domingo, 1 de novembro de 2009

CÂNTICO DO SOL - Mozart - Requiem - Agnus dei - 13


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Cântico do Irmão Sol
Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória, a honra e toda benção. Só a ti, Altíssimo, são devidos; e homem algum é digno de te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão sol, que clareia o dia e com sua luz nos alumia. E ele é belo e radiante com grande esplendor: de ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas, que nos céu formastes claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar, ou nublado ou sereno, e todo o tempo, pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é mui útil e humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo pelo qual iluminas a noite. E ele é belo e jucundo e vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a mae terra, que nos sustenta e governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam por teu amor, e suportam enfermidades e tribulações. Bem-aventurados os que as sustentam em paz, que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal! Felizes os que ela achar conforme tua santíssima vontade, porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-o com grande humildade.


 
São Francisco - Radeir - ost - 80x60cm - 1998  
Introdução
            Em todos os tempos e épocas o ser humano sempre procurou motivos para sua existência, algo que o move-se para além de si mesmo, que o leva-se a uma realidade superior. Tomando então esta consciência de busca a algo superior, ele descobre que a via para alcançar tal patamar seria a "arte". A arte expressa de forma simples e magnífica tudo aquilo que o ser tem de consciente.
            A arte pode ser expressa de várias formas, mas trabalharemos em especifico as "expressões verbais". A palavra tem grande importância na comunicação humana, e transmitem sentimentos. Uma palavra pode transformar o mundo e pode também mostrar a alma e as experiências de um ser humano.
            São Francisco de Assis, homem sensível à realidade humana, usa de forma esplendorosa a arte das palavras. Em seu vários escritos, um conjunto de palavras chama a atenção : "O cântico das criaturas".
            São Francisco vive a presença e o encontro místico com Deus em sua vida em todos os instantes, e não deixa de forma alguma que algo lhe atrapalhe, pois a experiência de Deus é única, e o que ele simplesmente faz é "cantar" esta grande e única experiência de Deus, feita na criação.
            Ao passar por grandes tormentos, São Francisco percebe que não está sozinho, encontra Deus presente em sua vida, mas não de forma sobrenatural, mas sim de forma comum, na própria criação. A criação é a maior prova de amor, onde Deus expressa o seu amor infinito pelo ser humano, e São Francisco reconhece este amor.
            Portanto, ao discorrer sobre o "Cântico das Criaturas", este trabalho não procura relatar fatos históricos e muitos menos fatos da vida de São Francisco, mas procura mostrar alguns apontamentos da experiência de Deus, que São Francisco viveu em si mesmo e na natureza que o rodeava.

Capitulo I
Louvor
            Temos consciência da presença de Deus em nossa vida, não porque alguém nos falou, mas porque conseguimos presencia-lo. Só consegue presenciar Deus em sua vida, aquele que já o começou a encontrar. E não é diferente para o povo de Israel, a grande tomada de consciência da presença de Deus no meio deste povo foi quando o próprio povo percebe a ação Divina no seu meio.
            E para expressar esta tão sublime presença o povo, canta e reza louvores. A própria historia do povo de Israel é um grande louvor, mas em momentos específicos este povo por inspiração Divina, louva através dos fatos cotidianos de sua vida.
            Com São Francisco não é diferente, ele louva o Deus criador em seu "Cântico das Criaturas", não porque Deus precise deste cântico, mas porque Deus se faz presente na vida de São Francisco.

1.1 – O louvor na vida do povo
O povo de Israel como qualquer outro povo de sua época, possuía uma carga cultural e também vários costumes adquiridos com o passar dos tempos. E um destes costumes do povo de Israel é a poesia. Mas o que faz a diferença entre o povo de Israel e os demais povos que o cercavam, é que o tema central dos poemas do povo de Israel, era a presença real e viva do seu Deus no meio do povo.
"Como seus vizinhos do Egito, da Mespotâmia e de Canaã, Israel cultivou, desde as origens, a poesia lírica sob todas as formas." (BÍBLIA, 1998. pg. 859).
O povo de Israel tem grandes motivos para cantar louvores a Deus, pois nos altos e baixos de sua história Deus sempre esteve presente, agindo e apontando sempre com segurança o caminho certo a seguir, mas sempre deixa que o povo escolha o seu caminho.
Dentre os textos do Primeiro testamento, os salmos ganham grande expressão no quesito: "louvores e cânticos a Deus". O seu conteúdo é totalmente voltado ao louvor, ao agradecimento e também a suplica.
"Eles são gritos da alma e expressões de fé pessoal. Pois jamais são puras lamentações; são apelos confiantes a Deus na tribulação." (Bíblia, 1998.pg 859).
            Nestes louvores não a nada de extraordinário para ser visto, apenas a experiência do cotidiano do povo. Experiência esta que faz toda a diferença quando existe a presença de Deus. Dentro do contexto dos salmos esta um povo que sofre, que luta, que é feliz e que principalmente que tem a convicção de que Deus esta no seu meio.      
"O povo dá graças a libertação de um perigo, pela abundância das colheitas, pelos benefícios concedidos ao rei." (pg. 859).
            O povo de Israel tem em sua formação lideres, reis e profetas. Mas dentre estes personagens o rei tem maior expressão. Dentro da mística dos "cânticos" do povo de Israel o rei é a própria presença do Deus vivo neste rei esta expressa toda vontade de Deus. Pois como um filho este rei obedece fielmente a Deus, não deixando de ser humano. Os outros povos também tinham no rei grande reverencia, mas o povo de Israel esperava de seu rei algo mais, esperava que ele como filho adotivo de Deus, transmitisse a eles a sua experiência intima com Deus.
"O rei é chamado filho adotivo  de Deus, seu reino será sem fim, seu poder se estenderá até os confins da terra; fará triunfar a paz e a justiça, será o salvador do povo. Tais expressões podem parecer extravagantes, mas não vão além do que os povos vizinhos diziam de seu soberano e do que Israel esperava do seu." (Bíblia, 1998. pg. 860).
1.2 – O valor espiritual dos salmos enquanto louvores a Deus.
            O povo tinha grande necessidade de expressar os seus sentimentos em relação a tudo que acontecia com eles. A principio tudo era transmitido de forma oral, por isso o grande valor da palavra para eles, depois com o passar dos tempos tudo foi transcrito chegando a nós hoje. Ao lermos os salmos percebemos que a experiência feita pelo salmista que representa o povo, não foi uma experiência qualquer, mas foi algo subjetivo, mas ao mesmo tempo coletiva.
            Os salmos, enquanto "louvores a Deus" são como que preces feitas pelo povo, preces estas que demonstram um amor mutuo entre o povo e Deus. O povo não se sente abanado, pode se sentir perdido por suas más escolhas, mas nunca abandonados por Deus.
"Não é preciso alongar-nos, tão evidente é a riqueza religiosa dos salmos. Eles foram as preces do antigo testamento, quando o próprio Deus inspirou os sentimentos que seus filhos devem ter a seu respeito". (BÍBLIA, 1998. pg. 862).
            Os salmos sempre foram instrumentos de louvor a Deus. O próprio Jesus, sua mãe Maria e até mesmo os Apóstolos usaram destes louvores para também conduzirem o seu espírito a Deus. Tendo então este exemplo da Igreja primitiva, a Igreja de hoje que somos nós também usa destes salmos para ter este experiência de Deus.
"Foram recitados por Jesus e por Maria, pelos Apóstolos e pelos primeiros mártires. A Igreja cristã faz deles sua prece oficial." (BÍBLIA, 1998. pg. 862).
            São Francisco tem grande reverencia a Igreja, e se a Igreja tem os salmos como prece oficial, ele também usa destes salmos para sua vida espiritual. São Francisco é um homem de postura exemplar diante Deus, sempre se reconhece como criatura e coloca toda sua existência na presença de Deus. Assim como o povo de Israel, os apóstolos e toda a Igreja primitiva viviam em constante oração e entrega a Deus, São Francisco não faz diferente, ele ao fazer quotidianamente a experiência de Deus em sua vida e ao proclamar pelo universo a fora "o amor não é amado", nos da como o salmista o grande exemplo, de como deve ser um homem feito criatura, diante de Deus o seu criador.
"Sem alteração: aqueles gritos de louvor, de suplica ou de ação de Graças, arrancados aos salmistas nas circunstancias de sua época e de sua experiência pessoal, têm caráter universal, pois exprime a atitude que todo homem deve ter diante de Deus." (BÍBLIA, 1998. pg. 862).
            O louvor na vida de São Francisco esta sempre presente, pois ao descobrir o segredo da vida próxima a Deus e ao encontrar no Cristo pobre, humilde e crucificado o sentido de sua vida, sempre de novo e com mais intensidade louva a Deus. "O Cântico das Criaturas" é uma breve expressão verbal, perto do grande louvor que foi a vida de São Francisco. Louvar a Deus para São Francisco não está somente em meras palavras, mas está no viver sempre em intima comunhão com Deus e com o Cristo.
"Sem alteração nas palavras, mas com enriquecimento considerável do sentido: na nova aliança o fiel louva e agradece a Deus que lhe revelou o segredo de sua vida intima, que o resgatou pelo sangue de seu Filho, que lhe infundiu o seu Espirito." (BÍBLIA 1998, pg. 863).
            Portanto, o sentido do louvor tanto na vida do povo de Israel, como na vida das primeiras comunidades, como na vida de São Francisco de Assis se dá na tomada de consciência do amor infinito e da ação de Deus no seu meio. Por isso todos são chamados a louvar e cantar a Deus através dos atos de nossa vida.

