domingo, 27 de novembro de 2011

György Ligeti - Lontano


 György Ligeti   - Lontano

György Ligeti Sándor (pronunciado lígueti) fOI uM compositor Húngaro Judeu
(que residiu na Áustria e logo se naturalizou
), amplamente considerado como
um
dos maiores Compositores de música clásica ( instrumental) do século XX.
Nasceu en Dicsőszentmárton 
 (en la real Târnăveni Romênia)  
em 28 de maio de 1923 e faleceu em Viena 
 em 12 de junho de 2006.

 Lontano

Música-Nave

livre rompe dimensões

- devassa mistérios...

Breve Biografia


Ligeti nasceu em Dicsőszentmárton (em romeno: Diciosânmartin, atualmente Târnăveni), na região da Transilvânia, Romênia.

Era sobrinho-neto do violinista Leopold Auer. à época, Dicsőszentmárton era um povoado húngaro de população judaica. Ligeti dizia que seu primeiro contato com a língua romena foi em um dia quando ouviu policiais falando naquele idioma. Após deixar sua terra natal, não voltaria mais até a década de 1990.


Ligeti recebeu suas primeiras instruções musicais no conservatório de Cluj/Kolozsvár, no centro da Transilvânia. Sua educação parou em 1943 quando, por ser judeu, foi coagido a trabalhar para os nazistas. Seus pais, seu irmão e outros parentes foram deportados para o campo de concentração de Auschwitz, onde foram executados. Sua mãe foi a única que sobreviveu.


Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Ligeti voltou a estudar, em Budapeste, graduando-se em 1949. Estudou com Pál Kadosa, Ferenc Farkas, Zoltán Kodály e Sándor Veress

Realizou um trabalho etnomusicológico 
sobre a música folclórica romena, 
mas, depois de um ano, voltou à antiga escola
em Budapeste e foi nomeado professor 
 
Naquele tempo, o contato entre a Hungria e o ocidente estavam rompidos pelo, então, governo comunista, e Ligeti teve de ouvir secretamente as transmissões do rádio para se inteirar dos progressos musicais no mundo.

Em dezembro de 1956
mudou-se para Viena 
e tornou-se cidadão austríaco.


Pôs-se, então, em contato
com várias das figuras-chaves 
da música de vanguarda que nao eram conhecidas 
na isolada Hungria de seu tempo. 
 
Entre os vanguardistas, estavam compositores como Karlheinz Stockhausen e Gottfried Michael Koenig, que atuavam na música electrónica. Ligeti trabalhou com ela no mesmo estúdio que tinha em Colônia, e se inspirou com os sons que criava lá. 

Todavia,
produziu pouca música propriamente eletrônica,
  concentrando-se mais nas obras instrumentais 
com certas nuances que lembravam
a música eletrônica.
 

Desde esse tempo, a obra de Ligeti começou a se tornar mais conhecida e respeitada. Mais recentemente, seus três livros de estudos para piano adquiriram grande difusão devido às gravações feitas por Pierre-Laurent Aimard, Fredrik Ullén, entre outros.

Ligeti deu aulas em Darmstadt,
 
Foi também professor na Hamburg Hochschule für Musik und Theater em 1973, retirando-se em 1989. No início da década de 1980, sofreu problemas cardíacos que o levaram a se ausentar por vários anos do cenário musical, até ter aparecido com o Trio para Trompa, Violino e Piano (1983). Desde então, sua produção foi abundante até os anos 1990. Após 2000, seus problemas de saúde voltaram a aparecer e nenhuma obra mais foi escrita desde o ciclo de canções Síppal, dobbal, nádihegedüvel ("Com pipas, tambores, violinos", 2000). Faleceu em Viena, em junho de 2006.


Além da música,
Ligeti também se interessou 
 
de Benoît Mandelbrot, e nas obras literárias de Lewis Carroll e Douglas R. Hofstadter.

O filho de Ligeti, Lukas Ligeti, é um compositor e percussionista que vive hoje em Nova York.

A música de Ligeti


As primeiras obras de Ligeti são uma extensão da linguagem musical de seu compatriota Béla Bartók.

