Via Láctea pode ser um gigantesco buraco de minhoca
Com informações do SISSA - 22/01/2015
Os físicos não sabem para onde o túnel galáctico levaria,mas garantem que ele deve ser "estável e navegável". [Imagem: Davide/Paolo Salucci]
Sistema de transporte intergaláctico
Você acreditaria que a Via Láctea inteira pode ser um gigantesco buraco de minhoca, um "sistema de transporte intergaláctico"?
Pois com base nos últimos dados e cálculos dos físicos, nossa galáxia pode, em teoria, ser um enorme buraco de minhoca, um túnel no espaço-tempo capaz de nos levar aos confins do Universo. E, se isso for verdade, a Via Láctea seria um buraco de minhoca "estável e navegável".
Esta é a hipótese levantada por uma equipe de físicos indianos, italianos e norte-americanos que, de quebra, tenta estimular seus colegas cientistas a repensar a matéria escura "com mais precisão".
"Se combinarmos o mapa da matéria escura na Via Láctea com o modelo mais recente do Big Bang para explicar o Universo, e aventarmos a hipótese da existência de túneis no espaço-tempo, o que temos é que a nossa galáxia realmente poderia conter um desses túneis, e que o túnel poderia até mesmo ser do tamanho da própria galáxia," explica Paolo Salucci, astrofísico da Escola Internacional de Estudos Avançados (SISSA), na Itália.
"Mas há mais: Nós poderíamos até mesmo viajar por este túnel, uma vez que, com base em nossos cálculos, ele pode ser navegável, exatamente como aquele que vimos no recente filme Interestelar," acrescenta o cientista.
Buracos de minhoca
Embora túneis no espaço-tempo - ou buracos de minhoca ou Pontes de Einstein-Rosen - tenham ganho popularidade entre o público por meio dos filmes de ficção científica, eles têm sido o foco de atenção de pesquisas sérias dos físicos há décadas - Albert Einstein e Nathan Rosen publicaram seu trabalho em 1935 e levaram a fama, mas Ludwig Flamm havia publicado um trabalho sobre túneis no espaço-tempo em 1916.
Mais recentemente, os buracos de minhoca foram a grande estrela do filme Interestelar, de Christopher Nolan.
"O que tentamos fazer em nosso estudo foi resolver a equação fundamental na qual a astrofísica 'Murph' [personagem do filme, interpretada por Jessica Chastain] estava trabalhando. É evidente que nós fizemos isso muito antes de o filme sair," brinca Salucci. "É, de fato, um problema extremamente interessante para estudos da matéria escura."
"Obviamente não estamos afirmando que nossa galáxia definitivamente é um buraco de minhoca, mas simplesmente que, de acordo com os modelos teóricos, esta hipótese é uma possibilidade," acrescenta.
Mas será que essa teoria poderia ser testada experimentalmente?
"Em princípio, poderíamos testar a hipótese comparando duas galáxias - nossa galáxia e outra, muito próxima, por exemplo a Nuvem de Magalhães, mas ainda estamos muito longe de qualquer possibilidade real de fazer essa comparação," responde Salucci.
Matéria Escura? Fala sério
Para chegar às suas conclusões, os astrofísicos combinaram as equações da Relatividade Geral com um mapa extremamente detalhado da distribuição da matéria escura na Via Láctea, obtido em um estudo realizado pela equipe em 2013.
"Além da hipótese da ficção científica, nossa pesquisa é interessante porque propõe uma reflexão mais complexa sobre a matéria escura," explica o físico, que conclama seus colegas a "falar mais sério" sobre a hipótese da matéria escura.
Ele salienta que os cientistas vêm tentando há muito tempo explicar a matéria escura levantando a hipótese da existência de uma partícula específica, oneutralino, que, no entanto, nunca foi identificada no LHC e nem observada no Universo.
Mas também existem teorias alternativas que não se baseiam nessa partícula "e talvez seja a hora de os cientistas levarem essa questão mais a sério," recomenda Salucci, sem ser muito ácido em suas críticas às atuais teorias da matéria escura.
A seguir ele acrescenta suas próprias ideias e os caminhos que as discussões deveriam tomar.
"A matéria escura pode ser 'outra dimensão', talvez até mesmo um sistema central de transporte galáctico. De qualquer forma, nós realmente precisamos começar a nos perguntar o que a matéria escura é," conclui Salucci.
Bibliografia::Possible existence of wormholes in the central regions of halos- Farook Rahaman, P. Salucci, P.K.F. Kuhfittig, Saibal Ray, Mosiur Rahaman ---Annals of Physics; Vol.: 350, Pages 561-567 ; DOI: 10.1016/j.aop.2014.08.003
Por vezes, as pessoas abordam-me a propósito do meu gosto pela
astronomia e pela mitologia dos céus. Uns, de forma aprovadora, dizem-me
que também gostam muito de astrologia... Outros, numa atitude crítica,
acusam-me de escrever sobre crendices. Os primeiros, por falta de
cultura científica, confundem o gosto pela observação dos astros e pelas
histórias do céu com o culto da astrologia. Os segundos, por possuírem
uma visão estreita da cultura científica, desconfiam de qualquer gosto
pela poesia do firmamento. Habitualmente, tenho muito trabalho a
explicar a uns e a outros que a astronomia é uma ciência e a mitologia,
poesia. Que não são incompatíveis pois estão situadas em esferas
distintas da actividade humana. E que nem uma nem outra têm nada a ver
com a astrologia, pois esta é uma crença na influência dos astros,
crença que é impossível de verificar ou contestar empiricamente.
Habitualmente, as pessoas do primeiro grupo percebem-me mais depressa
que as do segundo, que ficam sempre desconfiadas. Não será que estou a
fazer concessões ao irracionalismo da astrologia?
Essa desconfiança é tão grande que houve um
físico que uma vez me acusou publicamente de misticismo. Tinha eu
escrito um conto sobre Hércules e Leão e mostrado um mapa do céu onde
estavam essas constelações. Acusou-me de acreditar em crendices.
Respondi-lhe o que me parecia óbvio: que ao falar de Zeus, de Hércules e
do Leão de Némea estava a contar uma história engraçada, que essa
história poderia despertar as pessoas para a observação das
constelações, e que toda a gente deveria perceber que a poesia não é
inimiga da ciência. No fim, pedi-lhe: "far-me-á o favor de admitir que
eu não acredito em Zeus nem em Hércules". O físico não respondeu,
deixando implícito que me considerava crente dos deuses gregos.
Não sei como se passariam as coisas há algumas
décadas. Mas actualmente, na era das imagens coloridas do Hubble, das
fotografias do vaivém espacial e da discussão sobre o Big Bang e os
buracos negros, há muita gente que identifica astronomia com
astronáutica e com cosmologia (o que, nos dias de hoje, não é
completamente errado) e associa constelações com astrologia e misticismo
(o que é completamente absurdo).
Procuremos nos dicionários. Um dos melhores em
língua portuguesa, o Aurélio, define Astronomia como "a ciência que
trata da constituição, da posição relativa e dos movimentos dos astros".
É uma primeira aproximação, mas pode-se discordar. O Cambridge
Dictionary of Astronomy, de J. Mitton, é um pouco mais preciso: diz
tratar-se do "estudo do Universo e do que o constitui para além da
atmosfera terrestre". Outros dicionários terão outras definições, mas
para uma primeira aproximação estas duas servem-nos.
