estrelas dependendo das condições do local de onde observamos. Todas estas estrelas fazem parte desta galáxia em que o sistema solar está localizado. Se abstrairmos um pouco e pensarmos cada vez mais distante, haverá um momento em que será possível distinguir uma forma para esta organização de estrelas, no caso da via Láctea será uma forma espiralada praticamente planar, ou seja, a grande maioria das estrelas está localizada em um plano, o “disco” galáctico. O primeiro astrônomo a chegar a esta conclusão foi o também famoso William Herschel que mais tarde obteve confirmação de suas observações quando Harlow Shapley descreveu como as estrelas estariam organizadas em relação ao centro (bojo) da galáxia e também demonstrou que o Sol está mais próximo à borda da Via Láctea.

Fotografia da Via Láctea


As galáxias são, portanto, formadas de estrelas, milhões ou bilhões delas. Existem várias classificações para cada uma dependendo de sua forma, como por exemplo, galáxias irregulares, elípticas, espirais, como é o caso da Via Láctea, Andrômeda, entre outras. As galáxias espirais também podem possuir um formato característico que é denominado de espiral barrada.

Entre as estrelas se encontra também muito gás e poeira, de fato ¾ da massa de uma galáxia está na forma de gás e poeira. Este é o material que restou de estrelas que já “se foram” e é também o material que novas estrelas utilização para se formar. Comentando de maneira breve: Estrelas são formadas principalmente por nuvens de gás, principalmente hidrogênio, que é o elemento mais simples existente e o primeiro a sofrer o processo de fusão nuclear no ciclo de reações que ocorrem durante o período de atividade de uma estrela.

Toda essa poeira e gases existentes nas galáxias também emitem luz porque seus átomos estão sendo excitados de alguma forma pela radiação das estrelas vizinhas e quando seus respectivos elétrons retornam ao estado fundamental, estes emitem fótons. Repare estas regiões nebulosas observando, por exemplo, as partes de cores azuis e rosas nesta fotografia da galáxia M66:

M66


Observando em todas as direções é possível ver galáxias que podem estar tão perto como algumas centenas de milhares de anos luz até galáxias tão distantes que são necessários telescópios de grande porte para se fotografar e estudar. Devido a estas grandes distancias envolvidas no estudo e observação de galáxias, parece pouco provável observa-las à vista desarmada ou mesmo com pequenos telescópios ou binóculos.

Galáxia do Triangulo


Felizmente isto não é verdade, a Via Láctea possui algumas galáxias satélites, isso mesmo, assim como a lua é um satélite natural da Terra, existem galáxias pequenas quando comparadas à Via Láctea que estão gravitacionalmente relacionadas “conosco”. Este fato intrigante nos permite observar dois objetos muito interessantes que são melhores observados de latitudes mais austrais devido à suas localizações no céu.

Todas estas características peculiares são o motivo da descoberta relativamente tardia das nuvens de Magalhães. Como o nome já sugere, estes objetos que mais tarde foram estudados e percebidos como galáxias, foram descobertos pelo navegador Fernão de Magalhães em torno de 1519.

Juntamente com as nuvens de Magalhães, a grande galáxia de Andrômeda também pode ser observada à vista desarmada.


O que é possível observar a olho nu?

Infelizmente todos os detalhes, contornos e cores como visíveis por estas fotos acima somente podem ser observados através de telescópios de grande abertura que são utilizados para realizar fotografias de exposição, realçando e evidenciando características que o olho nu não conseguirá distinguir.

Por outro lado, observar o céu a olho nu é uma atividade simples e prazerosa. Quando uma observação sem instrumentos é feita com cuidado muitos objetos interessantes podem se revelar. E embora pareça difícil observar uma galáxia devido aos fatos de que estes corpos estão muito distantes e também que o brilho proveniente de uma galáxia não é concentrado como o brilho visível de uma estrela, ainda sim é possível observar estas três galáxias: A galáxia de Andrômeda, A Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães. Esta observação auxilia o conhecimento dos objetos celestes e fornece um maior contato com o que observamos, já que se torna bem mais fácil observar objetos quando possuímos uma noção de orientação, das constelações e assim em diante.