1.3 – O louvor em São Francisco de Assis
São Francisco de Assis usa da arte para expressar sua experiência com o sagrado, em especial São Francisco usa da musica. A musica em São Francisco traduz uma experiência religiosa e procura ser sempre fiel aos sentimentos.
            São Francisco amava a musica e o canto, eram estes os principais meios que ele usava para expressar seus sentimentos diante a presença de Deus no dia a dia. O canto é algo fundamental na vida de São Francisco, em sua juventude gostava de cantar ( 1 Cel 2). Na época de São Francisco, onde o trovadorismo, que tem suas origens na França, os poetas costumavam sair pelos pátios e castelos para cantar o seu amor às donzelas e enaltecer os atos cavalheirescos da época, era comum grupos de jovens se reunirem, e provavelmente São Francisco era assíduo participante destes grupos.
          Da mesma forma que os poetas de sua época, São Francisco busca no canto uma nova forma de exaltar e cantar a criação.
          Quando São Francisco se converte, passa a olhar a realidade com outro ponto de vista, e assim que rompeu os laços com seu pai diante do bispo, sai pela floresta a cantar os louvores de Deus.
"E por vezes fazia coisas como estas. Quando fervia dentro dele a mais suave melodia do espírito, ele a expressava exteriormente em língua francesa, e a veia do divino sussurro, que seu ouvido captava furtivamente, prorrompia em jubilo cantando em francês. De vez em quando. Como vi com meus próprios olhos, colhia do chão um pedaço de pau e, colocando-o sobre o braço esquerdo, mantinha um pequeno arco curvado por um fio na mão direita, puxando-o sobre o pedaço de pau como sobre um violino e, apresentando para isso movimentos próprios, cantava em francês cânticos para o Senhor." (2 Cel Cap 15).
          São Francisco não aprecia a musica apenas por hobby, ele compõe para expressar os seus sentimentos, o "Cântico das criaturas" é a mais pura expressão popular que Francisco tinha em sua época. A vida de São  Francisco é marcada desde sua conversão por sofrimentos corporais e angústias espirituais, mas ele não desanima diante tais coisa, e ensina a seus frades a não desanimarem também. São Francisco usa do canto, para dispersar toda e qualquer tristeza que possa existir em seu coração, pois o que importa é sempre cantar os louvores a Deus por tudo que ele nos concede generosamente.

Capitulo II

Natureza

          Na modernidade o mundo se volta para a questão ambiental, não pela razão de se preocupar com ela, mas pelo simples motivo de sobrevivência, pois, se não abrirmos nossos olhos para o que acontece, talvez, não exista para nós o amanhã.
          Ao falarmos de natureza, ecologia, meio ambiente, logo e com grande clamor, é lembrada a pessoa de São Francisco, que viveu de forma harmoniosa com a natureza. Mas se observarmos as ações de São Francisco em relação a natureza, se colocarmos um olhar racional, perceberemos que as suas atitudes soam um pouco estranhas.
"Em discurso sobre a superstição, Voltaire (1694-1778) menosprezou São Francisco, tachando-o de "lunático maluco que sai por ai completamente nu, fala com animais, catequiza um lobo e faz para si uma esposa de neve". (DOYLE, 1980. pg. 9).
            Ao pousar o olhar sobre estes atos de São Francisco, pode ser feito o seguinte questionamento: "o que fez de São Francisco um místico da natureza?" Esta pergunta deve soar sempre em nossos ouvidos, pois, não podemos entender a mística franciscana sem antes entender a existência do próprio São Francisco.