Passemos à Astrologia. O Aurélio diz tratar-se do
"estudo e/ou conhecimento da influência dos astros, especialmente de
signos, no destino e no comportamento dos homens". Poucos astrónomos
estarão de acordo. Para além de ser pouco clara e implicitamente incluir
os signos entre os astros, esta definição pressupõe a existência de uma
influência destes no destino humano. Voltemos a J. Mitton: a astrologia
é "a prática da tradição que pretende conectar as características
humanas e o curso dos acontecimentos com as posições do Sol, Lua e
planetas em relação às estrelas". Parece melhor. Quem tem uma atitude
científica ficará contente se continuar a ler até onde a entrada deste
dicionário afirma que "a maioria dos cientistas encaram-na como uma pura
superstição". Mais interessante ainda é a passagem seguinte: "No
passado, era menos clara a distinção entre astrologia e a ciência da
astronomia; muitas observações astronómicas úteis foram feitas com
propósitos astrológicos".
Falta definir mitologia. O dicionário de
astronomia da Cambridge não nos ajuda. Mas o Aurélio inclui uma acepção
geral que a descreve como "conjunto de mitos de um povo, de uma
civilização, de uma religião" e uma acepção mais estrita que a define
como "História fabulosa dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade
greco-romana."
Todas estas definições podem ser discutidas à
exaustão. Mas a ideia geral estará clara. O mais interessante é perceber
como estas três atitudes estiveram ligadas e se separaram com o advento
da ciência moderna.
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Ótimo documentário sobre a mitologia grega, falando sobre sua cultura e seus Deuses.
(Edson Ecks) A BaTalha Dos Deuses Gregos
Astronomia, Astrologia e Mitologia
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registrar
o movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demônios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrônomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrônomos.
A separação
da astronomia e da mitologia ocorreu ainda no tempo dos gregos. Embora
muitos cidadãos helênicos acreditassem literalmente nas histórias
mitológicas, a maioria dos filósofos que refletiam sobre o cosmos não
via os astros como entidades mitológicas, mas sim como elementos de um
mundo envolvente.
A separação da astronomia e da
astrologia ocorreu muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar
de muitos pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a
crença nos astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao
longo de toda a antiguidade clássica e se manteve até ao fim do
Renascimento, sendo determinante mesmo entre as pessoas cultas da época.
Talvez tenha sido a grande polêmica sobre o sistema coperniciano que
Galileu despertou que tenha determinado o desprestígio da astrologia no
mundo científico. Se a escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e
devia ser resolvida pela observação e pelo raciocínio, então os homens
de ciência deviam rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar
empiricamente ou discutir racionalmente.
Com a
separação entre a astronomia, a mitologia e a astrologia, perdeu-se a
ideia antiga da unidade do mundo e do homem. Mas essa perca é, afinal, a
grande conquista moderna da separação entre fé, princípios morais e
atividade científica. É essa separação que permite o grande
desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo cultural. Em vez de
lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor saudá-la como uma
grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
A história mitológica que abaixo reproduzimos é retirada do livro Zodíaco: Constelações e Mitos, Nuno Crato, Gradiva 2001.
Trata-se de um conto que adapta livremente uma versão da lenda grega que
envolve a luta entre o caçador Oríon e o Escorpião. Como o leitor verá,
para além da beleza poética do mito, a história constitui uma óptima
menmónica para a localização destas constelações no céu e para recordar
os momentos de seu aparecimento e desaparecimento ao crepúsculo. Esta
história é um exemplo das relações que existem entre a mitologia do céu e
alguns factos astronómicos. Por ela se vê também como as histórias
mitológicas podem servir de incentivo à observação das constelações.
A Lenda de Oríon e Escorpião
Em princípios de Novembro, Orion nasce a leste cerca das 22 horas,
em princípios de Dezembro, cerca das 20 horas. O mapa do céu mostra
a posição das estrelas em relação ao horizonte leste em ambas as
alturas.
Orion era o maior dos gigantes. Era filho de Posídon, o deus do mar a
quem os romanos chamavam Neptuno. Dizia-se que era filho também de Gaia,
a Mãe Terra. Era um gigante poderoso. Do pai, tinha herdado o poder de
andar sobre as ondas do mar. Da mãe, tinha herdado o porte gigantesco.
Com os tempos, tornou-se esbelto e atlético, com uma bela figura,
cobiçado pelas mulheres e pelas deusas. Desposou em primeiras núpcias
Side, que se dizia ser a mais bela de todas as jovens da Grécia antiga.
Mas Side era orgulhosa e gabava-se de ser mais bela ainda do que as
imortais, mais bela do que a própria Hera, a rainha das deusas e esposa
de Zeus. Ciumenta, Hera vingou-se e precipitou a jovem do cimo das
montanhas do Tártaro, matando-a.
Privado da esposa, Orion deambulou perdido pela
Terra. A certa altura, ao passar pela ilha de Quios, famosa pela sua
caça grossa, avistou Mérope, a princesa do reino, que tocava a sua
flauta nas margens de um rio. Mal se viram, os jovens apaixonaram-se.
Mérope nunca tinha visto um gigante tão belo e Orion nunca tinha visto
uma jovem tão inocente e tão dotada. Mas os seus amores estavam também
destinados à tragédia.
O pai da jovem, o rei Enópion, era conhecido por
ter introduzido o vinho tinto - o seu nome, em grego, significa "o que
bebe vinho". Nessa altura, o vinho era ainda pouco conhecido e Enópion
conseguia enganar os passantes e embriagá-los. Opondo-se aos amores dos
dois jovens, conseguiu embriagar Orion. Quando o gigante estava ferrado
no sono pesado do álcool, Enópion cegou-o com uma espada e conseguiu
expulsá-lo do reino. Orion, contudo, com a ajuda de um menino que se
sentou nos seus ombros e o guiou, conseguiu caminhar até ao Sol
Nascente.
Quando a deusa da aurora o viu, apaixonou-se pelo
jovem gigante e decidiu ajudá-lo. Com as suas artes, conseguiu
recuperar-lhe a vista. Orion ficou alguns tempos com a deusa, mas os
seus amores foram curtos e em breve partiu para novas conquistas.
O mapa celeste mostra o céu de oeste em fins de Outubro pouco depois
do ocaso. Na gravura mostra-se a posição do Sol abaixo da linha
de horizonte, portanto invisível. As estrelas de Escorpião
estão já muito perto do horizonte, portanto difíceis de observar.
Ao longo das suas viagens, Orion tinha-se tornado um caçador exímio. Com
as suas longas pernas e a sua agilidade, orgulhava-se de não haver
animal que lhe escapasse. Com a sua espada e a sua clava, um cacete
feito do pinheiro mais alto que tinha encontrado, orgulhava-se de
conseguir matar qualquer animal que existisse sobre a terra. Orion
passava dias e dias na caça, que se tornou a sua paixão. No decorrer das
suas andanças, haveria de encontrar a deusa Ártemis, a que os romanos
chamaram Diana, e que era também famosa por se dedicar apaixonadamente à
caça de animais selvagens.
Os dois famosos caçadores do mundo antigo
juntaram-se e criaram uma forte amizade. Durante o dia, partiam à
procura de novas florestas onde encontrassem animais selvagens. À noite,
sentavam-se em redor da fogueira e contavam um ao outro as suas
aventuras. Dizia-se que estavam apaixonados, mas a verdade é que
Ártemis, deusa sempre jovem e casta, apenas pensava nos desportos, no ar
livre e na caça.
