FAQ (Frequently Asked Questions) for this video
Q: Where  can I get free sheet music for this piece?
A: Here's a copy, thanks  to Clint S. Mars:
http://www.musanim.com/pdf/debussyclairdelune.pdf
Q:  Can I follow the person who made this video on Twitter?
A: Sure,  Stephen Malinowski's Twitter ID is: musanim
Q: Where can I  download this song?
A: You can get it at iTunes:
http://tinyurl.com/ad9vnc
or at Amazon:
http://www.amazon.com/Clair-De-Lune-Debussy/dp/B001OIUS90
Q: I  wish I could play this piece.
A: You can!  If you have a MIDI setup  (MIDI keyboard with damper pedal, MIDI piano, and a computer running  Windows or Mac OS X), you can play this piece using the conductor  program.  You need to learn the piece really well, but you don't need to  learn to play the piano.  The article describing how this works is here  
http://www.musanim.com/tapper/
and the software is available  here (free) 
http://www.musan...       
mais     
Nebulosas Planetárias:
O Belo em Detalhe
 
Nebulosa Planetária Wray 17-1. Crédito: R. Corradi.
     
Foi num artigo publicado em 1785, por Willian Herschel, autor  de famosos catálogos de nebulosas planetárias e aglomerados estelares,  que as nebulosas planetárias foram assim classificadas pela primeira  vez. O nome surgiu porque o seu aspecto recordava os discos esverdeados  de alguns planetas e por apresentarem características observacionais  distintas dos demais objectos que estudava. Porém, estas não são, em  absoluto, planetas nem mesmo nebulosas jovens em processo de condensação  para a formação de novas estrelas...  
Hoje em dia sabemos que estrelas do tipo solar, no final de suas  vidas, desprendem suas camadas mais externas que, pouco a pouco, se  expandem e diluem até se confundirem com o meio interestelar, enquanto o  resto da estrela segue a sua evolução até se transformar numa anã  branca, ou seja num "cadáver estelar". Enfim, apesar do nome que  recebem, nebulosas planetárias representam a última fase da evolução da  maioria das estrelas -- e também do Sol, dentro de 4.500 milhões de  anos. 
 
 
Figura 1: M27, a Dumbbell Nebula (Nebulosa dos Halteres).
Em  termos do tamanho projectado no céu, é a maior das nebulosas  planetárias, medindo 16 minutos de arco. A cor verde representa a linha  de emissão de átomos de oxigénio duas vezes ionizado ([OIII]) e o  vermelho indica  aquela dos átomos de nitrogénio uma vez ionizado ([NII]) e do hidrogénio  (Hα). 
Esta imagem foi obtida com o telescópio de 0.82m IAC80 (situado  no Observatorio del Teide). Crédito: The IAC Morphological Catalog of  Northern Galactic Planetary Nebulae (Manchado et al. 1996).
   
Uma nebulosa planetária compõem-se  por gás e poeira, os quais  circundam uma estrela do tipo solar quando esta se encontra nas fases  finais de sua evolução. Esta estrela, a estrela central da nebulosa  planetária, ilumina a nebulosidade ao seu redor, que por sua vez é  observada em todas as zonas do espectro electromagnético, desde  rádio  até raios-X.  Comparadas com as estrelas, que emitem numa banda de luz  contínua (luz branca), as nebulosas planetárias emitem sua luz em bandas  muito mais estreitas, ou seja, em linhas de emissão (luz discreta com  diferentes cores). Devido a esta característica as nebulosas planetárias  são facilmente identificadas no céu quando se utiliza um telescópio  contendo um prisma, sendo visualizadas como um verdadeiro caleidoscópio.  As nebulosas planetárias são "intrinsecamente" tão belas, que as suas  imagens  observadas com o Hubble Space Telescope estão entre as mais  conhecidas pelo público não especializado. 
Data de 1764 a  primeira vez que se observou uma nebulosa planetária. O observador,  Charles Messier, encontrou um objecto nebular que catalogou como M27,  hoje conhecida como Dumbbell Nebula (Nebulosa dos Halteres, Figura 1).  Esta observação foi seguida por aquela da Nebulosa do Anel (M57, Figura  2), em 1779, por Antoine Darquier. Este último descreveu a Nebulosa do  Anel como "pouco brilhante, mas com contornos bem definidos... é tão  grande quanto Júpiter, parecendo-se com um planeta ténue".  O termo  "nebulosa planetária" (NP) foi-lhes atribuído por William Herschel,  dadas as suas similaridades com os discos esverdeados de planetas como  Úrano e Neptuno, assim separando-as das nebulosas brancas formadas por  estrelas, ou seja, das galáxias.  
 