2.1 – Conversão um novo olhar para Deus
            São Francisco sempre foi desde sua infância, possuidor de uma grande sensibilidade em relação às coisas. Era típico de sua época encontrar sentido em tudo o que se via e fazia. Jovem sempre presente, tanto na família como entre os amigos.
            São Francisco tinha em seu coração ideais, próprios da juventude. Queria ser cavaleiro e conquistar muitas honras e fama em todo lugar. Mas Deus age na vida do ser humano de forma serena e eficaz. Começa aqui o processo de tomada de consciência de Francisco de Assis. Ao passar por varias situações em sua vida, no decorrer de sua juventude, São Francisco começa a perceber que algo diferente toca o seu coração. Começa então a aceitar a ação de Deus no seu "eu" e com isso vai aceitando-se a si mesmo. Esta aceitação do "eu" de São Francisco, gera em seu coração um infinito amor pela vida e por tudo aquilo que existe.   
"Mediante a completa aceitação de si mesmo, gera-se o amor genuíno ao eu. A pessoa que ama o seu eu autêntica e verdadeiramente, também ama e aceita os outros: homens, animais, plantas, pedras rochas, isto é, a criação toda, e a tudo diz, das profundezas do seu ser (…) A pratica da oração faz da pessoa igual a Deus, exatamente no modo com que ele ama a criação". (DOYLE, 1980. pg. 65).
            Neste processo de conversão que não aconteceu do dia para a noite, São Francisco foi tomando consciência de sua existência. É um processo natural do seu humano, buscar em certa época de sua vida, um sentido para aquilo que ele faz. Com as experiências feitas no dia-a-dia, São Francisco descobre que dentro de si, existe uma porta para Deus.
"Em qualquer obra de arte ele exalta o Artífice e atribui ao Criador tudo que descobre nas coisas criadas. Exulta em todas as obras das mãos do Senhor e intui, através dos espetáculos do encantamento a razão e causa que tudo vivifica (…) Por meio dos vestígios impressos nas coisas ele segue o amado por toda parte e de todas as coisas faz para si uma escada para chegar ao trono dele (…) Abraça todas as coisas com o afeto de inautação e devoção, falando com elas sobre o Senhor e exortando-as a louva-lo (…) Chama com o nome de irmão todos os animais (…)" (2 Cel. Cap 124)
            Dentro deste processo de conversão de São Francisco pode-se destacar um ponto: a nova visão da criação. São Francisco começa a perceber que Deus age em sua vida, por meio da criação. Deus não está distante daquilo que cria, mas, está presente na sua criação. E São Francisco, com a sensibilidade de um poeta, capta Deus em tudo aquilo que o rodeia. Sendo assim a conversão de Francisco não esta apenas no modo de vida, no modo de se comportar ou de se relacionar, mas está, no novo modo de ver as coisas, um novo modo de ver a Deus.

2.2 – Amor às criaturas
            São Francisco ao fazer a experiência mística da presença de Deus nas criaturas, não usa de raciocínios lógicos para tentar entender o que faz Deus nas criaturas, ele usa todo amor e força que tem no coração para buscar Deus nas criaturas. A fraternidade universal não se dá pelo fato de ele chamar a tudo e a todos de irmãos, mas se dá pelo fato de ver nas criaturas ação constante de Deus. O encontro que São Francisco tem com Deus o deixa completamente desapegado de tudo aquilo que ele tinha como valor essencial para sua vida, podendo assim verter todos os seus pensamentos para a contemplação de Deus no dia-a-dia. O respeito e a reverencia que São Francisco tem para com as criaturas está totalmente ligado ao amor a Deus.
"Quem, pois, poderia algum dia exprimir o supremo afeto que ele sentia entre todas as coisas de Deus ? Quem seria capaz de narrar a doçura que fruía ao contemplar nas criaturas a sabedoria, o poder a bondade do Criador ? (…) Inflamava-se em excessivo amor até para com os vermezinhos, porque havia lido o que foi dito sobre o salvador: Eu sou um verme e não um homem (Sl 21,7). E por essa razão, recolhia-os do caminho, escondendo-os em lugar seguro, para que não fossem esmagados pelas pisadas dos transeuntes (…) Enfim, chamava todas as criaturas com o nome de irmão e, de maneira eminente e não experimentada por outros, percebia com agudeza as coisas ocultas do coração (1 Cor 14,25) das criaturas, como quem já tivesse alcançado a liberdade gloriosa dos filhos de Deus(Rm 8,21)". (1Cel, Cap 29)
            Ao lermos o "Cântico das criaturas" não deve passar de forma alguma em nossa mente, a idéia de que São Francisco romantizou a criação. A experiência que São Francisco fez com a criação, foi a experiência do amor de Deus. São Francisco não se relacionou com a natureza como se fosse um apaixonado por ela, mas ele se relacionou percebendo a existência da natureza como criação de amor de Deus.

2.3 – O valor da criação
            Ao tomarmos consciência de uma realidade presente em nossa vida atribuímos um valor, seja ele subjetivo ou coletivo. São Francisco antes de sua conversão tinha uma visão da criação, mas após sua conversão esta visão muda, sendo assim, ele atribui valor a esta criação. Esta atribuição de valor é tornar existente, dar sentido, colocar valores pessoais naquilo que se valoriza.
            São Francisco usa da linguagem para exprimir o valor que ele dá a natureza, esta linguagem poética e mística e muito notável no “cântico das criaturas”. Neste mesmo cântico São Francisco expressa sua experiência mística com a criação e também expresso o valor que ele concede as criaturas.
"Há experiências místicas que, embora não sejam incomunicáveis, requerem mais do que uma linguagem comum para serem expressas. Podemos ouvir o sopro do vento, ou contemplar a beleza de uma teia de aranha cintilante de orvalho ou um beija-flor librando-se sobre as flores. Quase todos nós, porém, devemos contentar-nos com o silencio, ao nos vermos incapazes de encontrar linguagem adequada para exprimir o que experienciamos". (DOYLE, 1980. pg 52)
            São Francisco se vê no meio da criação, ele nota que tudo o que existe tem um sentido, tem um valor, tem um motivo e não foi criado ao léu. Francisco ao se deparar com a harmonia da criação percebe que a unidade da criação se encontra no amor de Deus. Ao valorizar a criação como fraternidade universal, ele mesmo se coloca no centro de amor, não como aquele que esta acima ou abaixo, mas como aquele que faz parte, que se integra que se faz unidade.
"O Cântico do Irmão Sol certamente coloca São Francisco entre os poetas místicos. Trata-se de um exemplo fundamental da poesia mística a revelar sua experiência de unidade fundamental e a coerência da realidade. Francisco não se entedia como sendo um sujeito isolado frente aos objetos do mundo. Ele se via como no centro de amor, em uma fraternidade universal". (DOYLE, 1980. pg 53)
            Ao se colocar no meio da criação como parte integrante, São Francisco também se coloca como orante perante a ação criadora de Deus. São Francisco tem plena consciência de que todas as criaturas louvam o seu criador. Louvar o criador não se limita em apenas reconhecer o dom da vida concedido, mas louvar o criador é fazer de sua existência também a existência de seu criador. São Francisco sempre pedia para que todas as criaturas louvassem o seu criador, pela simples razão de terem sido criadas pelo amor de Deus.
"Passarinhos, meus irmãos, vocês devem sempre louvar o seu Criador e amá-lo, porque lhes deu penas para vestir, asas para voar e tudo que vocês precisam. Deus lhes deu um bom lugar entre suas criaturas e lhes permitiu morar na pureza do ar, pois embora vocês não semeiem nem colham não precisam se preocupar porque ele protege e guarda vocês (…) Com os companheiros, o bem-aventurado pai continuou alegre pelo seu caminho, dando graças a Deus, a quem todas as criaturas louvam com humilde reconhecimento". (1 Cel, Cap 21)
            Como oração de louvor a Deus criador, o "Cântico" é uma sublime expressão da autentica atitude cristã perante a criação que deve ser amada tal como ela foi criada. "As coisas não sabem mentir", dizia Aristóteles. Toda a criação expressa em si mesma o amor de Deus, amor este que ultrapassou todos os limites da racionalidade humana. Este amor só pode ser captado por aqueles que vivem a experiência de Deus em suas vidas, desde o povo de Israel até os dias atuais existem pessoas que vivem esta experiência do amor de Deus na criação.  
"A revelação bíblica ensina o homem a ver todo o mundo como obra do amor criador de Deus. Jesus, em seus ensinamentos, esforça-se por revelar ao homem a presença do Pai na criação" (IRIARTE, 1975. pg 140)
          São Francisco conseguiu ler na criação a mensagem que Deus quis transmitir a toda a humanidade, a mensagem do amor. São Francisco capta este amor e quer que todos os seus irmãos o cantem. A criação é a obra de arte que ele mesmo nos entrega, e cabe a nós lermos esta obra de arte, interpretar esta obra de arte. Mas infelizmente nem todos conseguem fazer esta leitura, se deixam levar pela materialidade da vida, do mundo. Tornam-se cegos para as maravilhas que Deus continua a operar em toda criação.
"A criação é o primeiro livro entregue por Deus ao homem, é a mensagem fundamental de Deus. O homem que consegue lê-lo, pode levantar-se das obras visíveis para o conhecimento do invisível de Deus (Rm 1,20). A dificuldade está na arte de saber ler este livro." (IRIARTE, 1975. pg 140)
            São Francisco escutava a mensagem de Deus na criação, por isso da valor inestimável a ela, ele quer transmitir a mensagem mais otimista e alegre que ele consegue entender com sua própria vida. A vida de São Francisco era o grande exemplo para toda a Ordem dos Frades Menores, ele queria que sua ordem vivesse em harmonia constante com a natureza, com a criação. Para que então possa ser aceita a criação como ela é, devemos ter total liberdade de espírito, ser livres de todas as formas materiais e todas as formas lógicas de pensamento. Ao chamar a tudo e a todos de irmãos e irmãs quer mostrar que diante Deus estamos todos em igualdade existencial. O ideal de vida que São Francisco propõe é a liberdade de espírito para que a mensagem de Deus expressa na criação possa ressoar em nossa vida.
"Com as irmãs cotovias, que com aquela plumagem cor de terra, com o seu saltitar veloz pelos campos em busca de comida e com aquele gorjeio característico, como que suspensas na luz o céu, livres e alegres, representavam tão bem a imagem ideal dos frades menores." (IRIARTE, 1975. pg 142)
            A criação é sacramento da presença de Deus entre os seres humanos. Na criação podemos encontrar o caminho para chegar a Deus e ao mesmo tempo vislumbrar o testemunho real de seu amor de sua providencia para com toda a humanidade.