Ártemis era uma personagem misteriosa. Dizia-se
que era a deusa da Lua, tal como o seu irmão Apolo era o deus do Sol - e
a verdade é que ela se passeava nas noites de Lua Cheia. Dizia-se
também que era fria e vingativa, que matava por gosto - e a verdade é
que Apolo e a deusa se tinham muitas vezes entretido a massacrar jovens
guerreiros. Talvez o gosto pelo sangue lhes tivesse ficado dos combates
antigos com os gigantes que desafiavam Zeus, o chefe dos deuses que os
dois irmãos ajudaram nessa guerra antiga.
Ártemis e Orion eram amigos, mas a deusa, que se
manteve sempre virgem, não queria nada mais do que a amizade. O que se
passava com Orion nunca ninguém chegou a saber. É possível que se
tivesse apaixonado por Ártemis, que era muito bela, de uma beleza
atlética que devia ter agradado ao caçador gigante. Mas é possível que
não, que as más línguas são capazes de tudo.
O que se passou em seguida nunca ninguém soube
explicar. Um dia, quando o gigante se passeava pelas terras de Delos,
apareceu-lhe pela frente um escorpião gigantesco. Orion estava habituado
a esmagar essas criaturas. Mas este escorpião era maior que qualquer
dos animais que existia sobre a Terra. Era maior que o jovem caçador e
tinha uma carapaça que nem a espada de Orion conseguia penetrar.
Dizem uns que o escorpião fora enviado pela
própria deusa Ártemis, pois uma noite Orion, não resistindo ao desejo,
tinha querido violentá-la. Dizem outros que a besta fora enviada pela
própria Gaia, a Mãe Terra, pois Orion tinha-se vangloriado de não haver
animal que a Terra criasse que ele não pudesse vencer. O certo é que se
seguiu uma luta furiosa e que o gigantesco escorpião, impenetrável à
espada do caçador e indiferente aos seus golpes, conseguiu aplicar-lhe
um golpe mortal, com o ferrão venenoso da sua cauda.
Orion jazia já morto e ainda o escorpião
continuava a ferrá-lo quando Zeus apareceu. Impressionado com o poder do
animal, o chefe dos deuses levou-o para o céu. Comovido com o heroísmo
do gigante vencido, transportou-o também para o firmamento, mas
colocou-o em posição oposta à do seu vencedor, de forma que os dois
inimigos pudessem estar nos céus sem nunca se verem. Assim estão até
hoje: quando a Primavera começa, Orion desaparece no brilho do Sol;
quando o Outono aparece, o perigoso escorpião é engolido pelo horizonte
do ocaso.
- See more at: http://www.portaldoastronomo.org/tema92.php#sthash.U7BhTFHr.dpuf
Por vezes, as pessoas abordam-me a propósito do meu gosto pela astronomia e pela mitologia dos céus. Uns, de forma aprovadora, dizem-me que também gostam muito de astrologia... Outros, numa atitude crítica, acusam-me de escrever sobre crendices. Os primeiros, por falta de cultura científica, confundem o gosto pela observação dos astros e pelas histórias do céu com o culto da astrologia. Os segundos, por possuírem uma visão estreita da cultura científica, desconfiam de qualquer gosto pela poesia do firmamento. Habitualmente, tenho muito trabalho a explicar a uns e a outros que a astronomia é uma ciência e a mitologia, poesia. Que não são incompatíveis pois estão situadas em esferas distintas da actividade humana. E que nem uma nem outra têm nada a ver com a astrologia, pois esta é uma crença na influência dos astros, crença que é impossível de verificar ou contestar empiricamente. Habitualmente, as pessoas do primeiro grupo percebem-me mais depressa que as do segundo, que ficam sempre desconfiadas. Não será que estou a fazer concessões ao irracionalismo da astrologia?
Essa desconfiança é tão grande que houve um físico que uma vez me acusou publicamente de misticismo. Tinha eu escrito um conto sobre Hércules e Leão e mostrado um mapa do céu onde estavam essas constelações. Acusou-me de acreditar em crendices. Respondi-lhe o que me parecia óbvio: que ao falar de Zeus, de Hércules e do Leão de Némea estava a contar uma história engraçada, que essa história poderia despertar as pessoas para a observação das constelações, e que toda a gente deveria perceber que a poesia não é inimiga da ciência. No fim, pedi-lhe: "far-me-á o favor de admitir que eu não acredito em Zeus nem em Hércules". O físico não respondeu, deixando implícito que me considerava crente dos deuses gregos.
Não sei como se passariam as coisas há algumas décadas. Mas actualmente, na era das imagens coloridas do Hubble, das fotografias do vaivém espacial e da discussão sobre o Big Bang e os buracos negros, há muita gente que identifica astronomia com astronáutica e com cosmologia (o que, nos dias de hoje, não é completamente errado) e associa constelações com astrologia e misticismo (o que é completamente absurdo).
Procuremos nos dicionários. Um dos melhores em língua portuguesa, o Aurélio, define Astronomia como "a ciência que trata da constituição, da posição relativa e dos movimentos dos astros". É uma primeira aproximação, mas pode-se discordar. O Cambridge Dictionary of Astronomy, de J. Mitton, é um pouco mais preciso: diz tratar-se do "estudo do Universo e do que o constitui para além da atmosfera terrestre". Outros dicionários terão outras definições, mas para uma primeira aproximação estas duas servem-nos.
Passemos à Astrologia. O Aurélio diz tratar-se do "estudo e/ou conhecimento da influência dos astros, especialmente de signos, no destino e no comportamento dos homens". Poucos astrônomos estarão de acordo. Para além de ser pouco clara e implicitamente incluir os signos entre os astros, esta definição pressupõe a existência de uma influência destes no destino humano. Voltemos a J. Mitton: a astrologia é "a prática da tradição que pretende conectar as características humanas e o curso dos acontecimentos com as posições do Sol, Lua e planetas em relação às estrelas". Parece melhor. Quem tem uma atitude científica ficará contente se continuar a ler até onde a entrada deste dicionário afirma que "a maioria dos cientistas encaram-na como uma pura superstição". Mais interessante ainda é a passagem seguinte: "No passado, era menos clara a distinção entre astrologia e a ciência da astronomia; muitas observações astronómicas úteis foram feitas com propósitos astrológicos".
Falta definir mitologia. O dicionário de astronomia da Cambridge não nos ajuda. Mas o Aurélio inclui uma acepção geral que a descreve como "conjunto de mitos de um povo, de uma civilização, de uma religião" e uma acepção mais estrita que a define como "História fabulosa dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade greco-romana."
Todas estas definições podem ser discutidas à exaustão. Mas a ideia geral estará clara. O mais interessante é perceber como estas três atitudes estiveram ligadas e se separaram com o advento da ciência moderna.
A história mitológica que abaixo reproduzimos é retirada do livro Zodíaco: Constelações e Mitos, Nuno Crato, Gradiva 2001.
Trata-se de um conto que adapta livremente uma versão da lenda grega que
envolve a luta entre o caçador Oríon e o Escorpião. Como o leitor verá,
para além da beleza poética do mito, a história constitui uma óptima
menmónica para a localização destas constelações no céu e para recordar
os momentos de seu aparecimento e desaparecimento ao crepúsculo. Esta
história é um exemplo das relações que existem entre a mitologia do céu e
alguns factos astronómicos. Por ela se vê também como as histórias
mitológicas podem servir de incentivo à observação das constelações.
A Lenda de Oríon e Escorpião
Em princípios de Novembro, Orion nasce a leste cerca das 22 horas,
em princípios de Dezembro, cerca das 20 horas. O mapa do céu mostra
a posição das estrelas em relação ao horizonte leste em ambas as
alturas.