Por exemplo, suas peças para piano Musica Ricercata (1951 - 53), foram comparadas com as do Mikrokosmos de Bartók. A coleção de Ligeti tem onze peças ao todo, A primeira usa somente uma nota "lá" executada em diversas oitavas. Só no fim da peça é possível escutar a segunda nota - "ré". 

A segunda peça emprega 
três notas diferentes, a terceira emprega quatro,
e assim até o fim, de tal forma que a décima-primeira peça 
usa todas as doze notas da  
 

Nessa primeira parte de sua carreira, Ligeti foi afetado pelo regime comunista da Hungria daquele tempo, que impunha a estética do realismo socialista. A décima peça da Musica Ricercata foi proibida pelas autoridades por considerarem-na "decadente". Isto se deveu provavelmente ao uso muito livre dos intervalos de segunda menor.

Devido à ousadia 
de suas intenções musicais,
é fácil de supor a razão por ter decidido 
deixar a Hungria.
 

Uma vez estabelecido em Colônia, começou a compor música electrónica junto a Karlheinz Stockhausen. Entretanto, suas obras para essa linguagem se resumem em três:, dentre as quais Glissandi (1957) e Artikulation (1958), antes de voltar à música instrumental e à vocal. Suas composições, então, apareceram influenciadas por suas experiências eletrônicas e muitos dos efeitos sonoros que criou lembram outras obras eletrônicas. 

A obra Apparitions (1958-59) foi a primeira a atrair a atenção da crítica, mas foi sua obra seguinte, Atmosphères, a mais conhecida atualmente. Foi usada, junto com fragmentos de Lux aeterna e seu Réquiem como parte de la trilha sonora de 2001: Uma Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick - sem a autorização do próprio Ligeti.


Atmosphères (1961) é uma peça para uma grande orquesta sinfônica. É considerada peça-chave na produção de Ligeti e contém muitos dos recursos explorados durante a década de 1960. 

Abandonou o foco na melodia
na harmonia e no ritmo, para se concentrar 
apenas no timbre dos sons, 
uma técnica conhecida como "massa de som

Cada nota da escala cromática 
soa em cinco oitavas. A peça se desenvolve
a partir desse acorde, com nuances sempre distintas.
 

Ligeti cunhou o termo "micropolifonia" à técnica composicional que usou em Atmosphères, Apparitions e outras obras daquela época. Assim a definiu: "a complexa polifonia das partes individuais está fundida num fluxo harmônico-musical, no qual as harmonias não mudam subitamente; em vez disso, mesclam-se umas com as outras. 

É uma combinação de intervalos claramente reconhecível e que vai se tornando nebulosa. Nesta nebulosidade, pode-se distingüir uma nova combinação de intervalos se formando".


Da década de 1970 em diante, Ligeti se afastou do cromatismo total e começou a se concentrar no ritmo. Interessou-se, particularmente, nos aspectos rítmicos da música africana, em especial na dos pigmeus.

Em meados de 1970, escreveu a ópera "Le Grand Macabre", com base no teatro do absurdo com muitas referências escatológicas. Sua música dos anos 1980 e 90 deram ênfase a complexos mecanismos rítmicos, em uma linguagem menos densamente cromática (tendendo a favorecer as tríades maiores e menores deslocadas e estruturas polimodais).


A última obra de Ligeti foi o Concerto de Hamburgo para trompa e orquestra de câmara (1998-99, revisado em 2003).