 
Figura 2: A Ring Nebula (Nebulosa do Anel, M57), um dos objectos  celestes mais fotografados. Suas cascas mais externas definem um tamanho  de 3,8 minutos de arco (aqui o azul representa a linha de emissão  [OIII] e o vermelho [NII]+Hα).
Imagem obtida com o telescópio de 2.56m  NOT (situado no Observatorio del Roque de los Muchachos). Crédito: The  IAC Morphological Catalog of Northern Galactic Planetary Nebulae  (Manchado et al. 1996).
   
Em suma, quando se observa uma NP com baixa resolução espacial,  esta parece redonda e poderia assemelhar-se a um planeta, daí este nome  tão equivocado. Por outro lado, quando observada com grande resolução  espacial, vê-se claramente que estas são constituídas por muitas e  variadas estruturas. Estas estruturas (tanto de grande quanto de pequena  escala) são o foco do estudo que faremos sobre nebulosas planetárias ao  longo deste mês.
Mas, o que são estas estruturas? A Nebulosa do  Olho de Gato, por exemplo, situada na constelação do Dragão, compõem-se  de uma grande variedade de estruturas simétricas, as quais incluem: um  halo filamentar extenso; vários anéis concêntricos; um par de jactos e  um complexo conjunto de cascas no seu núcleo (NGC 6543, Figura 3). 
Em particular, e para que comecemos a ter em mente algumas das  características destas nebulosas, o conjunto de cascas nebulares no  coração de NGC 6543 tem uns 1.000 anos de idade. Contornando este núcleo  encontram-se uma série de anéis concêntricos (em azul), cada um destes  anéis está no limite de uma bolha de gás, em expansão, expulsada pela  estrela central em intervalos regulares de uns 1.500 anos, sendo que o  primeiro ocorreu há uns 18.000 anos atrás. Já os filamentos mais  externos (verdes) datam, no máximo, de há uns 60.000 anos. A massa do  material estelar desta nebulosa deve ser similar à massa do Sol.  
Figura 3:  NGC 6543, a Cat`s Eye Nebula (Nebulosa do Olho do  Gato), obtida com o  telescópio de 2.56m NOT, por R. Corradi e D. R. Gonçalves (em 2002). A  imagem, capta a emissão em [NII] (vermelho) e em [OIII] (verde e azul). 
A dimensão da imagem é de 3,2 x 3 minutos de arco. O processamento da  imagem destaca detalhes da parte interna brilhante revelando  simultaneamente os ténues anéis concêntricos e o halo filamentar.  
Apesar do facto de que especialistas têm dedicado  muita atenção às nebulosas planetárias, e também às suas múltiplas  estruturas, a complexidade dos detalhes que encontramos nestes objectos  continua surpreendendo. Por exemplo, no caso de NGC 6543, que informação  sacamos dos filamentos externos? Depois de expulsar séries de bolhas de  gás, de forma concêntrica, que efeitos provocaram a ejecção do conjunto  de cascas do coração da nebulosa? Que mecanismo é responsável pelos  misteriosos jactos que parecem sair dos dois extremos dos arcos  elípticos (amarelo brilhante) que rodeiam as cascas (vermelhas) no  núcleo da nebulosa? 
 