Orion era o maior dos gigantes. Era filho de Posídon, o deus do mar a
quem os romanos chamavam Neptuno. Dizia-se que era filho também de Gaia,
a Mãe Terra. Era um gigante poderoso. Do pai, tinha herdado o poder de
andar sobre as ondas do mar. Da mãe, tinha herdado o porte gigantesco.
Com os tempos, tornou-se esbelto e atlético, com uma bela figura,
cobiçado pelas mulheres e pelas deusas. Desposou em primeiras núpcias
Side, que se dizia ser a mais bela de todas as jovens da Grécia antiga.
Mas Side era orgulhosa e gabava-se de ser mais bela ainda do que as
imortais, mais bela do que a própria Hera, a rainha das deusas e esposa
de Zeus. Ciumenta, Hera vingou-se e precipitou a jovem do cimo das
montanhas do Tártaro, matando-a.
Privado da esposa, Orion deambulou perdido pela
Terra. A certa altura, ao passar pela ilha de Quios, famosa pela sua
caça grossa, avistou Mérope, a princesa do reino, que tocava a sua
flauta nas margens de um rio. Mal se viram, os jovens apaixonaram-se.
Mérope nunca tinha visto um gigante tão belo e Orion nunca tinha visto
uma jovem tão inocente e tão dotada. Mas os seus amores estavam também
destinados à tragédia.
O pai da jovem, o rei Enópion, era conhecido por
ter introduzido o vinho tinto - o seu nome, em grego, significa "o que
bebe vinho". Nessa altura, o vinho era ainda pouco conhecido e Enópion
conseguia enganar os passantes e embriagá-los. Opondo-se aos amores dos
dois jovens, conseguiu embriagar Orion. Quando o gigante estava ferrado
no sono pesado do álcool, Enópion cegou-o com uma espada e conseguiu
expulsá-lo do reino. Orion, contudo, com a ajuda de um menino que se
sentou nos seus ombros e o guiou, conseguiu caminhar até ao Sol
Nascente.
Quando a deusa da aurora o viu, apaixonou-se pelo
jovem gigante e decidiu ajudá-lo. Com as suas artes, conseguiu
recuperar-lhe a vista. Orion ficou alguns tempos com a deusa, mas os
seus amores foram curtos e em breve partiu para novas conquistas.
O mapa celeste mostra o céu de oeste em fins de Outubro pouco depois
do ocaso. Na gravura mostra-se a posição do Sol abaixo da linha
de horizonte, portanto invisível. As estrelas de Escorpião
estão já muito perto do horizonte, portanto difíceis de observar.
Ao longo das suas viagens, Orion tinha-se tornado um caçador exímio. Com
as suas longas pernas e a sua agilidade, orgulhava-se de não haver
animal que lhe escapasse. Com a sua espada e a sua clava, um cacete
feito do pinheiro mais alto que tinha encontrado, orgulhava-se de
conseguir matar qualquer animal que existisse sobre a terra. Orion
passava dias e dias na caça, que se tornou a sua paixão. No decorrer das
suas andanças, haveria de encontrar a deusa Ártemis, a que os romanos
chamaram Diana, e que era também famosa por se dedicar apaixonadamente à
caça de animais selvagens.
Os dois famosos caçadores do mundo antigo
juntaram-se e criaram uma forte amizade. Durante o dia, partiam à
procura de novas florestas onde encontrassem animais selvagens. À noite,
sentavam-se em redor da fogueira e contavam um ao outro as suas
aventuras. Dizia-se que estavam apaixonados, mas a verdade é que
Ártemis, deusa sempre jovem e casta, apenas pensava nos desportos, no ar
livre e na caça.
Ártemis era uma personagem misteriosa. Dizia-se
que era a deusa da Lua, tal como o seu irmão Apolo era o deus do Sol - e
a verdade é que ela se passeava nas noites de Lua Cheia. Dizia-se
também que era fria e vingativa, que matava por gosto - e a verdade é
que Apolo e a deusa se tinham muitas vezes entretido a massacrar jovens
guerreiros. Talvez o gosto pelo sangue lhes tivesse ficado dos combates
antigos com os gigantes que desafiavam Zeus, o chefe dos deuses que os
dois irmãos ajudaram nessa guerra antiga.
Ártemis e Orion eram amigos, mas a deusa, que se
manteve sempre virgem, não queria nada mais do que a amizade. O que se
passava com Orion nunca ninguém chegou a saber. É possível que se
tivesse apaixonado por Ártemis, que era muito bela, de uma beleza
atlética que devia ter agradado ao caçador gigante. Mas é possível que
não, que as más línguas são capazes de tudo.
O que se passou em seguida nunca ninguém soube
explicar. Um dia, quando o gigante se passeava pelas terras de Delos,
apareceu-lhe pela frente um escorpião gigantesco. Orion estava habituado
a esmagar essas criaturas. Mas este escorpião era maior que qualquer
dos animais que existia sobre a Terra. Era maior que o jovem caçador e
tinha uma carapaça que nem a espada de Orion conseguia penetrar.
Dizem uns que o escorpião fora enviado pela
própria deusa Ártemis, pois uma noite Orion, não resistindo ao desejo,
tinha querido violentá-la. Dizem outros que a besta fora enviada pela
própria Gaia, a Mãe Terra, pois Orion tinha-se vangloriado de não haver
animal que a Terra criasse que ele não pudesse vencer. O certo é que se
seguiu uma luta furiosa e que o gigantesco escorpião, impenetrável à
espada do caçador e indiferente aos seus golpes, conseguiu aplicar-lhe
um golpe mortal, com o ferrão venenoso da sua cauda.
Orion jazia já morto e ainda o escorpião
continuava a ferrá-lo quando Zeus apareceu. Impressionado com o poder do
animal, o chefe dos deuses levou-o para o céu. Comovido com o heroísmo
do gigante vencido, transportou-o também para o firmamento, mas
colocou-o em posição oposta à do seu vencedor, de forma que os dois
inimigos pudessem estar nos céus sem nunca se verem. Assim estão até
hoje: quando a Primavera começa, Orion desaparece no brilho do Sol;
quando o Outono aparece, o perigoso escorpião é engolido pelo horizonte
do ocaso.
- See more at: http://www.portaldoastronomo.org/tema92.php#sthash.vOAfr6JA.dpuf
Mitologia: uma história sobre a mudança das estações
A história mitológica
que abaixo reproduzimos é retirada do livro Zodíaco:
Constelações e Mitos, Nuno Crato, Gradiva 2001.
Trata-se de um conto que adapta livremente uma versão da lenda grega que envolve a luta entre o caçador Oríon e o Escorpião. Como o leitor verá, para além da beleza poética do mito, a história constitui uma óptima menmónica para a localização destas constelações no céu e para recordar os momentos de seu aparecimento e desaparecimento ao crepúsculo. Esta história é um exemplo das relações que existem entre a mitologia do céu e alguns factos astronómicos. Por ela se vê também como as histórias mitológicas podem servir de incentivo à observação das constelações.
A Lenda de Oríon e Escorpião
Em princípios de Novembro, Orion nasce a leste cerca das 22 horas, em princípios de Dezembro, cerca das 20 horas. O mapa do céu mostra a posição das estrelas em relação ao horizonte leste em ambas as alturas.