É possível reconhecer que estes objetos, a primeira vista apenas manchas no céu, são de fato grupos de estrelas e, de uma maneira bem geral, vários outros objetos próximos serão melhores observados quando conseguimos identificar suas localizações como aglomerados estelares e nebulosas.


A Pequena Nuvem de Magalhães

Pequena Nuvem de Magalhães e o Aglomerado de 47 Tucano


Esta galáxia irregular está próxima à constelação do Tucano e está a menos de 200 mil anos luz da nossa galáxia. É uma galáxia satélite da nossa e possui diversos objetos nebulosos próximos como o famoso aglomerado globular de 47 Tucano. É importante lembrar que para observa-la é necessário um local com pouca poluição luminosa, além de ser mais facilmente observada quando a Lua não estiver no céu. A mancha tênue ligeiramente esbranquiçada não será confundida quando o observador se lembrar de sua localização:

Carta celeste indicando localizações das nuvens de Magalhães

observando na direção E-SE e baseando-se em estrelas brilhantes

NGC 104 ou 47 tucanae é o segundo aglomerado globular mais brilhante de todo o céu


A Grande Nuvem de Magalhães

Assim como a Via Láctea e a pequena nuvem de Magalhães, a grande nuvem de Magalhães também pertence ao grupo local de galáxias e é do tipo irregular. Trata-se de um objeto que está próximo à constelação de Dorado e está a apenas cerca de 170 mil anos luz da Via Láctea. Estende-se por uma extensão consideravelmente maior que Pequena Nuvem de Magalhães e possui, similarmente, muitos objetos nebulares próximos muito interessantes como a nebulosa da tarântula.

A grande nuvem de Magalhães (LMC) e a nebulosa da tarântula, acima à esquerda.


Uma curiosidade sobre a grande nuvem de Magalhães é que sua órbita é praticamente circular ao redor da via Láctea. Observações e estudos foram realizados e este objeto é uma fonte de estudos para questões como a matéria escura (dark matter) na nossa própria galáxia.

A Nebulosa da Tarântula


A galáxia de Andrômeda

O objeto mais distante que é possível de se observar à vista desarmada, é uma grande galáxia que junto com as duas anteriores também faz parte do grupo local. Galáxia do tipo espiral que possui um diâmetro de aproximadamente 250 mil anos luz, (mais do que o dobro do diâmetro da via Láctea!) e está distante cerca de 2.9 milhões de anos luz da nossa galáxia. Possui galáxias satélites e está localizada na constelação de Andrômeda, a princesa, um dos personagens da mitologia grega. Melhor observada do hemisfério norte, possui a seguinte localização:

Também conhecida como M31, objeto 31 do catálogo do astrônomo francês Charles Messier, Andrômeda possui uma aparência bem uniforme quando observada a olho nu. O mais desafiador dos objetos desta lista é também uma bela indicação de uma região do céu próxima a estrelas muito conhecidas, principalmente no hemisfério norte. Um local com pouquíssima iluminação deve ser buscado para observar a região mais central da galáxia. Se observado por binóculos ou pequenos telescópios, o formato oval é facilmente distinguível, já quando observado por telescópios de maior abertura, detalhes mais profundos são revelados.

Três fotos da Galáxia de Andrômeda


Observar galáxias definitivamente não é uma tarefa fácil, contudo é muito interessante e divertido. Observadores que desejam ir além do sistema solar, têm um bom ponto de partida. Estas três galáxias podem ser o início de uma grande jornada através de objetos difusos mais complexos como nebulosas e galáxias mais distantes. Mesmo um observador despretensioso vai com certeza encontrar motivação para conhecer por si mesmo estes objetos.
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domingo, 14 de março de 2010

PRIMEIRA CRUZADA SANGRENTA

 

Primeira cruzada marcou época de conflitos religiosos sangrentos

No século 11, quando a influência muçulmana sobre o Oriente Médio e Jerusalém começou a aumentar, o papa Urbano 2º reagiu com fúria. Nº 7 da série "Os Europeus".