 
Figura 4: Esquema da vida de uma estrela do tipo solar (adaptação  da Figura 7.2 de "Cosmic Butterflies - The Colorful Misteries of  Planetary Nebulae" de S. Kwok).
   
Já sabemos que as nebulosas planetárias originam-se no final da  vida de estrelas com massas similares àquela do Sol. Agora queremos  entender seu processo de formação, ou seja: o que faz com que estas  estrelas se transformem em nebulosas planetárias? 
O esquema da Figura 4, nos ajudará a responder esta questão.  Este diagrama representa a vida das estrelas do tipo solar (proposto por  B. Paczynski em 1970). No princípio (canto inferior direito do  diagrama) a luminosidade destas estrelas resulta da queima de hidrogénio  no núcleo  -o que origina o hélio que também entrará em combustão.  Estas estrelas passam a maior parte de suas vidas nesta fase de queima  nuclear de hidrogénio - quase 10.000 milhões de anos. Quando se acaba o  hidrogénio do núcleo, a estrela se expande, transformando-se numa  gigante vermelha, ao mesmo tempo que o seu núcleo se contrai. Nesta fase  a energia da estrela vem da queima do hidrogénio, não no núcleo, mas  numa camada mais externa. Como consequência do facto de que o núcleo se  contrai ainda mais, o hélio volta a ser queimado no núcleo e a estrela  experimenta mais uma fase de expansão nas camadas externas. Quando a  estrela entra no ramo assimptótico das gigantes (AGB) o seu núcleo já  não queima hidrogénio nem hélio, e compõe-se do que sobrou das  combustões anteriores, ou seja, de carbono e oxigénio. Nesta fase, e por  um período de aproximadamente 1 milhão de anos, a estrela continuará  seu processo de expansão, ao mesmo tempo que sua luminosidade crescerá,  alçando valores de umas 1.000 vezes a luminosidade do Sol.  Os ventos  estrelares presentes nesta e nas fases imediatamente posteriores das  estrelas do tipo solar (ou seja os ventos que ocorrem numa AGB  -culminando na expulsão da nebulosa- e numa pós-AGB, englobando as fases  AGB, proto planetária e nebulosa planetária, ver esquema) gradualmente  expulsam o gás de hidrogénio das camadas mais externas, deixando exposto  o núcleo quente. O que sobra dos ventos estelares é a própria nebulosa  planetária. Assim, aquela que denominamos a estrela central de uma  nebulosa planetária é justamente a estrela da qual estivemos  "acompanhando" a evolução. Quando cessa a combustão do hidrogénio nas  camadas externas, a estrela perde seu  brilho e transforma-se em uma anã  branca. 
Em síntese,  as estrelas do tipo solar,  quando chegam às fases  finais de suas vidas, expelem grande parte do gás da sua atmosfera, pelo  menos em dois episódios distintos de perda de massa. Primeiro, devido   ao vento lento de uma estrela no ramo assimptótico das gigantes  (ou  estrela AGB), cuja velocidade típica é da ordem de 10 km/s, com uma taxa  de perda de massa de 10
-5 M
sol/ano. E depois,  através do vento rápido, expelido durante a fase imediatamente posterior  da estrela central (ou seja, no vento de uma pós-AGB), caracterizado  por 10
-7 M
sol/ano e que alcança uma velocidade de  até 2.000 km/s. Aqui vale ressaltar que a  mais importante das  características destes ventos é que eles ocorrem durante o último milhão  de anos, de estrelas que vivem, tipicamente, 10.000 milhões de anos. 
 
 
Figura 5: Esquema da interacção dos ventos estelares que dão  origem às nebulosas planetárias (adaptação da Figura 7 de S. Kwok (1994,  PASP, 106, 344).
   