Orion era o maior dos gigantes. Era filho de Posídon, o deus do mar a quem os romanos chamavam Neptuno. Dizia-se que era filho também de Gaia, a Mãe Terra. Era um gigante poderoso. Do pai, tinha herdado o poder de andar sobre as ondas do mar. Da mãe, tinha herdado o porte gigantesco. Com os tempos, tornou-se esbelto e atlético, com uma bela figura, cobiçado pelas mulheres e pelas deusas. Desposou em primeiras núpcias Side, que se dizia ser a mais bela de todas as jovens da Grécia antiga. Mas Side era orgulhosa e gabava-se de ser mais bela ainda do que as imortais, mais bela do que a própria Hera, a rainha das deusas e esposa de Zeus. Ciumenta, Hera vingou-se e precipitou a jovem do cimo das montanhas do Tártaro, matando-a.
Privado da esposa, Orion deambulou perdido pela Terra. A certa altura, ao passar pela ilha de Quios, famosa pela sua caça grossa, avistou Mérope, a princesa do reino, que tocava a sua flauta nas margens de um rio. Mal se viram, os jovens apaixonaram-se. Mérope nunca tinha visto um gigante tão belo e Orion nunca tinha visto uma jovem tão inocente e tão dotada. Mas os seus amores estavam também destinados à tragédia.
O pai da jovem, o rei Enópion, era conhecido por ter introduzido o vinho tinto - o seu nome, em grego, significa "o que bebe vinho". Nessa altura, o vinho era ainda pouco conhecido e Enópion conseguia enganar os passantes e embriagá-los. Opondo-se aos amores dos dois jovens, conseguiu embriagar Orion. Quando o gigante estava ferrado no sono pesado do álcool, Enópion cegou-o com uma espada e conseguiu expulsá-lo do reino. Orion, contudo, com a ajuda de um menino que se sentou nos seus ombros e o guiou, conseguiu caminhar até ao Sol Nascente.
Quando a deusa da aurora o viu, apaixonou-se pelo jovem gigante e decidiu ajudá-lo. Com as suas artes, conseguiu recuperar-lhe a vista. Orion ficou alguns tempos com a deusa, mas os seus amores foram curtos e em breve partiu para novas conquistas.
O mapa celeste mostra o céu de oeste em fins de Outubro pouco depois do ocaso. Na gravura mostra-se a posição do Sol abaixo da linha de horizonte, portanto invisível. As estrelas de Escorpião estão já muito perto do horizonte, portanto difíceis de observar.
O
mapa celeste mostra o céu de oeste em fins de Outubro pouco depois
do ocaso. Na gravura mostra-se a posição do Sol abaixo da linha
de horizonte, portanto invisível. As estrelas de Escorpião
estão já muito perto do horizonte, portanto difíceis de observar. - See
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Ao longo das suas viagens, Orion tinha-se tornado um caçador exímio. Com as suas longas pernas e a sua agilidade, orgulhava-se de não haver animal que lhe escapasse. Com a sua espada e a sua clava, um cacete feito do pinheiro mais alto que tinha encontrado, orgulhava-se de conseguir matar qualquer animal que existisse sobre a terra. Orion passava dias e dias na caça, que se tornou a sua paixão. No decorrer das suas andanças, haveria de encontrar a deusa Ártemis, a que os romanos chamaram Diana, e que era também famosa por se dedicar apaixonadamente à caça de animais selvagens.
Os dois famosos caçadores do mundo antigo juntaram-se e criaram uma forte amizade. Durante o dia, partiam à procura de novas florestas onde encontrassem animais selvagens. À noite, sentavam-se em redor da fogueira e contavam um ao outro as suas aventuras. Dizia-se que estavam apaixonados, mas a verdade é que Ártemis, deusa sempre jovem e casta, apenas pensava nos desportos, no ar livre e na caça.
Ártemis era uma personagem misteriosa. Dizia-se que era a deusa da Lua, tal como o seu irmão Apolo era o deus do Sol - e a verdade é que ela se passeava nas noites de Lua Cheia. Dizia-se também que era fria e vingativa, que matava por gosto - e a verdade é que Apolo e a deusa se tinham muitas vezes entretido a massacrar jovens guerreiros. Talvez o gosto pelo sangue lhes tivesse ficado dos combates antigos com os gigantes que desafiavam Zeus, o chefe dos deuses que os dois irmãos ajudaram nessa guerra antiga.
Ártemis e Orion eram amigos, mas a deusa, que se manteve sempre virgem, não queria nada mais do que a amizade. O que se passava com Orion nunca ninguém chegou a saber. É possível que se tivesse apaixonado por Ártemis, que era muito bela, de uma beleza atlética que devia ter agradado ao caçador gigante. Mas é possível que não, que as más línguas são capazes de tudo.
O que se passou em seguida nunca ninguém soube explicar. Um dia, quando o gigante se passeava pelas terras de Delos, apareceu-lhe pela frente um escorpião gigantesco. Orion estava habituado a esmagar essas criaturas. Mas este escorpião era maior que qualquer dos animais que existia sobre a Terra. Era maior que o jovem caçador e tinha uma carapaça que nem a espada de Orion conseguia penetrar.
Dizem uns que o escorpião fora enviado pela própria deusa Ártemis, pois uma noite Orion, não resistindo ao desejo, tinha querido violentá-la. Dizem outros que a besta fora enviada pela própria Gaia, a Mãe Terra, pois Órion tinha-se vangloriado de não haver animal que a Terra criasse que ele não pudesse vencer. O certo é que se seguiu uma luta furiosa e que o gigantesco escorpião, impenetrável à espada do caçador e indiferente aos seus golpes, conseguiu aplicar-lhe um golpe mortal, com o ferrão venenoso da sua cauda.
Orion jazia já morto e ainda o escorpião continuava a ferrá-lo quando Zeus apareceu. Impressionado com o poder do animal, o chefe dos deuses levou-o para o céu. Comovido com o heroísmo do gigante vencido, transportou-o também para o firmamento, mas colocou-o em posição oposta à do seu vencedor, de forma que os dois inimigos pudessem estar nos céus sem nunca se verem. Assim estão até hoje: quando a Primavera começa, Órion desaparece no brilho do Sol; quando o Outono aparece, o perigoso escorpião é engolido pelo horizonte do ocaso.
Como
resultado do movimento de translação da Terra, a posição do Sol na
esfera celeste dá uma volta completa num ano, percorrendo as
constelações do zodíaco. Na altura em que o Sol se encontra numa dessas
constelações, as suas estrelas não são visíveis, pois estão ofuscadas
pelo brilho solar. Mas os astrónomos antigos registaram o movimento das
constelações logo após o crepúsculo e verificaram a sua aproximação à
nossa estrela. Perceberam assim qual a altura do ano em que o Sol
passava pelas constelações do zodíaco. A gravura mostra a posição actual
do Sol no início da Primavera, no chamado equinócio vernal.
Em altura incerta da evolução das sociedades humanas, certamente há
muitos milhares de anos, na chamada pré-história, os nossos antepassados
terão começado a notar que o aspecto do céu nocturno muda
periodicamente e que o ciclo dessa mudança coincide com o ciclo das
estações. De facto, ao movimento nocturno aparente das estrelas,
derivado da rotação da Terra, sobrepõe-se um outro, mais lento, derivado
da translação do nosso planeta, e que tem como resultado uma rotação
completa da esfera celeste no decurso de um ano.