2.4 – Francisco e a ecologia
            Hoje quando falamos em ecologia, nos vem a mente a luta pelo meio ambiente e sua proteção contra as agressões do próprio homem. Mas o que realmente é ecologia?
"Ecologia S f. 1.  Parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente em que vivem, bem como suas recíprocas influências." (AURÉLIO, 1988. pg 233).
            São Francisco não desenvolveu nenhum pensamento sobre a ecologia, ou defesa da mesma. Ele viveu intensamente a ecologia como algo que verifica a relação entre os seres vivos, São Francisco imprimiu em seu espírito um constante relacionar-se com a natureza.
            A relação que São Francisco cria com a natureza não é relação de interesse, como a maioria das pessoas de sua época e também hoje tinham. A relação franciscana com a natureza é uma relação de mutua ajuda, onde todos somos caminhos para chegar a Deus.
            São Francisco conhecendo os caminhos da mente humana alerta sempre seus frades cuidarem da natureza, e não usarem dela com abuso.
"Aos frades que cortavam lenha proibia arrancara a árvore inteira, para que tivesse esperança de brotar outra vez. Mandou que o hortelão deixasse sem cavar o terreno ao redor da horta, para que ao seu tempo o verde das ervas e a beleza das flores pudessem apregoar o Pai de todas as coisas. Mandou reservar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e para as flores, para lembrarem a suavidade eterna aos que as olhassem." (2 Cel, Cap 124).
            O trabalho é algo insubstituível na vida de São Francisco e na vida daqueles que seguem o Cristo pelo seu exemplo. O trabalho é condição essencial de sobrevivência para o homem. "Dentro desta economia de subsistência, Francisco prevê que todos trabalhem segundo a sua capacidade e segundo o oficio ao qual foram chamados" (RNB 7).
            Mas como dissemos acima, Francisco nos alerta para o abuso contra a natureza, ele quer que trabalhemos para sobrevivermos, mas não quer que destruamos a natureza. A natureza não é do ser humano, ela não nos pertence e não devemos ter para com ela o sentimento de dominação predadora. Deus nos entrega a criação para que possamos usufruir de tudo que ele criou de livre e espontânea vontade. Quando não dominamos a natureza, mas usamos dela com respeito, deixamos que ela se mostre como ela é, “imagem do Criador”.
            Esta é a condição para vivermos em harmonia com a natureza: a igualdade.
"Francisco também é insistente na não apropriação, mas tendo direito de uso. Esta não apropriação é condição básica para dar possibilidade de cada coisa e cada ser pode realizar a sua vocação, sua finalidade própria. É condição para uma convivência harmoniosa. A escola franciscana retoma o argumento dos santos Padres de que originalmente, no estado de natureza instituída, tudo estava previsto para ser comum. A propriedade privada e particular e resultado da natureza decaída, do pecado. Francisco exorta a que
"atribuamos ao Deus Altíssimo todos os bens; reconheçamos que todos os bens lhe pertencem" (RNB 17)." (SCHWERTZ, 1991. pg 77).
            Francisco faz uma experiência relacional com a natureza, levando o sentido de ecologia a sério. Ele contempla Deus em tudo e faz através da natureza uma experiência de paternidade, fazendo de toda criação sua irmã. Ele encontra nos irmãos os vestígios de Deus, pois, tudo foi criado pela força do Espírito Santo, e Francisco reconhece esta força em cada criatura.
"Francisco faz a profunda experiência de paternidade e vê todas as criaturas como irmãs. Para ele tudo está animado e marcado pelos vestígios do Criador, pela presença do Espírito." (SCHWERTZ, 1991. pg 78).
            A missão dos frades menos é anunciar o Evangelho de Cristo pelo seu testemunho de vida fraterna com os irmãos e com a natureza. O frade menor tem por carisma a minoridade e a vivência relacional com a criação, relacionar-se com a natureza de forma sadia e fraternal, e este relacionar deve ser presente e real e não apenas teórico.
"É uma característica do Espírito Franciscano o anúncio do Evangelho, do mundo novo, pelo testemunho de vida, em que o nosso modo de viver, vestir, de morar, de trabalhar, de relacionar-nos com as pessoas, fala por si mesmo" (SCHWERTZ, 1991. pg 78).
            Os homens e os animais devem ser servir mutuamente, mantendo assim uma relação harmoniosa, esta relação no principio da humanidade era direta onde todos se beneficiavam de todos. Mas com o desenvolvimento do pensamento humano esta relação foi se desgastando, assim o homem cai no pecado do "aproveitamento". O homem começa a se aproveitar da natureza de forma desigual, destruindo assim a interdependência necessária a vida.
"Até certo estágio da civilização, a relação do homem com as criaturas era direta e os meios empregados eram bem domésticos: o criador no campo, o pescador e sua rede, o mercado, etc. Na natureza as criaturas servem umas às outras, numa interdependência natural e necessária à vida. O homem sempre dependeu dos animais para os mais diversos propósitos e esta relação foi naturalmente estabelecida numa "intenção de serviço". (FRANCISCANOS, 1997. pg 41)
            São Francisco sempre expressou grande preocupação para com a natureza. Na natureza se encontra o cerne da relação entre os seres, onde eles se relacionam com os outros e consigo mesmo. Não devemos tomar posse de nada que exista, pois não somos donos de nós mesmo, tudo o que temos vem de Deus, de sua infinita bondade. O respeito pela criação deve estar presente do nascer ao por do sol da vida do frade menor.         
"São Francisco tinha especial preocupação nos assuntos que dizem respeito aos animais, a ponto de na regra não bulada, no artigo 15, lermos o seguinte texto: "Ordeno a todos os meus irmãos, tanto clérigos como leigos, ao irem pelo mundo, ou morarem em lugar fixo, que de modo algum criem qualquer animal, nem junto a si mesmo, nem  com outra pessoa, nem de qualquer forma." (FRANCISCANOS, 1997. pg 42)
            Podemos hoje nos perguntar: qual a finalidade da criação? Francisco nos responde que a finalidade de criação é trazer até nós a presença de Deus, fazer em nossa consciência recordar a lembrança do criador. Toda criatura toma seu real sentido na presença de Deus, por isso o deve louvar incessantemente.
            São Francisco mostra em si mesmo "o homem reconciliado". A ecologia em Francisco toma novo sentido quando se faz presente na reconciliação e na comunhão com as criaturas. O homem, em São Francisco, faz um caminho simples, reconcilia-se com a natureza, reconcilia-se consigo mesmo e por fim reconcilia-se com Deus. O fim de toda reconciliação esta no perdoar e ser perdoado e por fim ter infundido no próprio coração o amor de Deus.
"No Cântico das criaturas Francisco na se revela apenas um poeta, mas profundo conhecedor da importância, finalidade, utilidade e o papel de cada criatura na Criação presença de Deus entre nós, uma lembrança do Criador, mesmo as que chamamos "inanimadas", mas "que do Altíssimo recebem significação". Todas são motivo de louvor, graça e presente de Deus, todas são. O cântico do irmão Sol é o cântico do homem "reconciliado, que traz consigo toda a natureza para um louvor a Deus. (…) A caminhada para a comunhão com as criaturas é o amor. O homem, neste canto, é um homem reconciliado com a natureza, com as criaturas, consigo mesmo e finalmente com Deus. A palavra fundamental da reconciliação é o perdão. "Louvado sejas, meu Senhor pelos que perdoam por teu amor", (FRANCISCANOS, 1997. pg 45-46)
            A maior expressão de Francisco como homem reconciliado é o "Cântico das Criaturas". Frei Atílio Abati (2002) nos diz que "Francisco de Assis acreditava que o dinamismo do amor tende a abraçar todos os homens"
Portanto, em São Francisco inicia-se um novo modo de olhar a natureza, o modo do "amor". "Francisco se apercebe na natureza e, em admiração, contempla o seu nascer sempre de novo no mistério da vida”.