A teoria mais aceite para a formação das nebulosas planetárias  (NP) é ainda mais recente, proposta por S. Kwok, C. Purton e P.  Fitzgerald em 1978 (ver Figura 5). Esta teoria diz que estas são o  resultado da interacção dos dois ventos estelares que estamos  discutindo: da AGB e da pós-AGB. Seguindo o raciocínio do parágrafo  anterior -na fase em que o núcleo da estrela fica exposto- o vento  estelar rápido, procedente deste núcleo quente e compacto, varre o  material expelido previamente, dando forma à nebulosa. O invólucro desta  nebulosa, sua casca, expande-se a uma velocidade de aproximadamente 25  km/s (velocidade esta intermédia entre aquelas dos ventos que precedem e  dão origem à NP), é mais denso do que estes ventos estelares, tem  temperaturas da ordem de 10.000 K e dura mais ou menos 30.000 anos.  Esquematicamente (Figura 5), vê-se claramente como se dá este processo  de formação. Ou seja, o gás do vento rápido (pós-AGB), ao expandir-se  sobre o material do vento lento (AGB), forma uma frente de choque. Na  região mais interna o limite desta frente de choque é o próprio vento  rápido, enquanto que o choque externo está delimitado por uma casca  densa (devido à acumulação do material varrido pelo vento rápido) que,  quando observada no óptico, é a componente mais brilhante de uma  nebulosa planetária. Entre os choques interno e externo, encontra-se a  bolha quente (somente observável em raios-X). E, por último, o halo  compõem-se pelo que resta do vento AGB, e devido à sua baixa densidade  quando comparado com a casca, é o componente menos brilhante das NP nas  imagens ópticas (ver Figuras 1, 2 e 3).  
Toda a explicação do parágrafo anterior diz respeito aos  aspectos dinâmicos da formação das NP. Mas, qual é a fonte de sua  energia, ou equivalentemente, qual é a fonte do seu brilho? As nebulosas  planetárias brilham porque os fotões energéticos (fotões ultravioleta)  da estrela central "iluminam" suas cascas e halos, fazendo com que o  gás, inicialmente neutro, se ionize e emita a radiação que observamos.  
As ideias expostas acima são capazes de explicar  satisfatoriamente a formação das NP, não só daquelas esféricas, mas  também daquelas cuja casca tem forma elíptica, bipolar, ou com simetria  de ponto. Tais ideias também dão conta das propriedades físicas  (temperaturas e densidades) e cinemáticas das NP, pelo menos no que diz  respeito às suas macro estruturas (cascas e halos). Há, por outro lado,  outras componentes das NP que não entendemos tão bem -as suas micro  estruturas- cujas características, quando comparadas àquelas das macro  estruturas, serão estudadas nos próximos capítulos.

