Se alguma vez fiz descobertas valiosas,
tal deveu-se mais a uma observação paciente,
do que a qualquer outro talento.
Isaac Newton
O processo da nucleosíntese: –As reacções que dão origem à formação de núcleos de elementos leves no Universo, ocorreu quando este tinha entre um segundo e alguns minutos de vida. Um dos grandes sucessos do actual modelo de formação do Universo é o cálculo das abundâncias relativas destes núcleos, em bom acordo com as observações:
- 75% de núcleos de hidrogénio,
- 25% de núcleos de hélio,
- pequeníssimas fracções de núcleos de deutério, de ³He (um isótopo do hélio) e de lítio.
As previsões da Lei de Hubble apontam para uma idade do Universo entre 13 e 15 mil milhões de anos. Para a Via Láctea, quase tão velha como o próprio Universo, é estimada uma idade de 13.6 mil milhões de anos. A datação de meteoritos do sistema solar, das rochas mais antigas da Terra (pequenos cristais de zircónio provenientes das Jack Hills, Austrália Ocidental), assim como dados obtidos da actual fase da vida do Sol apontam para uma idade do sistema solar entre 4.5 e 4.6 mil milhões de anos.
Portanto, foi aproximadamente a dois terços da idade actual do Universo que num dos braços da Via Láctea, no seio de uma nuvem molecular gigante, se precipitou a agregação, por gravidade mútua dessas partículas, dando origem ao Sol e, na sua periferia, ao sistema solar.
Onde nascem as estrelas?
A dinâmica gravitacional das galáxias acumula em certas zonas, com anos luz de tamanho, grandes quantidades de gás e pó interestelar a densidades muito baixas. É no seio destas nebulosas que se pode dar o nascimento de estrelas. Para tal, é necessário que a atracção gravitacional entre os átomos ou moléculas do gás suplante a pressão do gás, que tende a afastá-los.Por esta razão, numa zona de formação de estrelas é preciso, por um lado, que a densidade não seja demasiado baixa, de forma a que as partículas possam "comunicar" gravitacionalmente de forma significativa, por outro é necessário que a temperatura seja reduzida de forma a que a pressão também seja pequena.
Existem vários tipos de nebulosas, a maioria demasiado rarefeitas para que possa acontecer o nascimento de uma estrela. Mas uma perturbação exterior, como a onda de choque criada pela explosão supernova de uma estrela próxima, pode provocar uma contracção nos gases e poeiras levando à formação de uma nuvem mais densa, opaca, chamada por isso nebulosa escura. É nestas nebulosas, com uma massa equivalente a centenas ou milhares de massas solares e com dezenas de anos luz de comprimento, que nascem as estrelas. Na figura pode ver a famosa nebulosa cabeça de cavalo, um exemplo de uma nebulosa escura.
De uma nebulosa escura ao sistema solar
Para uma estrela típica, com uma massa da ordem da massa do Sol, a contracção continua até que o seu interior atinge os milhões de Kelvins e têm início as reacções termonucleares: –A transformação de hidrogénio em hélio por via da fusão nuclear. Estas reacções libertam uma quantidade tal de energia que a pressão no interior da estrela aumenta o suficiente para travar a contracção gravitacional e a estrela atinge um equilíbrio hidrostático, que manterá ao longo de muitos milhões de anos (10 mil milhões de anos para uma estrela com a massa do nosso Sol) até esgotar o seu combustível nuclear: –O hidrogénio.
No Sol, assim como noutros sistemas solares, a nuvem inicial teria algum movimento de rotação em torno do seu centro, resultado do balanço global dos movimentos desordenados das partículas. À medida que a nuvem foi encolhendo, e à semelhança do que acontece com um patinador que encolhe os braços para girar mais rápido, como pode ser visto no seguinte vídeo (cortesia de Mike Pavol), a velocidade de rotação das partículas foi aumentando e a força centrífuga associada a esta rotação fez com que as partículas a rodar suficientemente longe do eixo de rotação pudessem escapar ao colapso gravitacional na protoestrela, ficando a formar uma nuvem achatada perpendicular ao eixo de rotação, ver figura.