No meio do Outono, por exemplo, a constelação de
Carneiro nasce a leste logo ao princípio da noite, enquanto a de
Capricórnio se deita a oeste logo a seguir ao Sol. Se seguirmos a
posição de Carneiro ao longo das semanas, veremos que esta constelação
passa a nascer no céu de leste cada dia mais cedo. No princípio do
Inverno, já Carneiro aparece bem acima do horizonte ao começo da noite,
quando as primeiras estrelas revelam o seu brilho. Algumas semanas mais
tarde, já as noites se iniciam com essa constelação muito alto, acima do
horizonte sul. Noite após noite, as estrelas parecem descrever um
percurso no céu que as leva de leste para oeste. No fim do Inverno, a
noite começa com Carneiro perto do horizonte oeste. Então, à medida que
os dias avançam, essa constelação aparece cada vez mais brevemente,
deitando-se logo a seguir ao Sol. No início da Primavera, a constelação
não é visível. Semanas mais tarde, reaparece no céu nocturno, mas desta
vez no horizonte leste e logo antes da madrugada. Há pois algumas
semanas em que as estrelas de Carneiro não estiveram visíveis.
Os astrónomos das primeiras civilizações
perceberam que a posições do Sol e da constelação coincidiram no céu
durante essas semanas em que a constelação não se conseguia observar: o
Sol estava em Carneiro. Os observadores antigos perceberam também que
havia outras estrelas no caminho do Sol e que esse caminho descreve um
arco que atravessa o céu de leste para oeste: um círculo máximo sobre a
esfera celeste a que se chama eclíptica. No nosso hemisfério, esse arco
passa pela esfera celeste acima do horizonte sul.
O calendário origina os signos
A
imagem mostra a posição do Sol visto da Terra e projectado contra a
esfera celeste, no tempo dos Gregos antigos por alturas do solstício de
Verão. Actualmente, projecta-se entre Touro e Gémeos por alturas do
solstício
Ao organizarem o seu calendário, os babilónios, tal como muitos outros
povos, basearam-se no ciclo anual das estações, que é astronomicamente
marcado pela passagem do Sol pelas constelações. Mas os babilónios
procuraram harmonizar a medida solar do tempo com a medida lunar. Ora a
posição do Sol no fundo estelar demora cerca de 365 dias e um quarto a
perfazer uma rotação completa, num ciclo que é chamado ano sideral.
Entretanto, a Lua demora cerca de 29 dias e meio a regressar à mesma
fase, num ciclo chamado lunação ou mês sinódico. Num ano solar cabem
pois 12 meses lunares, embora fiquem de fora cerca de 11 dias, o que
sempre constituiu uma complicação para os calendários. É esta
coincidência aproximada que levou à divisão do ano em doze meses e à
criação dos doze signos do zodíaco.
Ao que parece, os babilónios foram os primeiros a
dividir em doze partes a banda celeste por onde o Sol passa no seu
movimento aparente, dando a cada uma dessas partes o nome de uma
constelação, ou seja, de uma área determinada da esfera celeste,
constituída em função de um motivo imaginado pelo desenho das estrelas.
Às constelações que estão no caminho do Sol deu-se o nome de signos. São
os doze signos do zodíaco.
A palavra "zodíaco" chegou-nos pelo grego
"zoidiakos", adjectivo usado na expressão "zoidiakos kuklos", que
designava o "círculo de animais" com que se representavam as
constelações. A raiz do termo persiste ainda hoje nas línguas ocidentais
em vocábulos como "zoológico". Modernamente, o zodíaco designa uma
banda celeste com 8 graus para cada lado da eclíptica - a linha por onde
o Sol parece deslocar-se. O Sol, a Lua e os planetas parecem todos
mover-se na banda do zodíaco. Na realidade, são os planetas que rodam em
torno do Sol. Mas rodam todos perto de um mesmo plano, pelo que nos
parece que é o Sol que se movimenta no mesmo arco que a Lua e os
planetas - o arco que passa pelos signos do zodíaco.
A precessão
Quando os antigos marcaram o trajecto do Sol contra o fundo estelar, o
eixo de rotação da Terra tinha uma inclinação diferente da que tem hoje.
Essa inclinação tem vindo a mudar, de acordo com um ciclo de cerca de
26 mil anos chamado ciclo de precessão. A precessão é muito lenta, mas é
visível quando se comparam observações astronómicas feitas ao longo de
diferentes séculos. Ao que parece, terá sido o astrónomo alexandrino
Hiparco (século II a. C.) o primeiro a notar esse movimento da esfera
celeste. Designou-o por precessão dos equinócios, pois ele é observável
na deslocação do ponto da esfera celeste onde o Sol se projecta nos
momentos dos equinócios. Assim, por exemplo, o início da Primavera,
marcado pelo equinócio vernal (Março), coincidia antigamente com a
passagem do Sol pela constelação Carneiro - Aries em latim - pelo que os
astrónomos ainda hoje chamam a esse ponto celeste "primeiro ponto de
Aries". A precessão fez com que o início da Primavera já não encontre o
Sol nessa constelação, mas a astrologia, que herdou os signos dos
gregos, não teve em conta esse desfasamento.
Actualmente, as pessoas nascidas entre 21 de
Março e 20 de Abril pertencem ao signo astrológico de Carneiro. Mas o
Sol encontra-se nessa altura na constelação Peixes. O mesmo se passa com
todos os signos. O Sol não entra a 21 de Maio em Gémeos, ao contrário
do que a astrologia e a tradição apontam. Só entra na constelação de
Castor e Pólux em 22 de Junho.
Const.
Desap. a oeste, no ocaso
Ingresso do Sol na constelação
Egresso do Sol da constelação
Reaparecimento a leste, de madrugada
Melhor visibilidade
Signo astrológico
Carneiro
meados de Abril
19 de Abril
14 de Maio
princípios de Maio
Outubro e Novembro
21 de Março a 20 de Abril
Touro
Princípios de Maio
15 de Maio
21 de Junho
Fins de Junho
Dezembro e Janeiro
21 de Abril a 20 de Maio
Gémeos
meados de Junho
22 de Junho
20 de Julho
Fins de Julho
Janeiro, Fevereiro e Março
21 de Maio a 20 de Junho
Caranguejo
meados de Junho
21 de Julho
10 de Agosto
Fins de Julho
Fevereiro e Março
21 de Junho a 21 de Julho
Leão
fins de Julho
11 de Agosto
16 de Setembro
meados de Setembro
Fevereiro, Março e Abril
22 de Julho a 22 de Agosto
Virgem
princípios de Setembro
17 de Setembro
30 de Outubro
princípios de Novembro
Abril e Maio
23 de Agosto a 22 de Setembro
Balança
meados de Outubro
31 de Outubro
22 de Novembro
Fins de Novembro
Maio e Junho
23 de Setembro a 22 de Outubro
Escorpião
Ofíuco
meados de Outubro
23 de Novembro
29 de Novembro
28 de Novembro
16 de Dezembro
princípios de Janeiro
Maio, Junho e Julho
23 de Outubro a 21 de Novembro
Sagitário
meados de Dezembro
17 de Dezembro
18 de Janeiro
Fins de Janeiro
Maio, Junho e Julho
22 de Novembro a 21 de Dezembro
Capricórnio
meados de Janeiro
19 de Janeiro
15 de Fevereiro
princípios de Março
Junho e Julho
22 de Dezembro a 21 de Janeiro
Aquário
princípios de Fevereiro
16 de Fevereiro
11 de Março
princípios de Abril
Agosto e Setembro
21 de Janeiro a 20 de Fevereiro
Peixes
princípios de Março
12 de Março
18 de Abril
princípios de Maio
Setembro e Outubro
21 de Fevereiro a 20 de Março
A tabela mostra os momentos de entrada (ingresso) e
saída (egresso) do Sol, referidos às fronteiras dessas constelações. As
datas de desaparecimento e de aparecimento das constelações no céu
nocturno são apenas muito indicativas e estão referidas aos asterismos,
isto é, aos padrões de estrelas identificados com as figuras
mitológicas. As datas que se referem como de melhor visibilidade das
constelações coincidem com a altura em que a parte central do asterismo
culmina a sul por volta da meia noite. Devido à precessão, há um
desfasamento entre as datas de passagem do Sol pelas constelações e os
signos do zodíaco, tal como considerados pelos astrólogos. Durante a
idade média, a astrologia debateu-se com este problema sem o conseguir
resolver. Actualmente, os astrólogos esquecem-no simplesmente, aceitando
signos astrológicos desfasados das constelações que lhes deram o nome.