Capitulo III

Cântico das Criaturas
"O mundo hodierno parece primar pela agressividade e pela hostilidade à natureza. E o Cântico das Criaturas é um constante alerta a esta agressão e a esta realidade" (ABATI, 2002. pg 67)
            Chegamos afinal ao "Cântico das Criaturas", cântico este que podemos dizer é a síntese de toda a vida de São Francisco de Assis. Não como resultado final de um processo, mas como constante crescimento na experiência mística de encontro com o Cristo.
            Francisco em toda sua existência, nos alerta a este cuidado com o próximo, pois no próximo esta a presença de Deus. Não usa de forma abusiva aquilo que ele ganhou do Criador, a sua vida e a vida dos outros.
            O cântico das criaturas é um louvor por tudo aquilo de bom que Deus concede aos homens, ele é um ciclo onde agradecemos a Deus o dom da vida e também onde agradecemos a graça de podermos voltar a ele através da irmã morte corporal. Francisco compõe este cântico para nos lembrar que, não somos maiores que ninguém, mas que somos filhos de um mesmo Pai, no qual devemos rendar graças incessantemente.

3.1   - A composição
Francisco compõe o "Cântico das Criaturas" diante um grande sofrimento. Sofrimento este que o assolava devido a grande exigência no qual colocava o seu corpo. Em toda existência de São Francisco ele sempre colocou toda sua confiança em Deus, mas não deixou de viver o processo de angustia que todo ser humano vive. Colocar a confiança em Deus, não significa se tornar um fantoche, mas significa fazer uma escolha, e toda escolha gera angustia. A angústia faz com que o ser humano cresça e se conheça cada vez mais, e foi isto que aconteceu com Francisco, ao compor o Cântico das Criaturas, ele mostra que tem conhecimento de si mesmo.
"Estando ele assim desgastado por sofrimentos de todos os lados, é admirável que ainda pudesse ter forças suficientes para suportá-los. Chamava, no entanto, suas angústias na com o nome de penas, mas de irmãs. Não resta dúvida que elas provinham de muitas causas. De fato, para que ele se tornasse mais claro nos triunfos, o Altíssimo não só confiou coisas difíceis ao cavaleiro  em seu tirocínio, mas também era dada ocasião de triunfar ao homem já experimentado na cavalaria (…) Então compôs os Louvores das Criaturas e exortou-as de algum modo a louvarem o Criador". (2 Cel Cap 61).
            A data mais provável da composição é entre o inverno europeu (Dezembro – Fevereiro) de 1224 e o verão de 1225. Francisco possui tribulações no corpo e na alma, tribulações que o deixam em duvida enquanto sua salvação. É em meio as estas dúvidas e dores que recebe de Deus a confirmação de sua salvação, de sua entrada no Reino de Deus, tal experiência mística o leva a compor este maravilhoso cântico que é a expressão mais profunda de sua alma, expressão esta que parte da consciência de que fomos criados para louvar a Deus com nossa própria existência.
            Francisco não se considera santo e muito menos perfeito. Em nenhum momento de sua vida Francisco se vangloriou de sua intimidade com Deus. Francisco fez de sua vida um intenso louvor ao Criador, dedicando todo seu tempo a Deus. Em recompensa por tal dedicação recebe do próprio criador a garantia da vida eterna, não por méritos próprios, mas por misericórdia de Deus. Por isso Francisco vibra e que cantar mais ainda louvores a Deus, e mais quer que toda humanidade juntamente com todas as criaturas participem de sua imensa alegria.