É neste disco de partículas em órbitas aproximadamente circulares e coplanares que se vão formar os planetas .
A formação do nosso sistema solar
Nos diversos ramos da Física, o uso de computadores é cada vez mais indispensável como ferramenta para o teste de modelos teóricos através das chamadas simulações computacionais. Se quisermos testar a plausibilidade de um modelo ou uma teoria física podemos, usando um computador, criar um fenómeno virtual que se comporta de acordo com esse modelo. Comparando os resultados obtidos com aquilo que nos mostra a realidade, podemos ajuizar mais facilmente sobre a qualidade do modelo e, eventualmente, melhorá-lo.As simulações computacionais baseadas nas teorias de que dispomos mostram que, em circunstâncias semelhantes aquelas que deram origem ao nosso sistema solar, da periferia da nebulosa solar resultaria um sistema solar semelhante ao nosso. Os seus traços gerais mais evidentes são um primeiro grupo de planetas rochosos, relativamente pequenos, chamados planetas terrestres ou interiores dos quais fazem parte: Mercúrio, Vénus, a Terra e Marte. Separados destes pela cintura de asteróides estão os planetas exteriores, gigantes gasosos, também conhecidos como planetas jovianos: Júpiter, Saturno, Urano, Neptuno e Plutão (na verdade Plutão não é um gigante gasoso, mas pela posição da sua órbita no sistema solar é agrupado neste 2º grupo de planetas).
Estes dois grupos de planetas diferem entre si na sua composição química, tamanho e aspecto. No entanto todos eles exibem um comportamento semelhante: –Orbitam em torno do Sol, no mesmo sentido e aproximadamente no mesmo plano, como um relógio que funciona desde há milhões de anos. Explicar como é que a partir da nebulosa solar, o sistema solar ganhou as características actuais é ainda um desafio, no entanto os aspectos mais importantes parecem ter sido já identificados e podem resumir-se nos seguintes pontos:
A nebulosa solar
À medida que a nebulosa solar diminuía de tamanho, aumentava a sua velocidade de rotação e o material das zonas exteriores, que não foi incorporado na protoestrela devido à força centrífuga, formou o chamado disco protoplanetário. Foi a partir do material deste disco, composto principalmente por hidrogénio e hélio no estado gasoso e uma pequena percentagem de outros elementos mais pesados, que se formaram os planetas do sistema solar.
Assim, o disco protoplanetário então formado ganhou duas regiões distintas: uma interior, donde resultaram os planetas terrestres, onde as temperaturas eram da ordem das centenas de graus Kelvin, e uma região exterior, que deu origem aos planetas gasosos e onde as temperaturas mantiveram-se na ordem das dezenas de graus Kelvin.
Planetas exteriores e planetas interiores
Nesta fase a pressão era suficientemente baixa para que as substâncias não pudessem existir no estado líquido, ou se encontravam no estado sólido ou no estado gasoso, dependendo da sua temperatura de condensação. O hidrogénio e o hélio têm temperaturas de condensação muito baixas e consequentemente em toda a nebulosa encontravam-se no estado gasoso. No entanto, na zona interior do disco, apenas os materiais com altas temperaturas de condensação como o ferro, o magnésio, o enxofre, entre outros, sobreviveram no seu estado sólido. Substâncias como a água, o metano e a amónia foram vaporizadas pelas altas temperaturas.Julga-se que a restante matéria da nebulosa solar, que não foi incorporada na formação de nenhum planeta, tenha sido ejectada para fora do sistema solar pelo vento solar, então milhares de vezes mais forte do que actualmente e por encontros gravitacionais.
Fonte:
PRISMA - Á LUZ DA FÍSICA
http://cftc.cii.fc.ul.pt/PRISMA/capitulos/capitulo1/modulo5/topico1.php