Lista de obras


  • Andante e Allegro para quarteto de cordas (1950)
  • Baladi joc para dois violinos (1950)
  • Concert românesc para orquestra (1951)
  • Musica ricercata para piano (1951-1953)
  • Seis bagatelas para quinteto de sopros (1953)
  • Quarteto de cordas nº 1 "Métamorphoses nocturnes" (1953-54)
  • Glissandi, música eletrônica (1957)
  • Artikulation, música eletrônica (1958)
  • Apparitions para orquestra (1958-59)
  • Atmosphères para orquestra (1961)
  • Volumina para órgão (1961-62, revisado em 1966)
  • Poème Symphonique para 100 metrônomos (1962)
  • Réquiem para soprano e mezzosoprano solistas, coro misto e orquestra (1963-65)
  • Concerto para violoncelo e orquestra (1966)
  • Lux Aeterna para 16 solistas (1966)
  • Lontano para orquesta (1967)
  • Dois estudos para órgão (1967, 1969)
  • Continuum para cravo (1968)
  • Ramifications para 12 instrumentos de corda solistas (1968-69)
  • Quarteto de cordas nº 2 (1968)
  • Dez peças para quinteto de sopros (1968)
  • Concerto de câmara para 13 instrumentos (1969-70)
  • Melodien para orquestra (1971)
  • Concerto duplo para flauta, oboé e orquestra (1972)
  • Clocks and Clouds para 12 vozes femininas (1973)
  • San Francisco Polyphony para orquestra (1973-74)
  • Le Grand Macabre, ópera (estreada en 1978)
  • Études pour piano, Premier livre (1985)
  • Concerto para piano e orquestra (1985-88)
  • Concerto para violino e orquestra (1992)
  • Études pour piano, Deuxième livre (1988-94)
  • Concerto de Hamburgo para trompa e orquestra de câmara com quatro trompas naturais obligato (1998-99, revisado em 2003)
  • Síppal, dobbal, nádihegedűvel: Weöres Sándor verseire (2000)
  • Études pour piano, Troisième livre (1995-2001)

Prêmios



Ligações externas

       

► 9:01► 9:01
www.youtube.com/watch?v=fXh07JJeA28
Fontes:
Vídeo enviado por ElMiusikman los 2008/04/03
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Wikipédia

sábado, 26 de novembro de 2011

A MÚSICA DAS ESFERAS




A Música das Esferas






 Andreas Cellarius, Harmonia Macrocosmica, Amsterdam, 1660. 
As fases da Lua 
explicadas de acordo com a sua posição 
em relação ao Sol e à Terra
 
Durante séculos, filósofos e artistas imaginaram o universo como um mecanismo perfeitamente organizado segundo regras que podiam ser apresentadas tanto matemática como musicalmente. 
As certezas da religião
em relação a uma tal harmonia divina 
dificultaram a vida de pensadores 
como Galileu e Giordano Bruno
 
A procura de ligações entre as diversas áreas do pensamento atrasou muitas vezes o avanço da ciência, mas também foi o desejo de encontrar tais ligações que acabou por ser a base emocional que conduziu alguns cientistas a resultados importantes, como aconteceu com Kepler, ao tentar compreender a música das esferas a partir do movimento dos planetas.

 
Autoria:
Carlota Simões
Departamento de Matemática
Universidade de Coimbra
 
Alelluia - de Radeir 
Óleo sobre madeira
1980

Li 
_____
__  __
_____
 
Fonte:
 Portal do Astrónomo - Portugal
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

A ASTRONOMIA ENTRE OS ÁRABES



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MATEMÁTICAS E ASTRONOMIA

 Gustave Le Bon

A Civilização árabe (1884) – volume V
Capítulo III - MATEMÁTICAS E ASTRONOMIA

I
MATEMÁTICAS ÁRABES.
O estudo das matemáticas foi bastante generalizado entre os árabes, os quais cultivaram muito a álgebra; chegou-se mesmo a atribuir-lhes a invenção desta ciência, embora os princípios dela fossem conhecidos muito tempo antes.

Na verdade os progressos que lhe deram transformaram-na completamente, pois a eles se devem também as primeiras aplicações da álgebra à geometria.Tão geral era a afeição à álgebra que no tempo de Alma-mum, em princípios do século IX da nossa era, este príncipe ordenou a um matemático da sua corte que compusesse um tratado de álgebra popular, o que foi feito por Muhammad bnu Mussa; da tradução deste livro tiraram mais tarde os europeus as primeiras noções dessa ciência.