Quanto tentamos identificar as estruturas das nebulosas planetárias  vemos que aquelas de maior escala são os halos, que em geral são  arredondados. Depois, em escalas intermédas, aparecem as cascas, que  podem ser redondas, elípticas, bipolares, com simetria de ponto ou  irregulares. Em escalas muito menores, existe uma série de micro  estruturas que apresentam morfologias tão variadas como nódulos,  filamentos e jactos. A Figura 6 apresenta um esquema das várias  estruturas (componentes) das nebulosas planetárias -tanto em grande  quanto em pequena escala- e na Figura 7 apresentamos algumas imagens de  NP que contêm tais micro estruturas.  
Figura 6a - Classificação morfológica das cascas das nebulosas  planetárias.   
Como mencionado anteriormente, as cascas das NP têm  origem na interacção dos ventos. Os halos, por outro lado,  provavelmente são compostos pelo gás expulso durante as fases activas da  evolução estelar anteriores à compressão da nebulosa (ou seja, por  restos do vento lento da AGB). Este gás está, agora, sendo iluminado  pelos fotões altamente energéticos da estrela quente, ou seja, da  estrela central da nebulosa planetária.  
Figura 6b - Simulações numéricas de García-Segura e López (2000),  mostrando os diferentes tipos morfológicos de nebulosas planetárias, em  alguns casos contendo micro estruturas. Em verde vemos a emissão  fotoionizada e em vermelho aquela excitada por choques.   
Muitas micro estruturas estão sendo descobertas  graças ao uso de telescópios capazes de obter imagens de alta resolução  espacial. Por exemplo, as estruturas de pequena escala podem ser  facilmente estudadas com o Hubble Space Telescope. Porém outras micro  estruturas, como os "ansae" de NGC 7009 (ver Figura 7), são conhecidos  já há muito tempo (descobertos por L. Aller em 1936). Recentemente, tais  estruturas foram baptizadas com acrónimos como FLIERs (fast,  low-ionization emission regions; regiões de emissão rápidas e de baixa  ionização), por Balick e colaboradores em 1993; ou BRETs (bipolar,  rotating, episodic jets; jactos bipolares episódicos e em rotação); por  López e colaboradores em 1995. O interessante deste tipo de acrónimos é  que são capazes de descrever algumas das características físicas destas  estruturas. 
Figura 6c - Esquema dos diferentes tipos de micro estruturas,  vistas em pares simétricos ou isoladas com respeito à estrela central.   
As micro estruturas têm uma grande variedade de  aparências e, além disso, podem deslocar-se com a mesma velocidade do  meio que as circunda ou viajar de forma peculiar, ou seja, com  velocidades diferenciadas daquela do ambiente. Há três anos  desenvolvemos uma classificação detalhada das estruturas de pequena  escala das nebulosas planetárias (D.R. Gonçalves, R. Corradi e A.  Mampaso, 2001). Neste trabalho relacionamos, pela primeira vez, todas as  nebulosas planetárias (umas 50) com  micro estruturas, considerando  seus tipos morfológicos e cinemáticos, bem como os processos físicos  propostos para sua formação (ver 
http://www.iac.es/galeria/denise/  onde se  encontra, actualizada, a lista completa destas NP). 
Figura 7a - Pares de Jactos (à esquerda) e  Pares de Estruturas Similares a Jactos (à direita). 
Créditos: imagens  obtidas com o filtro F555W de NGC 3918, arquivo do Hubble Space  Telescope; NGC 7009, Balick et al. (1998); restantes, adaptadas de uma  série de artigos publicados por Corradi et al. entre 1997 e 2000, como resultado dos estudos do Grupo de Nebulosas Bipolares do Instituto de Astrofísica de Canárias.  Estas foram obtidas em diferentes telescópios, e maioritariamente com a  luz do oxigénio duas vezes ionizado ([OIII]) e do nitrogénio uma vez  ionizado  ([NII]).    
Figura 7b - Nódulos ou filamentos em Pares (à esquerda) e Nódulos  ou Filamentos Isolados (à direita).  
 Créditos: imagens obtidas com o  filtro F555W de NGC 5882, arquivo do Hubble Space Telescope; NGC 6826 e  NGC 7662, Balick et al. (1998); NGC 2440 López et al. (1998); restantes,  adaptadas de uma série de artigos publicados por Corradi et al. entre 1997 e 2000, como resultado dos estudos do Grupo de Nebulosas Bipolares do Instituto de Astrofísica de Canárias.  Estas foram obtidas em diferentes telescópios, e maioritariamente com a  luz do oxigénio duas vezes ionizado ([OIII]) e do nitrogénio uma vez  ionizado  ([NII]).    
classificamos as micro estruturas como: i)  nódulos ou filamentos em pares simétricos; ii) pares de jactos; iii)  pares de estruturas similares a jactos; e iv) nódulos ou filamentos  isolados. Os  pares de nódulos ou filamentos e aqueles isolados, podem  viajar com velocidades maiores ou iguais às velocidades do meio no qual  estão inseridos. Em particular, a característica que diferencia os  jactos das estruturas similares a jactos é o fato de que os pares de  jactos expandem-se supersonicamente, ou seja com velocidades maiores do  que aquela do meio. Ao contrário, os pares de estruturas similares a  jactos deslocam-se com a mesma velocidade que o meio -ver Figura 7 onde  se encontram exemplos de todas as classes de micro estruturas. Além de  outros resultados que obtivemos deste estudo, e que estudaremos na  próximo capítulo, demonstramos, que as micro estruturas aparecem  indistintamente em todos as diferentes classes morfológicas das NP, o  que sugere que os processos que culminam na formação das micro  estruturas não estão, necessariamente, relacionados àqueles que dão  origem às distintas morfologias das nebulosas

