A Terra pode ter sido atingida
por uma explosão de raios gama
há 1200 anos
2013-01-24
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Impressão artística da fusão de duas estrelas de neutrões.
Pensa-se que as fulgurações de raios gama de curta duração são causadas
pela fusão de uma combinação de anãs brancas, estrelas de neutrões ou
buracos negros. A teoria sugere que a curta duração se deve à pouca
poeira e gás, insuficientes para alimentar um brilho remanescente.
Crédito: Parte de uma imagem criada pela NASA / Dana Berry.
De acordo com uma nova investigação, liderada pelos astrónomos
Valeri Hambaryan e Neuhӓuser Ralph do Instituto de Astrofísica da
Universidade de Jena, na Alemanha, uma explosão de raios gama, de curta duração, ocorrida a uma distância relativamente pequena, pode ter sido a causa da intensa radiação de alta energia que atingiu a Terra no século 8. Os resultados estão publicados nos Monthly Notices da Royal Astronomical Society.
Em 2012, o cientista Fusa Miyake anunciou a detecção de altos níveis dos
isótopos
carbono-14 e berílio-10 em anéis de árvores formados no ano 775 DC, o
que sugeria que uma explosão de radiação cósmica teria atingido a Terra
no ano 774 ou 775 DC. O carbono 14 e o berílio-10 formam-se quando a
radiação vinda do espaço colide com átomos
de azoto, que depois decaem para estas formas mais pesadas de carbono e
berílio. Pesquisas anteriores descartaram a possibilidade da causa ter
sido uma explosão de supernova
ocorrida nas proximidades, não só por não terem sido encontradas
referências alusivas a um fenómeno desse tipo nos registos das
observações realizadas na época como também por não terem sido
descobertos quaisquer vestígios.
O Prof Miyake considerou ainda a possibilidade da causa ter sido uma
tempestade solar, mas os fenómenos deste tipo não são suficientemente
poderosos para produzirem o pico observado de carbono-14. As grandes
fulgurações tendem a ser acompanhada por ejecções de material da coroa solar, que levam ao aparecimento de grandes auroras
, mas, mais uma vez, os registos históricos não sugerem que estas tenham ocorrido.
Os investigadores debruçaram-se então sobre uma passagem da Crónica
Anglo-Saxónica que descreve um "crucifixo vermelho” observado depois do
pôr do sol e que poderia ter sido uma supernova. Mas a passagem datava a
ocorrência em 776, demasiado tarde para poder ser relacionada com os
dados do carbono-14 e, além disso, incapaz de explicar por que não foi
detectado nenhum vestígio.
Mas o Dr. Hambaryan e o Dr. Neuhӓuser têm outra explicação que bate
certo com as medições de carbono-14 e com a ausência de registos de
quaisquer eventos no céu. Assim, eles propõem a ideia de dois objectos
estelares compactos (que poderão ter sido
buracos negros
, estrelas de neutrões
ou anãs brancas
)
que sofreram colisão acabando por se fundir. Quando isto acontece,
alguma energia é libertada sob a forma de raios gama, a parte mais
energética do espectro electromagnético
.
Nestas fusões, a fulguração de raios gama é intensa, mas curta, geralmente com uma duração inferior a dois segundos. Estes eventos são observados noutras galáxias muitas vezes por ano, mas, ao contrário das fulgurações de longa duração, não apresentam qualquer luz visível
. Se esta for a explicação para a radiação que atingiu a Terra em 774/775, então as estrelas que se fundiram não podiam estar a uma distância inferior a 3000 anos-luz,
ou o fenómeno teria conduzido à extinção de alguma vida terrestre. Com
base nas medições de carbono-14, Hambaryan e Neuhӓuser acreditam que a
explosão de raios gama teve origem num sistema situado a uma distância
compreendida entre os 3000 e os 12000 anos-luz do Sol
Se os investigadores estiverem certos, então esta hipótese pode
explicar porque não existem registos de uma supernova ou de auroras na
época em questão.
Outro trabalho sugere ainda que uma pequena quantidade de luz
visível é emitida durante explosões curtas de raios gama e que pode ser
observada num evento ocorrido relativamente perto. A observação é
possível apenas por alguns dias e logo se perde, mas, ainda assim, pode
ser um dado importante para levar os historiadores a olharem novamente
para os textos da altura.
Os astrónomos também podem procurar o objecto resultante da fusão
, um velho buraco negro de 1200 anos ou uma estrela de neutrões a 3000-12000 anos-luz do Sol, mas sem o gás e poeira característicos de um remanescente de supernova.
O Dr. Neuhӓuser comenta: "Se a explosão de raios gama tivesse
ocorrido muito mais perto da Terra teria causado danos significativos na
biosfera. Mas até mesmo a milhares de anos-luz de distância, um evento
similar poderia hoje causar estragos nos sistemas electrónicos sensíveis
de que as sociedades avançadas passaram a depender. Agora, o desafio é
estabelecer o quão raros são tais picos de carbono-14, ou seja, quantas
vezes tais jactos de radiação atingiram a Terra. Nos últimos 3000 anos,
a idade máxima das árvores que se encontram vivas, apenas um evento
parece ter ocorrido."
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Fonte da notícia:
Portal do Astrónomo-Pt
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