A impossibilidade de expor os trabalhos dos árabes sem entrar em pormenores excessivamente técnicos, obriga-me a mencionar apenas os mais importantes, como a introdução das tangentes nos cálculos trigonométricos, a substituição dos senos pelas cordas, a aplicação da álgebra à geometria, a resolução das equações cúbicas e o estudo aprofundado das secções cónicas. Os mesmos árabes transformaram completamente a trigonometria esférica, derivando a resolução dos triângulos de certo número de teoremas fundamentais que ainda lhe servem de base

A introdução das tangentes na trigonometria foi de uma importância considerável. "Esta feliz revolução da ciência — escreve Chasles em seu Aperçu historique ães méthodes en géométrie, — desterrou dela as expressões compostas e incômodas que continham o seno e o coseno da incógnita, mas não se completou senão 500 anos depois entre os modernos, atribuindo-se tal honra a Regiomontano; e quase um século depois deste, ainda tal descoberta não chegara aos ouvidos de Copérnico".
II
A ASTRONOMIA ENTRE OS ÁRABES
A astronomia foi uma das primeiras ciências cultivadas em Bagdad, tendo por adeptos não apenas os árabes mas também seus sucessores, especialmente Olug-Beg, neto de Tamer-lão, famoso pela publicação de suas Tábuas Astronômicas; este deve ser considerado o último representante da escola de Bagdad, que floresceu verdadeiramente de 750 até 1450 da nossa era, ou seja durante 700 anos. Embora Bagdad fosse um dos principais centros de ensino astronômico, não era o único; desde a Ásia central até ao Atlântico abundavam os observatórios, havendo-os em Damasco, Samarcanda, Cairo, Fez, Toledo, Córdova, etc.
As principais escolas de astronomia
foram as de Bagdad, Cairo e Espanha.
Logo que os califas abássidas instalaram em Bagdad, cidade fundada em 762, a capital de seu império, deram grande impulso ao estudo da astronomia e das matemáticas, mandaram traduzir Euclides, Arquimedes e Ptolomeu, bem como todos os livros gregos que tratavam dessas ciências, e chamaram para a sua corte os sábios que gozavam de alguma reputação.

No tempo de Harun-al-Raschid, e especialmente no de seu filho Almamun (813-833), a escola astronômica de Bagdad produziu importantes trabalhos, cumprindo citar a coleção de observações feitas nos observatórios da própria Bagdad e de Damasco numa obra intitulada Tábua comprovada, que infelizmente não chegou até nós. Podemos contudo avaliar a exatidão das observações ali registradas lembrando que determinavam a obliqüidade da elíptica com grande precisão, fixando-a em 23° 33′ 52", número quase igual à cifra moderna.

As observações que eles fizeram a respeito dos equinócios permitiram-lhes calcular de modo preciso a duração do ano, e chegaram mesmo a tentar aquela operação fundamental que só daria resultado mil anos depois, ou seja a medição do arco do meridiano terrestre. Efetuaram essa medição procurando averiguar exatamente a distância entre o local escolhido pelos observadores, ccmo ponto de partida, e o lugar onde se encontraram quando a altura do polo mudou de um grau. Porém, como ignoramos o valor exato da unidade de longitude empregada, não sabemos que resultado deu a operação; aliás, considerada a extensão mínima do arco medido, é pouco verossímil que a cifra obtida fosse muito correta.

Entre os demais trabalhos dos astrônomos da escola de Bagdad, devemos mencionar suas efemérides da posição dos planetas e a determinação exata da precessão dos equinócios.

Chegaram até nós os nomes de alguns sábios dessa época : um dos mais famosos foi Albattani (Albatênio) que vivia no século IX e morreu em 929, desempenhando entre os árabes um papel análogo ao de Ptolomeu entre os gregos; sua obra contém, como as dc grego, a exposição dos conhecimentos da época, mas as tábuas que deixou não chegaram até nós, e apenas foram conhecidas na Europa através de uma versão latina, infelizmente pouco fiel, intitulada De Scientia steUarum. O ilustre Lalande coloca este autor entre os vinte astrônomos mais famosos do mundo.

Amayur e seu filho, que fizeram suas observações desde 883 até 933, escreveram também tábuas astronômicas, e o último reconheceu que os limites da maior latitude da lua eram variáveis, contra o que seus antecessores haviam dito, especialmente Ptolomeu. O estudo destas anomalias serviu de ponto de partida na descoberta de uma terceira desigualdade lunar.

Os três filhos do historiador Mussa biifcDjakir, que viviam no século IX, foram também reputados astrônomos e determinaram a precisão dos equinócios com exatidão até então desconhecida; estabeleceram efemérides a respeito da situação dos planejas4 e mediram em 954 a latitude de Bagdad, que colocaram nos 33°20′, cifra que apenas difere dez seguhdos da exata?

