sábado, 2 de fevereiro de 2013

EXPLOSÃO DE RAIOS GAMA NA TERRA


 A Terra pode ter sido atingida

 por uma explosão de raios gama

 há 1200 anos

2013-01-24

Impressão artística da fusão de duas estrelas de neutrões. Pensa-se que as fulgurações de raios gama de curta duração são causadas pela fusão de uma combinação de anãs brancas, estrelas de neutrões ou buracos negros. A teoria sugere que a curta duração se deve à pouca poeira e gás, insuficientes para alimentar um brilho remanescente. Crédito: Parte de uma imagem criada pela NASA / Dana Berry.
De acordo com uma nova investigação, liderada pelos astrónomos Valeri Hambaryan e Neuhӓuser Ralph do Instituto de Astrofísica da Universidade de Jena, na Alemanha, uma explosão de raios gama, de curta duração, ocorrida a uma distância relativamente pequena, pode ter sido a causa da intensa radiação de alta energia que atingiu a Terra no século 8. Os resultados estão publicados nos Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Em 2012, o cientista Fusa Miyake anunciou a detecção de altos níveis dos
isótopos

carbono-14 e berílio-10 em anéis de árvores formados no ano 775 DC, o que sugeria que uma explosão de radiação cósmica teria atingido a Terra no ano 774 ou 775 DC. O carbono 14 e o berílio-10 formam-se quando a radiação vinda do espaço colide com átomos de azoto, que depois decaem para estas formas mais pesadas de carbono e berílio. Pesquisas anteriores descartaram a possibilidade da causa ter sido uma explosão de supernova ocorrida nas proximidades, não só por não terem sido encontradas referências alusivas a um fenómeno desse tipo nos registos das observações realizadas na época como também por não terem sido descobertos quaisquer vestígios.

O Prof Miyake considerou ainda a possibilidade da causa ter sido uma tempestade solar, mas os fenómenos deste tipo não são suficientemente poderosos para produzirem o pico observado de carbono-14. As grandes
fulgurações tendem a ser acompanhada por ejecções de material da coroa solar, que levam ao aparecimento de grandes auroras Os investigadores debruçaram-se então sobre uma passagem da Crónica Anglo-Saxónica que descreve um "crucifixo vermelho” observado depois do pôr do sol e que poderia ter sido uma supernova. Mas a passagem datava a ocorrência em 776, demasiado tarde para poder ser relacionada com os dados do carbono-14 e, além disso, incapaz de explicar por que não foi detectado nenhum vestígio.

Mas o Dr. Hambaryan e o Dr. Neuhӓuser têm outra explicação que bate certo com as medições de carbono-14 e com a ausência de registos de quaisquer eventos no céu. Assim, eles propõem a ideia de dois objectos estelares compactos (que poderão ter sido
buracos negros , estrelas de neutrões
ou anãs brancas
) que sofreram colisão acabando por se fundir. Quando isto acontece, alguma energia é libertada sob a forma de raios gama, a parte mais energética do espectro electromagnético . Nestas fusões, a fulguração de raios gama é intensa, mas curta, geralmente com uma duração inferior a dois segundos. Estes eventos são observados noutras galáxias muitas vezes por ano, mas, ao contrário das fulgurações de longa duração, não apresentam qualquer luz visível . Se esta for a explicação para a radiação que atingiu a Terra em 774/775, então as estrelas que se fundiram não podiam estar a uma distância inferior a 3000 anos-luz, ou o fenómeno teria conduzido à extinção de alguma vida terrestre. Com base nas medições de carbono-14, Hambaryan e Neuhӓuser acreditam que a explosão de raios gama teve origem num sistema situado a uma distância compreendida entre os 3000 e os 12000 anos-luz do Sol
 
Se os investigadores estiverem certos, então esta hipótese pode explicar porque não existem registos de uma supernova ou de auroras na época em questão.

Outro trabalho sugere ainda que uma pequena quantidade de luz visível é emitida durante explosões curtas de raios gama e que pode ser observada num evento ocorrido relativamente perto. A observação é possível apenas por alguns dias e logo se perde, mas, ainda assim, pode ser um dado importante para levar os historiadores a olharem novamente para os textos da altura.

Os astrónomos também podem procurar o objecto resultante da fusão
, um velho buraco negro de 1200 anos ou uma estrela de neutrões a 3000-12000 anos-luz do Sol, mas sem o gás e poeira característicos de um remanescente de supernova.

O Dr. Neuhӓuser comenta: "Se a explosão de raios gama tivesse ocorrido muito mais perto da Terra teria causado danos significativos na biosfera. Mas até mesmo a milhares de anos-luz de distância, um evento similar poderia hoje causar estragos nos sistemas electrónicos sensíveis de que as sociedades avançadas passaram a depender. Agora, o desafio é estabelecer o quão raros são tais picos de carbono-14, ou seja, quantas vezes tais jactos de radiação atingiram a Terra. Nos últimos 3000 anos, a idade máxima das árvores que se encontram vivas, apenas um evento parece ter ocorrido."

Fonte da notícia:
Portal do Astrónomo-Pt