 
 
Figura 8 : Parte interna de NGC 6543. Aqui vemos uma imagem em  nitrogénio uma vez ionizado das estruturas internas da nebulosa. O par  de jactos é a estrutura mais externa da imagem, que está orientada na  direcção Norte-Sul. Crédito: D.R. Gonçalves & R. Corradi (2002).
   
Analisando a parte central da nebulosa do Olho do Gato (NGC 6543)   - vide Figuras 3 e 8 - vemos claramente que o par de jactos constitui  uma entidade separada do núcleo da nebulosa. De facto, as micro  estruturas das nebulosas planetárias habitualmente mostram-se como  entidades bem diferenciadas do resto das componentes da nebulosa, não só  do ponto de vista morfológico, mas também em termos da luz que emitem.  As cascas e os halos brilham, principalmente, na linha de emissão do  oxigénio duas vez ionizado ([OIII], verde e azul na Figura 3), enquanto  que as micro estruturas são muito mais brilhantes na linha de emissão do  nitrogénio uma vez ionizado ([NII], vermelho na Figura 3) e do oxigénio  uma vez ionizado ([OII]). Devido a esta propriedade, as micro  estruturas também são conhecidas como estruturas de baixa ionização  (LIS, ver Figura 7a e 7b).    
Conforme comentámos no capítulo anterior, todas as nebulosas  planetárias com micro estruturas foram reunidas e, pela primeira vez,  classificadas, num trabalho que publicámos recentemente Gonçalves et al.  (2001). Nele considerámos tanto os aspectos morfológicos quanto os  cinemáticos destas, em contraste com os mesmos aspectos observacionais  das nebulosas hospedeiras. Além disto, e nisto reside o principal  objectivo desta compilação de dados, contrastamos as previsões de todos  os modelos teóricos propostos para a formação das estruturas de pequena  escala em NP, com  suas características observacionais.  
Esta detalhada análise das micro estruturas permitiu-nos  descartar claramente alguns dos mecanismos propostos para explicar a  origem de diferentes tipos de LIS. Demonstrámos que tanto as velocidades  observadas quanto a localização das estruturas isoladas podem ser  razoavelmente bem explicadas por condensações originadas no vento lento -  ou seja, prévias à compressão da nebulosa propriamente dita -  ou por  instabilidades locais.  
Os modelos para a formação de jactos, propostos até então  (interacção dos ventos estudados no cap. 2, com ou sem a inclusão de  efeitos magnéticos, e considerando a estrela central única ou parte de  um sistema binário) nem sempre são capazes de explicar algumas  propriedades básicas dos jactos observados, como suas idades cinemáticas  e o ângulo entre o jacto e os eixos de simetria da nebulosa planetária. 
Verificámos, também, que os pares de estruturas similares a  jactos, caracterizados por velocidades de expansão relativamente baixas  (parecidas àquelas do meio no qual se encontram, ou seja, as cascas e os  halos das nebulosas planetárias) não podem ser explicadas por nenhum  dos modelos existentes. 
Os nódulos que aparecem em pares simétricos e opostos, e com  baixas velocidades, poderiam ser entendidos como resultando da  sobrevivência de condensações (simétricas) formadas no vento lento (fase  AGB da estrela central), ou como estruturas que antes tiveram altas  velocidades, mas que foram sendo consideravelmente travadas pelo meio  circundante. 
Figura 9: NGC 7009, a Nebulosa de Saturno (Balick et al. 1998).  Este é um protótipo de nebulosa planetária contendo pares de jactos.  Note que esta NP está subdividida em muitas e diferentes estruturas: uma  casca elíptica grosseira orientada na direcção leste-oeste; dois pares  de nódulos, um interno e outro externo; e um par de jactos.  
Mais recentemente (Gonçalves et al. 2003),  finalizámos a análise das densidades, temperaturas, excitação e  composição química de NGC 7009 - a Nebulosa de Saturno -  cujos jactos  representam o protótipo de pares de jactos em NP (ver Figura 9).  Surpreendentemente, os nossos dados observacionais para os jactos e  pares de nódulos desta nebulosa não confirmam as densidades, excitações e  composições químicas previstas pelos modelos teóricos.  
Estes são resultados robustos, e sua importância radica no facto  de que nos dizem que não entendemos, em detalhe, nem mesmo as micro  estruturas melhor estudadas. Talvez estejamos interpretando erroneamente  a informação procedente dos dados observacionais (com respeito às suas  formas, velocidades, graus de excitação, composições químicas, etc) ou,  talvez, estejamos equivocando-nos quanto aos processos físicos que  poderiam explicar sua formação. No entanto, dado que estes processos  físicos são basicamente os mesmos que dão origem a outros tipos de  jactos astrofísicos (àqueles dos objectos estelares jovens, os jactos  extragalácticos, etc) e dado que o tipo de análise observacional que  empregamos para as micro estruturas é aquele usualmente utilizado para  as nebulosas planetárias, é óbvio que enfrentamos fenómenos bastante  complexos. Enfim, compreender como se formam e evoluem as micro  estruturas é muito relevante para o completo entendimento da evolução das estrelas  similares ao Sol que - como veremos no último capítulo deste estudo -  constituem quase a  totalidade das estrelas.
 
