Nos últimos anos do século XIX foi identificada a carga eléctrica elementar, designada por 
electrão.  A corrente eléctrica é assim constituída por vários electrões que se  deslocam ao longo do fio condutor e quando um corpo está carregado  electricamente, a sua carga é sempre um múltiplo inteiro da carga  elementar do electrão. Dito por outras palavras: Não é possível partir o  electrão em pedaços cabendo a cada um uma fracção da sua carga  eléctrica.
 
 
Ferro em brasa
Todos  os que já viram um ferro muito quente, aquilo que vulgarmente se  designa por um ferro em brasa, puderam constatar que emite luz.
 Primeiro  emite uma luz avermelhada, depois, se continuarmos a aquecer, a luz  torna-se mais alaranjada, aquecendo ainda mais, a luz emitida é mais  branca, chegando mesmo a ficar azulada. 
Esta relação entre a temperatura  de um corpo e a cor da radiação emitida é uma propriedade de todos os  corpos. O corpo humano emite radiação no domínio do infravermelho, ao  qual os nossos olhos não são sensíveis, mas que pode ser detectada com  sensores apropriados. Os óculos de visão nocturna usados pelos soldados  americanos no Golfo são um uso deste princípio.
Recordemos agora  que a luz que os nossos olhos vêem é uma pequena porção de uma  infinidade de outras luzes que não vemos. A cada cor que vemos  corresponde uma certa frequência 
ω e um certo comprimento de onda 
λ.  Estas duas grandezas não são independentes, antes pelo contrário, o seu  produto é uma constante universal, a velocidade de propagação da luz no  vácuo, 
c, ou seja:
ωλ = 2πc 
No  espectro visível, o vermelho é a cor a que corresponde a menor  frequência e o violeta a que corresponde a maior frequência. Para além  do violeta temos o ultravioleta que é bem conhecido dos amantes da  praia, pois é imprescindível proteger a pele dos seus efeitos  potencialmente cancerígenos. Continuando a caminhar no sentido de luz  com frequências cada vez maior passamos ao domínio dos raios X e  posteriormente dos raios gama, usados na terapia de certas formas de  cancro.
No lado do vermelho e agora com frequências cada vez menores  temos o infravermelho, usado, por exemplo, nos comandos das televisões, e  as ondas de rádio. Nestas últimas, nas chamadas ondas longas,  utilizadas em comunicações marítimas, o comprimento de onda é da ordem  dos km. Por contraste, à cor amarela corresponde um comprimento de onda  de cerca de 5×10
-7 m e a radiação gama tem comprimentos de onda inferiores a 10
-12 m.
 
 
Espectro da radiação electromagnética. 
Radiação do Corpo Negro
Para  estudar esta relação entre a temperatura e o espectro da luz emitida, o  melhor é construir um forno especial, constituído por uma cavidade  aquecida, cheia de radiação a essa temperatura e isolada do exterior. Na  figura seguinte mostra-se o espectro de um forno destes à temperatura  de 5000 K.
 
 
Espectro radiação do corpo negro a 5000 K.
O  gráfico dá a densidade de energia, isto é, a energia por unidade de  volume da cavidade, em função do comprimento de onda da radiação. Como  se pode verificar, a esta temperatura o máximo da curva está na região  do visível, mas também existe luz com maiores e menores comprimentos de  onda. Se arrefecermos o forno o máximo desloca-se para a direita e  afasta-se portanto da zona visível.
No final do século XIX  conheciam-se bem as leis da Termodinâmica e, depois dos trabalhos de  Maxwell, sabia-se que a luz era composta por ondas electromagnéticas.  Era então possível calcular a densidade de energia no interior do forno e  comparar com a experiência. O resultado foi surpreendente: – Na região  dos grandes comprimentos de onda, a teoria concordava com a experiência,  mas esta concordância era cada vez pior à medida que se comparavam as  densidades de energia para comprimentos de onda menores. Esta afirmação  está bem documentada na figura acima, na linha a tracejado. Este  desacordo é tão notório que, na época, ficou conhecido com o nome de  catástrofe dos ultravioletas.
Olhando para o gráfico, verifica-se que a  curva a tracejado cresce sempre no sentido dos menores comprimentos de  onda, o que significaria que a densidade de energia correspondente a luz  com menores comprimentos de onda aumentaria progressivamente.  Densidades de energia cada vez maiores correspondem a luz com  comprimentos de onda cada vez menores.
A densidade de energia é a  energia em cada centímetro cúbico da cavidade. Se esta densidade  aumentasse sem limite, a energia no volume total do forno seria  infinita, o que é evidentemente um absurdo.
 
