Átomo no espelho percorre dois caminhos simultaneamente
Experimento demonstra que o átomo na frente do espelho segue simultaneamente duas trajetórias no espaço - uma superposição de caminhos.[Imagem: Tuwien]
A imagem quântica no espelho
Ao se olhar em um espelho, você não terá dificuldade em distinguir entre o que é você mesmo e o que é sua imagem.
E a relação entre você e a imagem é unívoca: mexa-se e a imagem se mexerá; pare e a imagem parará. O inverso nunca acontecerá, ou seja, a imagem jamais afetará o seu próprio movimento.
Mas isto é no muitas vezes entediante mundo clássico - no mundo quântico, as coisas podem ser muito mais surpreendentes.
O simples fato de uma partícula "olhar no espelho" pode ser o suficiente para criar uma crise de identidade e tornar quase impossível a identificação positiva de quem é o sujeito e quem é o reflexo.
Em um feito impressionante, um grupo de físicos alemães e austríacos conseguiu realizar em laboratório o que até hoje era apenas um experimento mental, idealizado por Albert Einstein, e que mostra o quanto a imagem quântica no espelho pode afetar a partícula que se observa.
Seguindo por dois caminhos ao mesmo tempo
Quando um átomo emite luz (ou seja, um fóton) em uma direção particular, ele recua na direção oposta. Se o fóton for medido, fica-se conhecendo também o movimento do átomo.
Os cientistas então colocaram o átomo muito perto de um espelho. Neste caso, há dois caminhos possíveis para qualquer fóton que viaje rumo ao observador: ele pode ser emitido diretamente na direção do observador, ou ele pode viajar na direção oposta, refletir-se no espelho e então chegar ao olho do observador.
Se não houver nenhuma maneira de distinguir entre estes dois cenários - qual caminho o fóton realmente fez - não se consegue determinar o movimento do átomo, ou seja, qual é a rota do seu recuo realizado em razão da emissão do fóton.
Com isto, o átomo se move em uma superposição de dois caminhos - ele estaria seguindo, ao mesmo tempo, os dois caminhos, ou recuando nas duas direções simultaneamente.
"Se a distância entre o átomo e espelho é muito pequena, é fisicamente impossível fazer a distinção entre estes dois caminhos," explica Jiri Tomkovic, da Universidade de Heidelberg.
Observando a interferência gerada na rede óptica, pode-se demonstrar diretamente que o átomo de fato esteve viajando pelos dois caminhos ao mesmo tempo. [Imagem: Tomkovic et al./Nature]
Superposição quântica
A partícula e sua imagem no espelho não poderão mais ser claramente separadas: o átomo estará se movendo na direção do espelho e se afastando do espelho ao mesmo tempo.
Isto pode parecer paradoxal, e é certamente impossível na física clássica, que envolve objetos macroscópicos. Mas, na física quântica, tais superposições são um fenômeno bem conhecido, como no famoso experimento do gato de Schrodinger.
E os físicos conseguiram comprovar que o átomo estava mesmo seguindo os dois caminhos.
No experimento, os dois estados dinâmicos do átomo - um movimento em direção ao espelho e o outro afastando-se do espelho - foram combinados usando a difração de Bragg de uma rede óptica feita com luz laser.
Observando a interferência gerada na rede óptica, pode-se demonstrar diretamente que o átomo de fato esteve viajando pelos dois caminhos ao mesmo tempo.
Experimento da dupla fenda
Este é um reminiscente do famoso experimento da dupla fenda, no qual uma partícula colide com uma placa com duas fendas e passa pelas duas fendas ao mesmo tempo, devido às suas propriedades quânticas de ser simultaneamente uma partícula e uma onda.
Einstein já havia argumentado que isso só é possível se não houver como determinar qual caminho a partícula realmente escolheu, nem mesmo medições precisas de qualquer pequeno recuo da própria placa com a dupla fenda.
Se houver qualquer possibilidade teórica de se determinar a trajetória da partícula, a superposição quântica colapsa - ela não ocorre, e a partícula viajará sempre no mesmo caminho, como no mundo clássico.
"No nosso caso, os fótons têm um papel semelhante ao da dupla fenda," explica Markus Oberthaler, coautor do estudo. "Se a luz puder em princípio, nos falar qualquer coisa sobre o movimento do átomo, o movimento é inequivocamente determinado. Somente quando esse movimento é fundamentalmente indefinível, o átomo pode estar em um estado de superposição, combinando as duas possibilidades."
E essa indecisão fundamental foi garantida pelo espelho, que absorve momento do fóton.
"O mais fascinante sobre este experimento," escrevem os cientistas em seu artigo, "é a possibilidade de criar um estado de superposição quântica usando apenas um espelho, sem qualquer campo externo."
Notícias relacionadas
Eletrônica extrema: transístor funciona com um único elétron
Grafeno converte eletricidade em magnetismo
Cientistas teletransportam gato de Schrodinger
Computador quântico chega aos 14 qubits
Metrologia quântica estima limite fundamental de precisão
Spintrônica: Magnetismo pode ser ligado e desligado
Mais lidas na semana
Suécia tem cidade sem lixo
Descoberta nova forma de visualizar deformação do espaço-tempo
Suspensão ativa eletromagnética torna carro 60% mais confortável
Astrônomos descobrem asteroide que acompanha a Terra
Bicicleta sem ciclista desmente teoria sobre equilíbrio das magrelas
Descoberto novo tipo de simetria na natureza
Cientistas teletransportam gato de Schrodinger
Quinta força fundamental da natureza ou nova partícula?
Fonte:
INOVAÇÃO Tecnológica
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=atomo-imagem-quantica-espelho&id=010165110425
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Quer comentar,o espaço é todo seu!