quarta-feira, 4 de novembro de 2009

GUERRA SEM TRÉGUA AOS VERDADEIROS DONOS DA TERRA


Os botocudos foram vítimas de uma guerra sem trégua






De fato, os registros das expedições ocorridas antes do século XIX dão conta de que elas não passaram das florestas dos botocudos. Isso aconteceu com Espinosa, Tourinhos, Adorno, Martim Carvalho, coronel Bento Lourenço Vaz de Abreu Lima e Francisco Teixeira Guedes. Ou foram abatidos pelos botocudos ou voltaram com baixas para seus lugares de origem. Nenhum deles saiu ileso dos confrontos. Os poucos que escaparam, Deus sabe como, contaram as táticas de guerrilha dos índios.


Somente com a invasão maciça no século XIX é que vieram os civilizados a conhecer a vitória sobre os botocudos. Alguns até conseguiram ludibriar os selvagens com propostas de paz, que, em verdade, traduzia-se numa tolerância de penetração no seu território. E os que trataram os índios de maneira simpática lograram esse intento. Entre os que assim procederam estavam Teófilo Otoni, João Felipe Calmon, os freis Serafim Gorízio e Ângelo Sassoferrato. Aproveitaram muito bem o rastro de humanitarismo deixado pelo comandante francês Guido Marliére, no início do século XVIII.


O maior e mais cruel massacre


"Pogirum! Pogirum! Jak-Jemenuk!" 

(Mãos Brancas! Mãos Brancas! 
Nós já estamos mansos! 

Já não somos matadores!).


Assim os índios do cacique Poton gritavam para a expedição de Teófilo Otoni, que iniciou a penetração no território dos botocudos em 1847. Estava ele na área conflagrada de Todos os Santos, onde os índios de Poton mantinham luta aberta contra os de Giporok. Como essa luta era travada numa região pretendida pela Companhia do Mucuri, Teófilo Otoni interessou-se em pacificá-los e saiu em busca da tribo de Giporok: "Fiquem mansos vocês, que nós estamos mansos como cágados", disse o cacique a Teófilo Otoni, no seu primeiro encontro.


O grande chefe guerreiro tinha acabado de tomar de assalto a fazenda dos Viola, uma família que mantinha em cativeiro duas crianças botocudas e que foram recuperadas nesse ataque. O desafio do fazendeiro custou a vida de oito pessoas da sua família. Teófilo Otoni desarmou Giporok e seu grupo com propostas de paz. Em seguida, incentivou o grande guerreiro a procurar a vila dos civilizados a fim de confraternizar com os brancos.


História acabou destacando o vilão e usurpador


Marliére era um europeu querido dos índios, que se empenhou para evitar o massacre dos botocudos, durante os primeiros movimentos de guerra do conde de Linhares, Saint-Hilaire, outro humanista europeu, quando esteve no Rio Doce, apreciou o trabalho de Marliére com os índios e lhe deu um grande apoio. Doente em Paris recebeu dele uma carta comovente: "Eu me aflijo pela sua má saúde, como se fôsseis um irmão; vós não sereis chorado apenas pelos que se dedicam à ciência; sê-lo-á também pelos meus pobres índios; eles aprenderam que no outro hemisfério têm um amigo que pleiteia sua causa no tribunal da Humanidade".


Contudo, a História distinguiu, equivocadamente, como grande amigo dos botocudos, o político mineiro Teófilo Otoni. Enquanto Marliére, no seu tempo, cuidou de evitar a entrada dos aventureiros, Teófilo Otoni penetrou no território botocudo a fim de instalar a companhia do Mucuri (uma estrada de ferro). A cada passo que dava com seus homens para dentro das florestas, ou com suas embarcações, levava presentes para os índios. Esse comportamento era exatamente o oposto daqueles que anteriormente haviam se aproximado dos botocudos, com um espírito hostil que freqüentemente resultava em extermínio dos índios.



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