 
Onda electromagnética.
O  que está mal neste cálculo? Essencialmente, a teoria admitia que os  átomos das paredes do forno funcionavam como pequenas antenas que  emitiam e absorviam a radiação. Quando a cavidade estava em equilíbrio  térmico, estas ondas eram estacionárias.
 
 
Onda estacionária.
Para  explicar este conceito, imagine uma corda fixa num extremo. Pegue na  outra extremidade e agite a corda de modo a criar uma onda que se irá  propagar ao longo da corda. Ao atingir a outra extremidade, a onda  reflecte-se, volta para trás e interfere com a primeira. Desta  interferência pode nascer uma onda estacionária quando, apesar da corda  continuar a vibrar, os pontos de amplitude máxima e mínima permanecerem  nos mesmos locais. Se uma corda fixa nas duas extremidades tiver um  metro de comprimento, podemos gerar uma onda estacionária com 
λ = 2 m, cf. a figura, e considere que o outro extremo é o segundo ponto vermelho.
Podemos  agora explicar qualitativamente porque falhava a teoria. Com  comprimentos de onda grandes só era possível ter ondas estacionárias  entre alguns pontos da parede da cavidade, tal como na corda do exemplo  anterior. Contudo, para comprimentos de onda cada vez mais pequenos, é  cada vez mais fácil encontrar pontos entre os quais se podem estabelecer  ondas estacionárias. Não havendo nenhum limite, isto é, quando o  comprimento de onda tende para zero, tende para infinito o número de  possibilidades de encher a cavidade. Esta cavidade cheia com um número  infinito de ondas teria então uma energia infinita.
 
 
Max Planck (1858 - 1947) 
A  saída para este problema foi encontrada, no Outono de 1900, por um  professor de Física da Universidade de Berlim chamado Max Planck. Planck  postulou que a luz, tal como a electricidade, também tinha uma  quantidade elementar, posteriormente designada por 
fotão. Assim, se tivermos uma cavidade com energia total 
Et cheia com luz monocromática, de apenas uma frequência 
ω, ela terá um número inteiro, 
N, de fotões e cada qual tem energia 
ħω. Assim temos:
Et = Nħω 
onde 
ħ é a constante de Planck, 
h dividida por 2
π.
Com  esta hipótese Planck foi capaz de calcular a distribuição da energia no  interior da cavidade e reproduzir exactamente os resultados  experimentais. Essa distribuição é uma partição da energia total pelos  fotões que correspondem a cada frequência do espectro. Nos pequenos  comprimentos de onda a que, como já vimos, correspondem grandes  frequências, cada fotão tem cada vez mais energia.
Assim, para  transportar a mesma quantidade de energia, precisamos de cada um número  vez menor de fotões. Logo os ultravioletas, que os nossos olhos não  vêem, correspondem a fotões mais energéticos do que os do visível. Por  esse facto penetram na pele e podem alterar as nossas células. Com maior  facilidade estas alterações são conseguidas com raios X e mais ainda  com radiação gama, a que correspondem fotões ainda mais energéticos.  Aliás, o seu uso terapêutico é justamente a destruição de determinadas  células.
Difracção
Quando um feixe luminoso  atravessa um orifício, se as dimensões deste forem da mesma ordem de  grandeza do comprimento de onda, o feixe alarga e vai também para os  lados, i.e., ocorre 
difracção. Basta olhar de noite para a luz de  um candeeiro e ir fechando progressivamente os olhos. Verifica-se que,  quando estes estiverem quase fechados, ver-se-á o candeeiro maior. Este  aumento é justamente devido à dispersão da luz. Imaginemos agora que  fazemos incidir um feixe luminoso monocromático num alvo, opaco, no qual  existem dois orifícios com a mesma dimensão e da ordem do comprimento  de onda da luz.
Se apenas um dos orifícios estiver aberto, já sabemos o  que acontece: – Num segundo alvo, colocado a uma certa distância do  primeiro, e paralelo a ele, aparece uma mancha luminosa cujas dimensões  são maiores do que as do orifício. Contudo, se deixarmos os dois  orifícios simultaneamente abertos, o que obtemos são riscas  alternadamente claras e escuras. Em particular, no ponto que corresponde  à posição média entre os dois orifícios, existe uma mancha luminosa e à  sua direita e à sua esquerda temos duas zonas escuras. Este fenómeno  chama-se 
interferência.
 