3.2   – O Cântico parte por parte
"Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória,
A honra e todo o bendizer.
A ti somente, Altíssimo, são devidos.
E homem algum é digno sequer de nomear-te"
            Esta é a introdução do cântico das criaturas, nesta introdução São Francisco deixa claro que o único motivo desde cântico é o Altíssimo, pode-se dizer que neste trecho esta a dedicatória de todo louvor. São Francisco não tem a pretensão de definir Deus neste cântico, pois é impossível por língua humana, mas de forma simples ele louva a grandeza de Deus. A grande característica desde trecho é a humildade com que Francisco louva a Deus. Francisco ao compor este cântico da um grande passo para o desenvolvimento de toda sua mística posterior a sua morte, pois, mostra que Deus é todo poderoso mais que ao mesmo tempo é muito próximo do ser humano pela pessoa de Jesus Cristo.
"A atitude religiosa de São Francisco se desenvolveu dentro de uma dupla polaridade: o senso da grande santidade de Deus e o senso de sua admirável proximidade de nós em Jesus Cristo." (DOYLE, 1985. pg 73).
            Francisco se coloca entre aqueles que fizeram a experiência mística de Deus, e isto não faz de Francisco um homem diferente, mas com esta experiência nos deixa a lição que também somos capazes de fazer esta experiência com Deus. Francisco em sua relação com a natureza chega ao conhecimento de Deus, pois, a criação é o espelho do Criador, e o cântico das criaturas é a prova de que Francisco experienciou Deus na criação.
"Na experiência mística de Deus, que é Santo, o homem, que é temporal e mortal, chega ao conhecimento de Deus, eterno e imortal." (DOYLE, 1985. pg 75).
"Louvado sejas, meu Senhor,
por todas as tuas criaturas,
especialmente pelo senhor Irmão Sol,
pois ele é dia
e nos ilumina por si.
Ele é belo e radiante com grande esplendor.
E traz o teu sinal, ó Altíssimo"
            Francisco pela sua enfermidade nos olhos não mais enxergava, a sua alma também estava em escuridão, pois, além das dores corporais sofria pelas grandes duvidas e começava a não mais enxergar esperança. Mas em sua infinita confiança no Criador, canta a forma mais sublime de expressão Deus na linguagem humana o "Sol". Toda criatura na face da terra depende do sol para sua sobrevivência, Francisco ao usar a figura do sol quer nos mostrar que nós também não podemos sobreviver sem Deus que é luz que nos ilumina no caminho de nossa existência.
            Ao usar a figura do sol, Francisco se liberta de sua dor e de sua limitação visual, pois para ele o sol tem beleza única.
"De tudo que vemos ao nosso redor e de tudo o que observamos em toda a natureza, o sol tem direito de ser qualificado como majestosamente belo. Na beleza e no esplendor radiante do sol, Francisco via uma imagem da beleza de Deus. Considerava-o a mais bela das criaturas de Deus (…)" (DOYLE, 1985. pg 93)
            Francisco retoma uma tradição dos primeiros cristãos, a de colocar na imagem do sol toda beleza da criação, o sol é a imagem da indescritível beleza de Deus.
            Na maioria das culturas o sol tem um papel primordial, pois ele representa a vida, sem a luz e o calor do sol nada pode sobreviver. O Cristo é o novo sol que brilha na escuridão do pecado e da morte, e Francisco em meio esta escuridão encontra na imagem do Sol este Cristo que ele tanto amou e louvou.
"Em suas palavras sobre o sol, no Cântico, São Francisco realmente resume a antiga atitude cristã: o sol foi criado e dotado de uma beleza que revela algo da indescritível beleza de seu Criador. Os cultos relacionados com o sol, embora de forma alguma sejam universais, existiam em muitas partes do mundo em tempos antigos: África, Austrália, Indonésia, Egito e Oriente antigo. O mundo, onde o cristianismo entrou, eram muitos em adoradores do sol; havia até os que estavam completamente tomados pela mística do sol. O culto ao sol predominou, por exemplo, na religião do Egito, e durante o século XII se tornou um poderoso fator no Império Romano." (DOYLE, 1985. pg 93)
            A mensagem que São Francisco quer nos transmitir, é que tenhamos sempre Deus como nosso sol, como aquele que nos fortalece e nos dá vida, aquele nos conduz por caminhos bons. Sem Deus nada seriamos, assim como sem o sol não conseguimos viver. Francisco tem o sol como "irmão", pois apesar de sua beleza radiante tem como condição ser criatura do único e verdadeiro sol de nossas vidas: Deus.
"Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã lua e as estrelas,
no céu as formastes luminosas
e preciosas e belas"
            Francisco tinha grande apresso pelo sol, por representar por assim dizer, a luminosidade Divina em nossas vidas. A cantar louvores a Deus pelo irmão sol, Francisco quer dissipar de sua vida a escuridão. E para então dar continuidade da luminosidade de Deus em sua vida, Francisco continua o seu louvor ao Criador pela Lua.
            Tudo o que reflete no firmamento da noite, qualquer luz, Francisco chamou para dentro de sua existência mística. Ele sabia que a lua e os astros eram reflexos da Beleza Eterna, e que não possuíam nem começo e nem fim. A lua e as estrelas não poderiam de forma alguma faltar no Cântico das Criaturas, pois através de seu misterioso Brilho, Francisco louva o Criador.
            O sol representa dentro do cântico das criaturas a constância de Deus em nossa vida, Deus se faz presente em nossa vida. A lua não é um astro fixo, ela varia em varias partes do ano, assim como as estrelas. A lua dentro do cântico das criaturas representa a grande variação da existência humana. Nascemos, crescemos, morremos eis o ciclo da vida. A lua também tem o seu ciclo. Mas assim como a lua tem o ciclo e representa varias etapas no plano dos astros, ela não deixa de refletir a beleza de seu criador. A existência do ser humano também é assim, por mais que atinja seus autos e baixos, por mais que tenhamos consciência de nossa finitude, o sopro do Criador continua presente em nossas vidas.
"Como sol esta no céu como símbolo da constância e permanência, a lua se mostra como símbolo da flutuação e mudança. Em sua vida dinâmica, o sol é sempre o mesmo. Ainda quando escondido de nós pelas nuvens, continua a conservar a nossa vida e sempre mantém o seu brilho. A lua, ao longo das fases do seu ciclo, do aparecimento ao desaparecimento, da lua nova à lua cheia, simboliza a série de mudanças pelas quais passamos desde a concepção até a morte, do feto a infância, da meninice a adolescência, da idade adulta a velhice." (DOYLE, 1985. pg 103).
            Francisco encara a existência humana face a face, coloca a existência humana em seu extremo, assumindo todas as suas vicissitudes, mas sem deixar de louvar o Criador, podemos assim pensar que como podemos encarar a nossa existência face a face, também podemos encarar a lua com olhar fixo, diferente do sol. Ao pensarmos assim, percebemos que Francisco relaciona a existência humana, com a própria lua, onde nós mesmos nas varias fazes de nossa existência, não deixamos de refletir a imagem do Criador.
"Louvado sejas, meu Senhor,
pelos irmãos vento e o ar e as nuvens,
e o céu sereno e toda espécie de tempo,
pelo qual dás sustento as tuas criaturas"
            Francisco neste trecho de seu cântico, que nos apresentar as criaturas inanimadas que também louvam a Deus. O ar, o vento e as nuvens sem os olhos da fé não tem vida, mas aos olhos da fé são criaturas importantíssimas. Através destes três elementos conseguimos sobreviver no mundo. Sem o ar não poderíamos respirar, sendo assim iríamos morrer, sem o vento tudo seria imóvel, sem as nuvens não teríamos a chuva, que através de sua força régua a terra e assim de forma misteriosa faz produzir nosso sustento. Dentro de tantos argumentos, como não louvar.