 

Em 1071, um exército cristão já fora derrotado por tropas muçulmanas em Manzikert, no leste da Anatólia. Mas foram as notícias vindas da Cidade Santa que enfureceram o papa: segundo os relatos, honrados peregrinos cristãos haviam sido submetidos a insuportáveis martírios por parte dos pagãos.
O papa Urbano 2º (cerca de 1035-1099) considerou o Concílio de Clermont, em 1095, um momento oportuno para convocar uma "peregrinação armada" a Jerusalém. As palavras do papa foram claras:
"Eles circuncisam os cristãos e despejam o sangue da circuncisão no altar ou nas pias batismais. Eles têm prazer em matar os outros, à medida que lhes cortam a barriga e puxam uma extremidade do intestino, atando-a a um poste. Aos golpes, eles os perseguem em torno do poste, até as vísceras saírem para fora e eles caírem mortos no chão. Vocês deveriam ficar tocados com o fato de o Santo Sepulcro de nosso Salvador estar nas mãos desse povo impuro, que – com sua imundície – está maculando de maneira desavergonhada e sacrílega os nossos santuários sagrados."
Massacre em nome do Senhor
Talvez tenha sido um exagero. Verídico, com certeza, era o fato de os governantes muçulmanos cobrarem uma espécie de ingresso para quem quisesse entrar em Jerusalém. Para os peregrinos cristãos, essa era uma situação insuportável, agravada ainda pela destruição de santuários, imagens religiosas e monumentos em Jerusalém.
Reverter essa situação era o que pretendia a primeira cruzada, em 1096, com a participação de 300 mil cavaleiros europeus com perspectivas de obter um espólio compensador. O papa Urbano 2º reforçou o moral dos guerreiros cristãos para o combate, prometendo-lhes o perdão de todos os pecados passados e futuros.
Mas isso não pôde impedir as imensas perdas entre os cavaleiros, que – com a cruz sobre a armadura – em parte já morriam antes de chegar a Jerusalém. Eles eram continuamente atacados pelos inimigos, envolvendo-se em lutas com grupos locais.
Os combatentes cristãos conquistaram Niceia e Antioquia até início de julho de 1098. Após Beirute, prosseguiram até Jafa e Haifa. Em Edessa, Gottfried von Bouillon (em torno de 1060-1100) fundou o primeiro "Estado de cruzados". Três anos após partirem do Ocidente, eles chegaram a Jerusalém.
Em julho de 1099, começou a batalha pela Cidade Santa, combatida por apenas 21 mil cavaleiros exaustos, sobreviventes do exército originário. As fortificações foram destruídas com arietes e catapultas. "É a vontade de Deus!" – com este grito os cavaleiros invadiram Jerusalém, por fim, provocando um bestial banho de sangue. Apenas poucos habitantes da cidade sobreviveram.
O massacre foi estilizado pelos guerreiros de Deus como "purificação" da cidade, libertada dos infiéis. No final, eles marcharam em procissão para agradecer a vitória. Esse dia custou a vida de 70 mil pessoas.
Mais motivos para guerras religiosas
No verão de 1099, Gottfried von Bouillon foi nomeado "alcaide do Santo Sepulcro". Além de Edessa, os integrantes das cruzadas fundaram outros Estados: a Armênia Menor, o Principado de Antioquia, o Condado de Tripoli e o Reino de Jerusalém.
A nova ordem do Oriente Médio não durou muito tempo, pois a região estava circundada por poderosos países árabes, indignados e enfurecidos com as cruzadas: o Emirado de Damasco, o Califado do Cairo e o Sultanato dos Seljúcidas. Nos dois séculos seguintes, eles fizeram tudo para reconquistar os territórios, motivando assim mais seis cruzadas que, até meados do século 13, causaram a morte de centenas de milhares de pessoas.
Na Europa, contudo, as cruzadas eram expressão da coletividade cristã concentrada em torno da cruz sob a autoridade papal. Assim surgiu uma espécie de "comunidade europeia" cristã. Essa Universitas Christiana uniu a Europa por muito tempo. O sentimento de unidade dos europeus se baseava, no entanto, no rechaço dos pertencentes a outras crenças. Não era uma identidade "por" alguma coisa, mas sim "contra" algo.
Autor: Matthias von Hellfeld
Revisão: Augusto Valente
 DW - 2010 - DW
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4259814,00.html