 
Experiência da dupla fenda em duas dimensões.
A  verificação experimental da sua existência, feita em 1801 por Thomas  Young, fez abandonar a antiga teoria corpuscular da luz de Newton em  favor da teoria ondulatória. Com efeito, a interferência é fácil de  explicar com ondas. A zona clara central está à mesma distância de ambos  os orifícios e, portanto, as duas ondas aí interferem construtivamente,  as cristas das duas ondas chegam ao mesmo tempo e reforçam-se. Mas, um  pouco mais à direita ou à esquerda, uma das ondas tem que percorrer uma  distância ligeiramente maior do que a outra e esta pequena diferença faz  com que à crista da primeira onda se sobreponha agora a cava da  segunda, logo as duas ondas anulam-se e fica escuro.
No fim do  século XIX o Electromagnetismo tinha finalmente conseguido explicar que a  luz era composta por ondas electromagnéticas, pelo que a Óptica ficou  reduzida a um dos capítulos do electromagnetismo. Contudo, poucos meses  antes de nascer o novo século, Planck volta a introduzir a ideia de  corpúsculos de luz: – Os fotões.
O conceito de partícula ou  corpúsculo elementar forma-se a partir da observação de corpos com uma  dada dimensão. Foi assim que Demócrito na antiga Grécia apresentou a  hipótese atomista e nas suas palavras «
tudo o que existe são átomos e espaço vazio».
Sabemos hoje que os átomos estão longe de serem elementares, têm um  núcleo central com um certo tamanho, uma certa massa e determinada carga  eléctrica, positiva, e um número de electrões tal que o conjunto seja  electricamente neutro. Assim, enquanto que o átomo mais simples de  todos, o de hidrogénio, tem apenas um electrão, o de carbono tem seis, o  de oxigénio oito e o de chumbo tem oitenta e dois electrões. Agora  sabemos não só aquilo que distingue os átomos entre si, como também  compreendemos como se constroem moléculas combinando vários átomos.
 
 
Experiência da dupla-fenda em três dimensões.
Quanto  ao electrão, quando em 1897 J.J. Thomson descreveu as suas  características, apresentou-o como uma partícula. Fazendo experiências  sobre feixes de electrões, produzidos num dispositivo que pode ser  considerado como o precursor dos modernos tubos dos aparelhos de  televisão, determinou as suas energias, 
E, e os respectivos momentos lineares, 

. Em cada caso os valores obtidos obedeciam à relação:
em que a constante 
m é a massa do electrão.
Antes  de Planck parecia que tudo estava mais em ordem. A corrente eléctrica  era constituída por partículas, os electrões, todos com a mesma massa e  com energias variáveis consoante fosse maior ou menor o seu momento  linear, de acordo com a fórmula anterior. De notar ainda que o momento  linear é uma grandeza que de certa maneira está relacionada com a  energia, que todos sabemos estar associada ao movimento.
Em particular,  se o objecto estiver em repouso, terá 

= 0 e, nesse caso, a equação anterior reduz-se à célebre fórmula 
 E = mc².
Por outro lado, a luz era constituída por ondas. A cada cor corresponde uma certa frequência 
ω e um certo vector de onda 

. Tudo parecia em boa harmonia até que Planck relacionou esses dois mundos: à onda caracterizada por 
ω e 

correspondem fotões com energia 
E = ħω e momento linear 

. Pode-se verificar assim que,
onde a segunda igualdade a zero foi obtida recordando que 
c = λ / T. Desta
forma, ao calcular o primeiro membro da equação 

, acaba-se de provar que a massa dos fotões é nula.
 
 
Corpo negro 
Mas  então o tal forno a temperatura constante está cheio de ondas ou de  partículas? A conclusão, que está de acordo com a experiência, é que não  basta apenas um dos conceitos para explicar todas as propriedades da  luz.
Do mesmo modo, outro Thomson, desta feita George, filho do físico  que com tanta elegância demonstrou que os electrões eram partículas,  provou que eles, tal como os fotões, também se difractam, ao repetir com  electrões a experiência das duas fendas. Hoje todos sabemos que existem  microscópios electrónicos, isto é, microscópios que usam feixes de  electrões em vez de feixes luminosos. Em conclusão, fotões e electrões  comportam-se quer como ondas quer como partículas.