Fig. 228 — Antigo astrolábio árabe (Museu Espanhol de Antigüidades).
Fig. 228 Antigo astrolábio árabe
(Museu Espanhol de Antigüidades).

Entre os muitos astrônomos que sucederam aos citados, o mais célebre foi Abul-Uafa, que morreu em Bagdad em 998-A descoberta que Sedillot fêz, há alguns anos, de um manuscrito árabe, prova ter esse astrônomo reconhecido a desigualdade lunar de que falamos há pouco; surpreendido com a imperfeição com que Ptolomeu dava a teoria da lua, procurou as causas disso e encontrou, além da equação do centro e da evecção, uma terceira desigualdade hoje conhecida pelo nome de variação. 

Esta descoberta, que se supunha feita por Tico-Brahe, 600 anos depois, possui grande importância, e Sedillot deduz por ela que nos fins do século X a escola de Bagdad tinha chegado aos limites do conhecimento astronômico possíveis sem óculos ou telescópios. Contudo Abul–Uafa possuía instrumentos muito aperfeiçoados e conseguiu observar a obliqüidade da elíptica com um quarto de círculo de vinte e um pés de raio, o que mesmo para os observadores modernos é uma dimensão considerável.

Os acontecimentos que determinaram em fins do século X a decadência do poder político do califado de Bagdad, foram também causa do enfraquecimento dos estudos. O desmembramento do império, as invasões dos seldjucidas, as cruzadas e a irrupção dos mongóis conturbaram por muito tempo o país, sendo Bagdad substituída como capital científica do Islam pelo Cairo e pelas grandes universidades árabes da Espanha.

Contudo, nem por isso as ciências deixaram de ser cultivadas em Bagdad; tão afeiçoados lhe eram os árabes que nem guerras, lutas civis ou invasões podiam impedir que delas se ocupassem, e tão grande influência exerceram sobre os invasores por meio da extensão dos seus conhecimentos, que o conquistador se tornou protetor do conquistado.

Nada mais surpreendente que ver a civilização dos árabes triunfando do barbarismo dos conquistadores e estes concorrendo às escolas de seus vencidos. A civilização dos árabes sobreviveu muito tempo ao seu poder político, e graças a essa vantagem continuou a prosperidade científica de Bagdad, embora essa capital houvesse caído nas mãos do estrangeiro. 

A escola de astronomia
continuou florescendo até meados do século XV,
nunca deixando de publicar importantes trabalhos. 
Albiruni, conselheiro de Mahmud-il-Gaznauí (1030), publicou tábuas de longitude dos principais lugares do mundo, visitou a índia e deu a conhecer aos hindus os trabalhos da escola de Bagdad. Em 1709 o sultão seldjucida Malic Xah mandou fazer observações, cujo resultado foi uma reforma do calendário seis séculos anterior à reforma gregoriana, e que até lhe foi superior, pois havendo no ano gregoriano um erro de 3 dias em 10.000 anos, o ano árabe limita-se a um erro de dois para o mesmo período.

Fig. 229 — Antigo astrolábio árabe (a outra face do instrumento anterior).
Fig. 229 — Antigo astrolábio árabe 
(a outra face do instrumento anterior).

Os mongóis não se mostraram menos favoráveis aos sábios que os seldjucidas. Em 1259 o Cam dos mongóis Hulagu atraiu para a sua corte os árabes mais distintos e mandou construir em Megara um grande observatório modelo. Kublai Kan, irmão de Hulagu, trasladou imediatamente para a China, da qual fêz a conquista, os estudos astronômicos de Bagdad e do Cairo, sabendo-se agora que dos livros destes tiraram os astrônomos chineses, e especialmente Ko-Cheu-King (1280) seus principais conhecimentos.

É lícito portanto dizer
que por intermédio dos árabes 
a ciência da astronomia se propagou pelo universo.
 