 
Figura 10. Nebulosa planetária K 4-47. Imagem obtida com o  Telescópio NOT (ver Corradi et al. 2000). 
   
Conforme discutimos no capítulo anterior, o nosso estudo sobre as  micro estruturas das nebulosas planetárias considera os aspectos  morfológicos e cinemáticos (Gonçalves et al. 2001) e também aqueles que  dizem respeito aos parâmetros físico-quimícos e de excitação (Gonçalves  et al. 2003). No entanto ainda existem dúvidas importantes a respeito da  época e dos mecanismos que resultam na formação das LIS. Nos últimos  meses estivemos estudando os jactos de NGC 7009 (Figura 9) e de K 4-47  (Figura 10; Gonçalves et al. 2004). Da comparação entre as propriedades  observadas nestas duas NP que contêm jactos -entre várias outras para as  quais a análise completa continua em andamento- acreditamos que outros  aspectos da sua origem, além daqueles estudados no capítulo "Jactos e  outras micro estruturas", começam a perfilar-se. 
O facto de que os jactos se deslocam com velocidades  supersónicas (consideravelmente superiores àquelas do meio que os  circunda) implica que a luz que emitem deve ser excitada por choques. De  facto isto ocorre com os jactos de outros objectos astronómicos como os  jactos extragalácticos, os quais são observados em quasares, rádio  galáxias etc, e também nos jactos dos objectos estelares jovens,  conhecidos como objectos Herbig-Haro. No caso das nebulosa planetárias, a  principal fonte de energia não é a excitação por choques e sim a  radiação oriunda da estrela central. Em outras palavras, quando dizemos  que a luz oriunda dos jactos é excitada por choques, nos referimos ao  facto de que esta tem origem, principalmente, na interacção de dois  gases cuja velocidade relativa é supersónica. Por outro lado, quando a  luz que observamos tem origem na interacção entre a radiação (nas NP,  fotões energéticos da estrela central) com o gás que a rodeia, dizemos  que esta emissão foi excitada por radiação, ou seja, luz fotoionizada.  Esta é a razão da diferenciação, em termos de cores, das nebulosas  simuladas por García-Segura & López (2000) na Figura 6b. Nesta  Figura vê-se claramente que as micro estruturas devem emitir luz  excitada por choques. 
Neste aspecto reside a principal diferença entre os jactos e  pares de nódulos de NGC 7009 e de K 4-47. Na primeira jactos e nódulos  possuem emissão fotoionizada e, na segunda, estes são excitados por  choques. Assim, pelo menos em princípio, os resultados observacionais de  NGC 7009 contrariam os estudos teóricos, enquanto K 4-47 ratifica estes  mesmos estudos. Como entender esta aparente contradição? 
