sábado, 9 de maio de 2009

OLGA BENÁRIO - A MÃE


Olga Benario, mãe.


Jorge Antunes
para mim


Amanhã, domingo, dia 10 de maio, todos comemoraremos o “Dia das Mães”.

Lembrando a importante data, quero homenagear todas as mães.

Para tanto, coloco à disposição, para escuta, a “Ária Anita Livre” de minha ópera Olga. Essa ária é cantada por Olga, na prisão de mulheres de Barnmistrasse, em Berlin, em 1936, quando a prisioneira dos nazistas recebe a notícia de que sua filha Anita, nascida na prisão de Berlim, está em liberdade sob os cuidados da avó Leocádia. A pequena Anita fora arrancada dos braços de Olga pelos nazistas. Olga Benario não sabia, até então, do paradeiro da menina.

Ouça em:
http://www.americasnet.com.br/antunes/aria_anita_livre_de_Olga

Solista; Martha Herr
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Regente: Maestro José Maria Florêncio

ÓPERA OLGA
de Jorge Antunes
libreto de Gerson Valle

GRANDE ÁRIA FINAL (A carta)


Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.

Carlos, querido, meu amado: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Eu me conformaria, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, se teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto! E estou tão agradecida à vida, por ela me ter dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?

Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter de fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti, aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom. Eu lutei. Lutei pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento me manterei firme e com vontade de viver. Agora, ao descanso, vou-me embora, vou dormir, pra ser muito mais forte amanhã. Beijo-os pela última vez.

Solista, no papel de Olga: soprano Martha Herr

Grande Ária Final (18m 53s)

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