Quando Tamerlão instalou em Samarcanda o centro de seu gigantesco império, que iria absorver o Turquestãc, a Pérsia e a índia, rodeou-se também de sábios árabes, e seu neto Olug-Beg, soberano de Samarcanda, que viveu em meados do século XV, tinha também grande apreço pela astronomia, vivendo entre grande número de sábios árabes. Suas riquezas permitiram-lhe construir instrumentos de perfeição até aí não alcançada, e diz-se que se servia de um quarto de círculo cujo raio era tão alto como a Santa Sofia de Constantinopla. Olug-Beg deve ser considerado o último representante da escola de Bagdad; pela importância de seus trabalhos este astrônomo encadeia os antigos aos modernos, pois apenas século e meio o separam de Kleper.

A obra que em 1437 publicou Olug-Beg, dá o quadro exato dos conhecimentos astronômicos da escola árabe em meados do século XV. A primeira parte é um verdadeiro tratado de astronomia, onde o autor fala das divisões do tempo, do calendário e dos princípios gerais da ciência. Ocupa-se depois das questões de astronomia prática, como o cálculo dos eclipses, formação e emprego de tábuas, etc., contendo estas últimas certos catálogos de estrelas, os movimentos da lua, do sol e dos planetas e a longitude e latitude das principais cidades do mundo. Entre as latitudes figura especialmente a de Samarcanda, que não encontrei nas obras modernas, e que o autor fixa em 39° 27′ 28".

A obra termina com algumas considerações sobre a , ciência imaginária muito apreciada naquele tempo, e que causou a morte de Olug-Beg, pois tendo êle deduzido da conjunção de alguns planetas que seu filho mais velho o mataria, tirou-lhe todas as funções: este se rebelou contra êle, venceu-o e obrigou-o a fugir para o Turquestão, de onde regressou a Samarcanda apesar das predições dos astros. Foi quando o filho o matou. A crença na foi antigamente geral entre os astrônomos, sem excetuar os da Europa, até uma época muito próxima da nossa. 

O próprio  
professava essa crença,
e escreveu diversos almanaques proféticos.

Fig. 230 — Face anterior de um astrolábio árabe, conservando na Biblioteca Nacional de Paris, segundo uma fotografia.
Fig. 230 — Face anterior de um astrolábio árabe, 
conservando na Biblioteca Nacional de Paris,
segundo uma fotografia.

Ao lado da escola astronômica de Bagdad cumpre colocar a do Cairo, cidade que, separada do califado daquele nome em fins do século X, logo rivalizou com a capital científica do Islam. Com efeito, seus soberanos tiveram a honra, como os de Bagdad, de proteger a astronomia, e o observatório erguido no alto de Mokatam, onde hoje está a cidadela, chegou a ser um estabelecimento de primeira ordem. Foi ali que Ibn Djunis, morto em 1007, redigiu no reinado de Al-hákem a grande tábua chamada hakemita, a qual substituiu todas as que até então haviam servido e foi incluída nas obras sobre astronomia aparecidas depois, mesmo a do chinês Ko-Cheu–King, em 1280.

Segundo Ibn-nu-Nabdi, que residia no Cairo em 1040, a biblioteca dessa cidade possuía então duas esferas celestes e 6.000 volumes sobre matemáticas e astronomia.

Não menos importantes foram os trabalhos astronômicos dos árabes de Espanha, mas a destruição sistemática de quase todos os seus manuscritos apenas permitiu a sobrevivência de uma pequena parte de seus trabalhos. Os que escaparam da fogueira são raros, não foram traduzidos e provavelmente nunca o serão, pois só o poderiam fazer pessoas que ao mesmo tempo soubessem bem o árabe e conhecessem a fundo a astronomia.

A maior parte dos astrônomos árabes de Espanha conhe-cêmo-los apenas de nome, mas embora as indicações que temos sobre seus trabalhos sejam muito sucintas, bastam para provar sua importância. Sabemos assim que Arzachel, que viveu pelo ano 1080 da nossa era, fêz 402 observações para determinar o apogeu do sol, e estabeleceu também com grande precisão o movimento de precessão dos equinócios, que fixou em 50", justamente o número das nossas tábuas modernas. Arzachel observava com instrumentos por êle mesmo inventados, e construiu relógios que eram a admiração de Toledo.