            Francisco em sua visão global de fraternidade nos diz: "tucte le tue creature.”.
            O homem depende tanto da natureza e dos elementos que ela contém, que todas as formas de expressão que ele usa para falar sobre a natureza, possuem grande suavidade e beleza. A natureza e seus elementos têm este poder incrível de suscitar no homem tão grande admiração e apresso, seja aos olhos da carne, seja aos olhos da fé.
"Praticamente todas as palavras relacionadas com o tempo têm som de notável beleza. É uma das características mais curiosas do tempo, ter suscitado no espírito humano tantas palavras encantadoras, feitas de sons sugestivos. Possuem um encanto todo próprio, quer aparecendo aos olhos físicos ou aos olhos interiores, como símbolos que dão formas a idéias; ou, então, ressoando no ouvido exterior ou interior, fazendo com que a palavra mental se encarne no som: chuva, granizo, neve saraivada, flocos de neve, pingos de chuva, raios de sol, chuvisco, arco-íris, nuvem, vento, trovão, relâmpago, tempestade, geada, garça, brisa, gelo, bruma, orvalho."(DOYLE, 1985. pg 115)
            Francisco sempre nos lembra de nossa finitude e de nossa relação com a criação. Não somos auto-suficientes diante a criação, dependemos dela sim, pois também somos parte de tal criação. O homem só vai conseguir entender o verdadeiro sentido de sua existência quando tomar consciência de pertença à criação e a todo meio ambiente.
"Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água,
a qual é muito útil e humilde, e preciosa e casta"
            Francisco tem na água a imagem da mais perfeita louvação a Deus, ela é pura, humilde e casta. A água em sua forma mais simples de louvar a Deus mostra o seu real valor na grande utilidade que ela tem. Nenhum ser vivente pode sobreviver sem a presença da água, sendo assim ela louva a Deus na sua relação de intimidade com a natureza.
            A água assim como Deus esta presente em todos os lugares, na composição do ser humano, na natureza, no espaço. Sendo assim ela louva a Deus nas outras criaturas. Francisco a contempla como casta, pois assim como a castidade faz com que direcionemos todas as nossas forças a Deus, a água em todos os lugares onde ela esta, e em todas as suas formas esta sempre louvando a Deus, através de si mesma e através das criaturas.
"São Francisco chama a água de útil, humilde preciosa  e pura. Não há dúvida de que a água é útil. Isso é tão evidente que chega ser banalidade afirmá-lo. São Francisco teria sido mais justo para com ela, se a qualificasse de vital e indispensável. Embora a água seja de vital importância para nós, ela nunca se gloria disso, nem por isso se impõe a nós."(DOYLE, 1985.pg 124)
            Água é vida, e também através da água nós iniciamos uma nova vida. A água do batismo nos lava e nos introduz no mistério de Cristo. A água esta presente em todas as etapas da vida do homem. Através da água conseguimos ativar todos os sentidos do corpo. A água é tão necessária que sua existência é simplesmente absoluta e misteriosa.
"Há um encanto especial em nadar no mar, porque ele tem características que correspondem aos nossos cinco sentidos. O primeiro é o gosto, que esta intimamente ligado aos gosto das lágrimas. Em momentos de profunda emoção, tanto de alegria quanto de dor, a água que escorre de nossos olhos tem o gosto da água, da qual nos vem a vida. Nosso tato sente o mar como caricias de mil mãos, sobretudo quando as ondas da maré rolam sobre nosso corpo na praia. Além disso, sentindo o mar, existe um elemento que só pode ser descrito como força, e o seu odor penetra até o cerne de nosso ser. Pode ser ouvido, as vezes, como rugido quando arrebata nas costas ou contra os recifes, explodindo em fragmentos de brancas espumas; outras vezes sussurrando e murmurando quando se choca contra um quebra-mar ou lambe o pedregulho, ao longo da praia".(DOYLE, 1985. pg 132).
            Para nós cristãos e também para São Francisco a água representa simplicidade de Deus. Fazer-se refletir na presença humilde, porém, indispensável da água é algo misterioso. Francisco nos ensina a termos um total cuidado para com a água. Diante deste ensinamento podemos nos perguntar: "Cuidamos da Irmã água como ela deve ser cuidada?". A resposta deve ser subjetiva. A intensidade com que nos relacionamos com a criação esta no tempo em que dedicamos a ela e no valor que atribuímos a cada criatura, gerada pela bondade de Deus.
"Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo,
pelo qual iluminas a noite;
e ele é belo e alegre
e vigoroso e forte"
            Francisco louva o "irmão fogo" também como algo indispensável para a vida humana. O fogo junto com o ar, a água e a terra formam os quatro elementos indispensáveis na vida do homem. Francisco quis louvar a Deus por tudo isso, louvar a Deus pelas criaturas finitas para que através delas mostrasse a infinitude do Altíssimo.
            Francisco vê no fogo uma constante ascensão, é o Espírito Santo vivificador que esta presente no fogo. Um dos símbolos da Igreja é o fogo, que representa o Espírito Santo, que deve como o fogo, sempre queimar dentro em nós.
            Francisco tinha plena consciência da utilidade e da grandeza do fogo, pois sua devoção para com o fogo partia de seu reconhecimento do fogo como símbolo de Deus, porém, se limitou a louvar a Deus através de sua beleza, sua luz e seu brilho. O fogo ao mesmo tempo que é forte, também se mostra delicado e misterioso.
"Existe magia e mistério no fogo, em suas chamas, em seu modo de queimar. As chamas do fogo sobem para o alto, e dançando se perdem no invisível, ou talvez no nada da morte". (DOYLE, 1985. pg 136).
            Na historia da humanidade o fogo possui um papel fundamental, temos na historia da humanidade uma etapa conhecida como a "era do fogo" onde o homem toma consciência do uso do fogo. Infelizmente nem todos os homens sabem usar o fogo, atacando assim a natureza e a si próprio. O fogo possuiu um caráter dualístico, pois pode representar o bem e o mal, um exemplo : "o fogo ardente da paixão e o fogo destruidor da ganância e do ódio". O fogo foi assim colocado como símbolo de sentimentos humanos, devido a sua grande importância na existência e no desenvolvimento da humanidade.
"O fogo inspira temor, embora seja fascinante. Atrai e repele,  a um tempo. Possui força criativa porque transforma, mas também pode ser destruidor. É exatamente útil e ao mesmo tempo altamente perigoso. Este aspecto dualístico do fogo se manifesta nas metáforas que usamos para descrever emoções contrarias: falamos do fogo do amor e do fogo do ódio." (DOYLE, 1985. pg 137)
            Francisco vê no fogo a presença de Deus, que ao mesmo tempo em que é suave e misterioso é forte e destruidor. Deus não se define pelas qualidades de suas criaturas, mas reflete a sua imagem nelas.
"Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã e mãe terra,
que nos alimenta e governa
e produz vários frutos
e coloridas flores e ervas"
            Francisco considera a terra como mãe e irmã. Mãe no sentido daquela que nos acolhe, a casa da humanidade e irmã no sentido de criação, também a terra é criatura.