Numa revisão sobre micro estruturas em NP (Gonçalves 2003)  sugerimos que a solução para este impasse possa estar relacionada com a  fase de evolução (idade) destas nebulosas. Conforme visto anteriormente  uma nebulosa planetária nasce da interacção dos ventos da estrela  progenitora, AGB e pós-AGB. A partir da fase entre aquela na qual a  estrela se encontra no Ramo  Assimptótico das Gigantes e da nebulosa planetária propriamente dita  -conhecida  como Proto Nebulosa Planetária- e até que a nebulosa desapareça  (dissolva-se no  meio interestelar) passam-se mais ou menos 30.000 anos. No início da  fase nebulosa planetária, quando parte das suas estruturas ainda não  foram atingidas pelos fotões UV da estrela central, a probabilidade de  observar estruturas essencialmente excitadas por choques é muito mais  alta. Dado que as velocidades relativas entre os jactos e o meio  circundante numa nebulosa planetária (tipicamente entre 50 e 150 km/s)  nunca são tão altas como aquelas de jactos extragalácticos (entre poucos  milhares de km/s e aproximadamente a velocidade da luz), os choques nas  NP não são muito extremos, e por isto deixam de ser a principal fonte  de excitação da emissão observada a partir do momento em são atingidos  pela radiação da estrela central.   
Esta ideia não é completamente nova, já que outros autores como  Dopita (1997) e Miranda et al. (2000) também discutiram possível relação  idade versus principal mecanismo de excitação. A novidade é que estamos  comparando várias nebulosas com LIS numa tentativa de provar se esta  relação realmente existe ou não. Além do facto de os jactos/nódulos de  NGC 7009 e de K 4-47 serem opostos em termos de excitação, a primeira  destas nebulosas parece ser mais evoluida do que a segunda (vide  Gonçalves 2003). Enfim, há evidências de que os estudos teóricos estejam  correctos ao predizer que jactos e nódulos de alta velocidade devem  emitir luz excitada por choques, o que efectivamente se observa em  nebulosas como K 4-47. Por outro lado, estes estudos não consideram a  completa evolução das nebulosas com LIS, e por isto não incluem a acção  da radiação da estrela central nas estruturas previamente excitadas por  choques. Tudo indica que caso se considerasse estes dois tipos de  excitação nos modelos teóricos, o resultado seria que nebulosas mais  jovens teriam jactos essencialmente excitados por choques e que  nebulosas mais evoluídas teriam jactos principalmente fotoionizados,  como no caso de NGC 7009.  
Somente muito recentemente, nos últimos 5 anos, este e outros  aspectos básicos da origem e evolução das micro estruturas começaram a  ser  entendidos. Ou seja, conhecemos -relativamente bem- as principais   características e mecanismos de formação e evolução das nebulosas  planetárias. No entanto o nosso conhecimento sobre os detalhes destas  belas criaturas -as micro estruturas- é ainda muito precário. Sabemos  que 95% de todas as estrelas converter-se-ão em nebulosas planetárias, o  que equivale a dizer nebulosas planetárias são o destino final da  maioria das estrelas. Justifica-se, então, todo o esforço que vem sendo  empregue em "descobrir" em detalhe os processos físicos "escondidos"  nestas fabulosas estruturas.
 Fonte: PORTAL DO ASTRÔNOMO - Portugal
Autoria: 
Denise R. Gonçalves
Instituto de Astrofísica de Canárias - Tenerife, Espanha.
 