Fig. 230 — Face posterior do mesmo astrolábio.
Fig. 230 — Face posterior do mesmo astrolábio.

Embora nos faltem as obras dos árabes de Espanha, podemos formar opinião do seu conteúdo pelas idéias que delas tiraram os autores cristãos contemporâneos. É assim que do estudo das obras astronômicas do X de Castela e de diversos documentos análogos, Sedillot concluiu terem-se os árabes antecipado a Kleper e Copérnico na descoberta do movimento elíptico dos planetas e na teoria da mobilidade da terra. 

As tábuas astronômicas
de Afonso X, chamadas afonsinas, 
foram completamente tomadas dos árabes.
 
Os astrônomos das escolas da África, especialmente de Tânger, Fez e Marrocos, rivalizaram com os de Espanha, porém conhecemos suas obras tão pouco quanto as destes últimos. Todavia, chegamos a saber que um deles, Abul-Has-san, de Marrocos, que vivia no princípio do século XIII, determinou com precisão muito superior à dos antigos a latitude e longitude de 41 cidades da África, entre Marrocos e o Cairo, numa extensão de mais de 900 léguas.
Abul-Hassan registrou suas observações num livro intitulado Dos princípios e dos fins, parte do qual Sedillot traduziu. Nele encontramos notícias curiosas acerca dos instrumentos astronômicos de que se utilizavam os árabes.

Estes conheceram apenas os relógios de sol, como meio de medir com precisão o tempo; como naquelas épocas ainda não se tinha aplicado o pêndulo aos relógios, careciam eles da precisão necessária às investigações astronômicas.
Os árabes observavam os ângulos por meio de quartos de círculo e de astrolábios, e muitos destes instrumentos chegaram até nós. Três encontram-se na Biblioteca Nacional de Paris, e um deles é reproduzido nesta obra.

A construção desses instrumentos 
é tão engenhosa que ainda hoje 
seria difícil fazê-los melhor.
 
O princípio do astrolábio é muito simples: consiste num disco metálico dividido em graus, sobre o qual dá voltas uma alidade com seu furo em cada extremo. Como o instrumento é suspenso por uma argola que tem na cabeça, e portanto em posição vertical, a alidade dirige-se para o sol, e quando os raios solares passam pelos dois orifícios que a terminam, é suficiente anotar a altura do astro no ponto onde se deteve.

Fig. 232 — Astrolábio árabe de Felipe II ãe Espanha (Museu Espanhol ãe Antiguidades).
Fig. 232 — Astrolábio árabe de Felipe II ãe Espanha
(Museu Espanhol ãe Antiguidades).

Os quartos de círculo utilizados naqueles observatórios eram às vezes de enormes dimensões. Hoje não mais nos serviriam, porque graças ao engenhoso invento do vernier, ou nónio, possuímos um meio de ler os minutos e até os segundos em pequenos instrumentos; compreende-se todavia que um círculo onde estivessem representadas as divisões dos graus em minutos e segundos devia ter um raio muito grande. 

Os construtores  
limitavam-se ordinariamente a dividir 
o minuto em doze partes, ou seja a fazer divisões 
que representavam cinco segundos cada uma.
Os árabes mediam também a altura do sol por meio da longitude da sombra que um ponteiro de dimensão especial traça num plano horizontal, observação que se revela bastante exata quando se dá grande altura ao instrumento.
Podem-se resumir as descobertas astronômicas dos árabes na enumeração seguinte: introdução, a partir do século X, das tangentes nos cálculos astronômicos; formação das tábuas dos movimentos dos astros; determinação rigorosa da obliqüidade da elíptica e de sua diminuição progressiva; apreciação exata da precessão dos equinócios, e primeira determinação precisa da duração do ano. Além disso deve-se-lhes a averiguação das irregularidades da maior latitude da lua e a descoberta da terceira desigualdade lunar, hoje designada com o nome de variação, e que se supunha ter sido determinada por Tico-Brahe, pela primeira vez em 1601.

Tradução 
de Augusto Souza.
 
Fonte: Paraná Cultural ltda




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Fonte:
CONSCIÊNCIA:.ORG

http://www.consciencia.org/a-civilizacao-arabe-matematicas-e-astronomia
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