Ofíuco, o décimo terceiro signo
Para os antigos, as fronteiras das constelações estavam pouco definidas,
o que importava eram os agrupamentos de estrelas, os chamados
asterismos, que associavam a personagens míticas. Em 1922, quando a
União Astronómica Mundial chegou a um acordo para dividir o céu em áreas
perfeitamente determinadas, foram estabelecidas 88 constelações,
cobrindo ambos os hemisférios. Na zona do zodíaco e em outras áreas,
procurou-se respeitar a divisão estabelecida pelos antigos, mas foi
necessário proceder a algumas adaptações, de forma a englobar os
asterismos antigos que se sobrepunham. Assim, as modernas constelações
do zodíaco não dividem a eclíptica em doze partes iguais. Além disso, há
uma constelação que os antigos não incluíam no zodíaco e por onde o Sol
passa: é a Ofíuco, que representa o deus da medicina dos antigos
gregos.
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O zodíaco dos astrónomos e o zodíaco dos astrólogos
Como resultado do movimento de translação da Terra, a posição do Sol na esfera celeste dá uma volta completa num ano, percorrendo as constelações do zodíaco. Na altura em que o Sol se encontra numa dessas constelações, as suas estrelas não são visíveis, pois estão ofuscadas pelo brilho solar. Mas os astrónomos antigos registaram o movimento das constelações logo após o crepúsculo e verificaram a sua aproximação à nossa estrela. Perceberam assim qual a altura do ano em que o Sol passava pelas constelações do zodíaco. A gravura mostra a posição actual do Sol no início da Primavera, no chamado equinócio vernal.
Em altura incerta da evolução das sociedades humanas, certamente há muitos milhares de anos, na chamada pré-história, os nossos antepassados terão começado a notar que o aspecto do céu nocturno muda periodicamente e que o ciclo dessa mudança coincide com o ciclo das estações. De facto, ao movimento nocturno aparente das estrelas, derivado da rotação da Terra, sobrepõe-se um outro, mais lento, derivado da translação do nosso planeta, e que tem como resultado uma rotação completa da esfera celeste no decurso de um ano.
No meio do Outono, por exemplo, a constelação de Carneiro nasce a leste logo ao princípio da noite, enquanto a de Capricórnio se deita a oeste logo a seguir ao Sol. Se seguirmos a posição de Carneiro ao longo das semanas, veremos que esta constelação passa a nascer no céu de leste cada dia mais cedo. No princípio do Inverno, já Carneiro aparece bem acima do horizonte ao começo da noite, quando as primeiras estrelas revelam o seu brilho. Algumas semanas mais tarde, já as noites se iniciam com essa constelação muito alto, acima do horizonte sul. Noite após noite, as estrelas parecem descrever um percurso no céu que as leva de leste para oeste. No fim do Inverno, a noite começa com Carneiro perto do horizonte oeste. Então, à medida que os dias avançam, essa constelação aparece cada vez mais brevemente, deitando-se logo a seguir ao Sol. No início da Primavera, a constelação não é visível. Semanas mais tarde, reaparece no céu nocturno, mas desta vez no horizonte leste e logo antes da madrugada. Há pois algumas semanas em que as estrelas de Carneiro não estiveram visíveis.
Os astrónomos das primeiras civilizações perceberam que a posições do Sol e da constelação coincidiram no céu durante essas semanas em que a constelação não se conseguia observar: o Sol estava em Carneiro. Os observadores antigos perceberam também que havia outras estrelas no caminho do Sol e que esse caminho descreve um arco que atravessa o céu de leste para oeste: um círculo máximo sobre a esfera celeste a que se chama eclíptica. No nosso hemisfério, esse arco passa pela esfera celeste acima do horizonte sul.
O calendário origina os signos
A imagem mostra a posição do Sol visto da Terra e projectado contra a esfera celeste, no tempo dos Gregos antigos por alturas do solstício de Verão. Actualmente, projecta-se entre Touro e Gémeos por alturas do solstício
Ao organizarem o seu calendário, os babilónios, tal como muitos outros povos, basearam-se no ciclo anual das estações, que é astronomicamente marcado pela passagem do Sol pelas constelações. Mas os babilónios procuraram harmonizar a medida solar do tempo com a medida lunar. Ora a posição do Sol no fundo estelar demora cerca de 365 dias e um quarto a perfazer uma rotação completa, num ciclo que é chamado ano sideral. Entretanto, a Lua demora cerca de 29 dias e meio a regressar à mesma fase, num ciclo chamado lunação ou mês sinódico. Num ano solar cabem pois 12 meses lunares, embora fiquem de fora cerca de 11 dias, o que sempre constituiu uma complicação para os calendários. É esta coincidência aproximada que levou à divisão do ano em doze meses e à criação dos doze signos do zodíaco.
Ao que parece, os babilónios foram os primeiros a dividir em doze partes a banda celeste por onde o Sol passa no seu movimento aparente, dando a cada uma dessas partes o nome de uma constelação, ou seja, de uma área determinada da esfera celeste, constituída em função de um motivo imaginado pelo desenho das estrelas. Às constelações que estão no caminho do Sol deu-se o nome de signos. São os doze signos do zodíaco.
A palavra "zodíaco" chegou-nos pelo grego "zoidiakos", adjectivo usado na expressão "zoidiakos kuklos", que designava o "círculo de animais" com que se representavam as constelações. A raiz do termo persiste ainda hoje nas línguas ocidentais em vocábulos como "zoológico". Modernamente, o zodíaco designa uma banda celeste com 8 graus para cada lado da eclíptica - a linha por onde o Sol parece deslocar-se. O Sol, a Lua e os planetas parecem todos mover-se na banda do zodíaco. Na realidade, são os planetas que rodam em torno do Sol. Mas rodam todos perto de um mesmo plano, pelo que nos parece que é o Sol que se movimenta no mesmo arco que a Lua e os planetas - o arco que passa pelos signos do zodíaco.
A precessão
Quando os antigos marcaram o trajecto do Sol contra o fundo estelar, o eixo de rotação da Terra tinha uma inclinação diferente da que tem hoje. Essa inclinação tem vindo a mudar, de acordo com um ciclo de cerca de 26 mil anos chamado ciclo de precessão. A precessão é muito lenta, mas é visível quando se comparam observações astronómicas feitas ao longo de diferentes séculos. Ao que parece, terá sido o astrónomo alexandrino Hiparco (século II a. C.) o primeiro a notar esse movimento da esfera celeste.
Designou-o por precessão dos equinócios, pois ele é observável na deslocação do ponto da esfera celeste onde o Sol se projecta nos momentos dos equinócios. Assim, por exemplo, o início da Primavera, marcado pelo equinócio vernal (Março), coincidia antigamente com a passagem do Sol pela constelação Carneiro - Aries em latim - pelo que os astrônomos ainda hoje chamam a esse ponto celeste "primeiro ponto de Aries". A precessão fez com que o início da Primavera já não encontre o Sol nessa constelação, mas a astrologia, que herdou os signos dos gregos, não teve em conta esse desfasamento.
