 
João Steiner, professor do IAG-USP, faz uma reflexão sobre os avanços da pesquisa científica na astrofísica de buracos negros 
O fator buraco negro
     
11/05/2011
     
Por Mônica Pileggi
 
Agência FAPESP – O que surgiu primeiro, os buracos negros ou  as galáxias? Esta é a pergunta que João Evangelista Steiner, professor  do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da  Universidade de São Paulo (USP) procurou responder na palestra “Buracos  negros: sementes ou cemitérios de galáxias?”.
 
No encontro realizado no dia 5, o coordenador do 
Instituto Nacional Avançado de Astrofísica – um dos 
INCTs  apoiados em São Paulo pela FAPESP e pelo CNPq –, destacou os avanços  nos últimos dez anos na área, como a confirmação da existência de um  buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, a medida do momento  angular dos buracos negros estelares e supermassivos e o paradigma da  coevolução entre galáxias e buracos negros.
De modo geral, buracos negros são objetos espaciais compactados cuja  superfície possui aceleração infinita, tornando-a irresistível.
Devido a  esse fenômeno, toda matéria próxima a um buraco negro é capturada.
 
“Até mesmo a luz próxima é capturada. O espectador não enxerga nada,  pois a matéria (gás) ou qualquer outro tipo de informação produzida  dentro dele não consegue escapar à superfície de singularidade de  aceleração. Para quem o vê de fora, o objeto é um buraco negro, onde  tudo entra e nada sai”, exemplificou Steiner.
 
Atualmente, os buracos negros são divididos em duas categorias:  estelares e supermassivos. Na primeira, são alimentados por uma estrela  vizinha. “Como esses fenômenos galácticos não emitem qualquer tipo de  luz, a medição do espectro só é possível quando se encontra em um  sistema binário, isto é, quando há uma estrela companheira. Nesse caso, o  buraco negro suga a matéria dela”, disse à Agência FAPESP. 
 
O primeiro objeto encontrado na Via Láctea com essa característica  foi uma fonte, confirmada em 1973, de raios X denominada Cygnus X-1.  “Ela se mostrou tão densa que ou poderia ser um uma estrela de nêutrons –  aquelas cuja densidade pode chegar a 10 trilhões de vezes a da água [que tem 1g/cm3]  e estão associadas a explosões de supernovas – ou um buraco negro. Mas,  ao medir sua massa, os cientistas observaram que era algo muito maior  do que uma estrela de nêutrons”, contou.
 
Os buracos negros estelares têm entre 5 e 20 vezes a massa do Sol e  são originados pela explosão de uma estrela. Estima-se que a temperatura  atinja em torno de 100 milhões a 1 bilhão de graus Kelvin, devido ao  processo de transformação de energia potencial gravitacional em térmica  e, finalmente, luminosa.
 
Dos bilhões de estrelas na Via Láctea, calcula-se que existam cerca  de 10 milhões de buracos negros estelares. Até agora, os cientistas  conseguiram identificar apenas 20. “Se eles não estiverem em sistema  binário, não teremos nem como observá-los”, disse Steiner.
 
Evidências da outra categoria, os supermassivos, surgiram na mesma  época dos estelares. Os buracos negros supermassivos podem chegar a 4  bilhões de vezes a massa do Sol e estão sempre localizados no centro de  galáxias devido à gravidade.
 
“A ideia dos supermassivos surgiu com a descoberta dos quasares,  objetos extremamente luminosos e compactos, capazes de brilhar mais que  uma galáxia inteira, mas com o volume de um sistema solar”, pontuou  Steiner. Já foram identificadas e calculadas as massas de 50 buracos  negros desse tipo.
 
Entre os avanços da década na astrofísica dos buracos negros citados  por Steiner, o mais recente é a medição do momento angular, ou seja, o  quanto ele gira em torno do próprio eixo. “Medir o momento angular é  ainda mais difícil do que calcular a massa desses fenômenos galácticos”,  disse.
 
De todos os buracos negros conhecidos, de ambas as categorias,  sabe-se o momento angular de apenas 13 deles, sendo oito estelares e  cinco supermassivos. “Quase todos giram com velocidade máxima, ou seja,  têm o momento angular próximo de 1. Apenas um deles apresentou resultado  inferior a 0,5”, disse.
 
Quasar adormecido e coevolução
 
De acordo com o professor do IAG-USP, há anos se especulava sobre a  existência de um buraco negro supermassivo desativado no centro da Via  Láctea. “Se ela tivesse um buraco negro capturando gás, seria facilmente  visível, pois ele estaria produzindo uma grande quantidade de energia  que poderia ser observada. Mas isso não ocorre”, destacou.
 
Para Steiner, essa característica física se configura num quasar  morto e que justifica o motivo pelo qual outros buracos negros  supermassivos ainda não foram identificados.
 
A confirmação desse objeto desativado veio em 2002 com a publicação  de um estudo da órbita de uma estrela vizinha. O objeto escuro, que  possui 4 milhões de massas solares, foi observado por um grupo de  cientistas durante 15 anos. “Cedo ou tarde, uma das estrelas que giram  em torno desse objeto irá colidir e liberar gás suficiente para libertar  o quasar”, disse.
 
Outra descoberta recente da astrofísica dos buracos negros é o  paradigma sobre a evolução desses fenômenos, que explica por que todas  as galáxias têm um buraco negro em seu centro.
 
Steiner explicou que existe uma correlação entre a massa do buraco  negro e a massa da galáxia que o hospeda. A galáxia sempre tem 500 vezes  mais massa do que seu buraco negro. “Essa é a regra. O buraco negro  determina a evolução da galáxia e vice-versa. Ambos coevoluiram desde o  Big Bang”, disse.
 O astrofísico destacou que se não existissem os buracos negros as  galáxias não existiriam ou elas não teriam as configurações que  conhecemos hoje. “Para compreender o Universo, temos que levar em  consideração o fator buraco negro. Ele tem um papel fundamental e é esse  o paradigma da coevolução”, disse. 
Senhora "disse"  Mônica Pileggi
Nasa e divulgação 
 Sejam felizes todos os seres  Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.