Actualmente, as pessoas nascidas entre 21 de Março e 20 de Abril pertencem ao signo astrológico de Carneiro. Mas o Sol encontra-se nessa altura na constelação Peixes. O mesmo se passa com todos os signos. O Sol não entra a 21 de Maio em Gémeos, ao contrário do que a astrologia e a tradição apontam. Só entra na constelação de Castor e Pólux em 22 de Junho.
Const. Desap. a oeste, no ocaso
Ingresso do Sol na constelação
Egresso do Sol da constelação
Reaparecimento a leste, de madrugada
Melhor visibilidade Signo astrológico
Carneiro
meados de Abril 19 de Abril 14 de Maio
princípios de Maio Outubro e Novembro 21 de Março a 20 de Abril
Touro
Princípios de Maio 15 de Maio 21 de Junho
Fins de Junho Dezembro e Janeiro 21 de Abril a 20 de Maio
Gémeos
meados de Junho 22 de Junho 20 de Julho
Fins de Julho Janeiro, Fevereiro e Março 21 de Maio a 20 de Junho
Caranguejo meados de Junho 21 de Julho 10 de Agosto
Fins de Julho Fevereiro e Março 21 de Junho a 21 de Julho
Leão
fins de Julho 11 de Agosto 16 de Setembro
meados de Setembro Fevereiro, Março e Abril 22 de Julho a 22 de Agosto
Virgem
princípios de Setembro 17 de Setembro 30 de Outubro
princípios de Novembro Abril e Maio 23 de Agosto a 22 de Setembro
Balança
meados de Outubro 31 de Outubro 22 de Novembro
Fins de Novembro Maio e Junho 23 de Setembro a 22 de Outubro
Escorpião
Ofíuco meados de Outubro 23 de Novembro
29 de Novembro 28 de Novembro
16 de Dezembro princípios de Janeiro
Maio, Junho e Julho 23 de Outubro a 21 de Novembro
Sagitário
meados de Dezembro 17 de Dezembro 18 de Janeiro
Fins de Janeiro Maio, Junho e Julho 22 de Novembro a 21 de Dezembro
Capricórnio
meados de Janeiro 19 de Janeiro 15 de Fevereiro
princípios de Março Junho e Julho 22 de Dezembro a 21 de Janeiro
Aquário
princípios de Fevereiro 16 de Fevereiro 11 de Março
princípios de Abril Agosto e Setembro 21 de Janeiro a 20 de Fevereiro
Peixes
princípios de Março 12 de Março 18 de Abril
princípios de Maio Setembro e Outubro 21 de Fevereiro a 20 de Março
A tabela mostra os momentos de entrada (ingresso) e saída (egresso) do Sol, referidos às fronteiras dessas constelações. As datas de desaparecimento e de aparecimento das constelações no céu nocturno são apenas muito indicativas e estão referidas aos asterismos, isto é, aos padrões de estrelas identificados com as figuras mitológicas. As datas que se referem como de melhor visibilidade das constelações coincidem com a altura em que a parte central do asterismo culmina a sul por volta da meia noite. Devido à precessão, há um desfasamento entre as datas de passagem do Sol pelas constelações e os signos do zodíaco, tal como considerados pelos astrólogos. Durante a idade média, a astrologia debateu-se com este problema sem o conseguir resolver. Actualmente, os astrólogos esquecem-no simplesmente, aceitando signos astrológicos desfasados das constelações que lhes deram o nome.
Ofíuco, o décimo terceiro signo
Para os antigos, as fronteiras das constelações estavam pouco definidas, o que importava eram os agrupamentos de estrelas, os chamados asterismos, que associavam a personagens míticas. Em 1922, quando a União Astronómica Mundial chegou a um acordo para dividir o céu em áreas perfeitamente determinadas, foram estabelecidas 88 constelações, cobrindo ambos os hemisférios. Na zona do zodíaco e em outras áreas, procurou-se respeitar a divisão estabelecida pelos antigos, mas foi necessário proceder a algumas adaptações, de forma a englobar os asterismos antigos que se sobrepunham. Assim, as modernas constelações do zodíaco não dividem a eclíptica em doze partes iguais. Além disso, há uma constelação que os antigos não incluíam no zodíaco e por onde o Sol passa: é a Ofíuco, que representa o deus da medicina dos antigos gregos.
Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
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A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
- See more at: http://www.portaldoastronomo.org/tema9.php#sthash.O9iSO5km.dpuf
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
Autoria:
Nuno Crato
Professor Associado de Matemática e Estatística, Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa
Associado do NÚCLIO
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
Autoria:
Nuno Crato
Professor Associado de Matemática e Estatística, Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa
Associado do NÚCLIO
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.
Autoria:
Nuno Crato
Professor Associado de Matemática e Estatística, Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa
Associado do NÚCLIO
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Astronomia, Astrologia e Mitologia
Gravura extraida de Atlas Coelestis seu Harmonica Macrocosmica, de Andreas Cellarius, Amesterdão, 1661
Há cinco mil ou seis mil anos, quando os homens começaram a registar o
movimento dos astros, o firmamento estava ainda povoado por deuses e
demónios. Os céus eram responsáveis pela miséria e pela prosperidade,
pelo dilúvio e pela calmaria, pelo desvario da luta e pela sorte na
caça.
Os primeiros astrónomos viviam num mundo de
deuses, de monstros e de heróis. As suas observações conseguiram um
notável rigor, mas estavam marcadas pelas suas crenças. Alguns dos
conceitos que criaram para descrever o movimento dos astros ainda hoje
estão tingidos por essas crenças, apesar de terem entrado no mundo da
ciência. Quem hoje fala em signos e em zodíaco pode fazê-lo por
acreditar numa influência dos astros na vida dos homens, mas pode também
referir esses termos na sua moderna acepção científica. Há o zodíaco
dos astrólogos e o zodíaco dos astrónomos.
A separação da astronomia e da mitologia ocorreu
ainda no tempo dos gregos. Embora muitos cidadãos helénicos acreditassem
literalmente nas histórias mitológicas, a maioria dos filósofos que
reflectiam sobre o cosmos não via os astros como entidades mitológicas,
mas sim como elementos de um mundo envolvente.
A separação da astronomia e da astrologia ocorreu
muito mais tarde, já nos séculos XVI e XVII. Apesar de muitos
pensadores gregos rejeitarem a astrologia, o certo é que a crença nos
astros como condicionantes do futuro humano persistiu ao longo de toda a
antiguidade clássica e se manteve até ao fim do Renascimento, sendo
determinante mesmo entre as pessoas cultas da época. Talvez tenha sido a
grande polémica sobre o sistema coperniciano que Galileu despertou que
tenha determinado o desprestígio da astrologia no mundo científico. Se a
escolha entre os grandes sistemas do mundo podia e devia ser resolvida
pela observação e pelo raciocínio, então os homens de ciência deviam
rejeitar crenças astrológicas impossíveis de testar empiricamente ou
discutir racionalmente.
Com a separação entre a astronomia, a mitologia e
a astrologia, perdeu-se a ideia antiga da unidade do mundo e do homem.
Mas essa perca é, afinal, a grande conquista moderna da separação entre
fé, princípios morais e actividade científica. É essa separação que
permite o grande desenvolvimento moderno da ciência e o pluralismo
cultural. Em vez de lamentar a divisão do pensamento humano, será melhor
saudá-la como uma grande conquista da Humanidade.
Nos textos seguintes deste Tema do Mês discutiremos astronomia, astrologia e mitologia.