            Francisco ao exaltar louvores a Deus pela irmã terra, nos lembra que somos feitos do pó da terra, do pó viemos e para o pó voltaremos, não em uma caminhada sem sentido, mas caminhando rumo ao Reino de Deus. Nosso corpo volta para a sua origem a terra, e nossa alma volta para a sua origem, o Criador. Deus opera maravilhas em nossa vida, utilizando a terra como meio de ação. Deus nos concedeu a terra para que nela trabalharmos e tirarmos o nosso sustento. Podemos também dizer, que Francisco ao louvar a Deus pela irmã terra, ele também acaba por exaltar o trabalho, tão valoroso para ele. O trabalho das próprias mãos deve ser a fonte de nosso sustento, sendo assim, o nosso sustento vem de um harmonioso encontro entre a nossa boa vontade em trabalhar e a generosidade da terra em nos conceder os seus frutos.
            Ao contemplar a irmã terra Francisco contempla todo o cosmos, ordenado em harmonia, dando-se as mãos, irmão sol e irmã lua, irmão vento e irmã água, irmão fogo e irmã terra, no templo imenso da criação. Diante desta realidade Divina podemos então nos perguntar: "Quem sois vós, Senhor, e quem sou eu?"
"O sentido da terra é a sensação de que temos de pertencer a ela e de amá-la profundamente. São Francisco o sentia em grau notável. Seu amor pela terra era amor verdadeiro e autentico, porque era, acima de tudo, baseado na não interferência. Amava a terra por ser fruto da decisão livre de Deus, decisão ditada pelo amor a criar".(DOYLE, 1985.pg 148-149)
            Francisco em seu cântico, demonstra o grande amor que tem pela terra, casa comum da humanidade. Neste sentido ele nos ensina que não devemos interferir na harmonia desta casa, pois fazemos parte dela. Toda a terra com tudo que ela possui é criação Divina, feita por livre e espontânea vontade de Deus, fruto de seu eterno amor por nós.
"Louvado sejas, meu Senhor,
por aqueles que perdoam por teu amor,
e suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que sofrem em paz,
que por ti , Altíssimo, serão coroados"
            Este trecho do cântico surge pela razão de uma briga na cidade de Assis, entre o bispo e o prefeito. Francisco ao ficar sabendo de tal briga compõe este verso e manda que seus frades cantem em praça publica, sendo assim houve a reconciliação entre o prefeito e o bispo da cidade de Assis.
            Mas Francisco agora chega ao auge da criação, o "HOMEM". Só o homem é capaz de gerar dentro de si o sentimento de perdão, os animais não têm esta consciência. O homem foi colocado pelo Altíssimo no topo de toda e qualquer beleza criada, para que fosse dentro da obra da criação, ponto de convergência, o seu harmonizador.
            Francisco foi o arauto da paz, pregou a paz não com palavras soltas ao vento, mas pregou com o seu testemunho. A sua vida inteira foi um protesto de paz entre os homens, um protesto para que os homens pudessem olhar para dentro de si mesmo, pudessem contemplar a beleza que possuíam em si mesmo. Francisco tinha um auto-conhecimento de si, por isso prega a paz e o perdão, só pode falar de paz e perdão quem conhece a si e vive dentro de si estes sentimentos.
"A partir do momento de sua conversão, Francisco se tornou homem da paz e um mensageiro da paz para os outros. (…). Aquilo que ele dizia era muito simples e sem arte, e só dizia respeito a uma coisa, isto é, à paz como maior bem para o homem, paz com Deus pelo cumprimento de seus mandamentos, paz com os homens por meio de uma conduta justa, paz consigo mesmo pelo testemunho de uma boa consciência". (DOYLE,1985.pg 164)
            A paz é resultado de um processo familiar, se houver paz dentro de nossas casas, haverá paz em toda a sociedade. Francisco nos ensina que devemos ser pessoas de paz, e ensina mais ainda a seus frades na regra de 1223 que as primeiras palavras de um frade ao entrar em uma casa sejam estas: "Paz a esta casa!".
"O Cântico do Irmão Sol é a carta-magna da paz; como tal é o documento dos direitos das criaturas humanas, animais, vegetais e minerais. O significado mais profundo da paz é estar bem com todas as criaturas, amar todo tipo de vida, ter respeito por toda a matéria".(DOYLE,1985.pg 169)
            A paz é questão de igualdade entre todos, se queremos viver em paz conosco, com os irmãos  e com a criação devemos então começarmos a agir com igualdade. Francisco se faz igual a todos como criatura e menor a todos como irmão. Deus com sua criação nos da uma grande lição de paz, "pois ele faz chover sobre justos e injustos". Se começarmos a tomada de consciência pela igualdade, começaremos a caminhar rumo a sociedade que tanto sonhamos e que Francisco um dia também sonhou.
"Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã, a morte corporal,
da qual ninguém pode escapar.
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Felizes aqueles que estão na sua santíssima vontade,
pois a morte segunda não lhe fará mal"
            Francisco integra em seu texto este trecho provavelmente no ano de 1226 onde a sua passagem a vida eterna estava próxima. Francisco nos lembra mais uma vez de nossa finitude enquanto criaturas. Quando Francisco compôs este trecho ele já visualizava as suas angústias, as dores no seu corpo eram muitas e não só Francisco era atormentado, mas também aqueles que estavam com ele, em especial Santa Clara e os primeiros companheiros.
            Francisco era cantor por natureza, sempre desejou ardentemente cantar. Naquela tarde onde Francisco contempla a irmã morte, pede então a seus frades que cantem com louvor e devoção o Cântico das Criaturas, que já teria se tornado o canto oficial dos Frades Menores.
            Francisco neste momento começa a contemplar a face de seu Criador, não morre mas continua a contemplar o Criador agora face a face. O corpo de Francisco termina sua jornada sobre a terra, mas o seu espírito cantor continua presente até hoje junto aos Frades menores.
            Francisco encara a morte não como fim ultimo do homem, mas encara a morte como caminho para Deus, não podemos chegar a Deus se não morrermos. Por isso Francisco a chama de irmã morte, pois ela como irmã nos leva a presença de Deus.
"São Francisco saudava a morte com esta amável saudação: "Bem-vinda, minha irmã morte". E, em companhia dela, fez o ultimo estágio de sua jornada para chegar à união com o Irmão Cristo".(DOYLE,1985.pg 184)
            Segundo a filosofia o "homem é um ser para a morte". Todos caminhamos para a morte, mesmo não tendo consciência de tal fato ou até mesmo não aceitando este fato em nossa existência.
            A morte é o grande enigma da humanidade, ninguém sabe explicar ao certo o que seria este fenômeno "Morte". A visão cristã nos apresenta Cristo morto, porém, ressuscitado. O próprio filho de Deus passa pelo mistério da morte, mas ressuscita de forma gloriosa para nos dizer que a morte foi vencida com sua própria morte e ressurreição. A morte para o cristão é o fim de uma existência meramente material mas uma continuação de uma existência na eternidade junto a Deus, e Francisco vive esta certeza no seu itinerário existencial, e nos dá grande lição ao encarar a morte com naturalidade.
"Em termos puramente fenomenológicos, pode-se dizer com plena certeza que a morte é a acessão de uma intrincada rede de funções biológicas e o fim da atividade e comunicação neste mundo. Mas isso não é a morte, tal como define a fé. De acordo com a mensagem cristã, a morte é a consumação de uma forma de existência e o começo de outra forma de existência".(DOYLE,1985.pg 191)
            Francisco também nos alerta sobre a questão do pecado, e quando ele diz "ai de quem morrer em pecado mortal", ele nos diz que devemos todos estar preparados para a passagem para junto do Pai. O pecado na vida do ser humano não deve ser entendido como algo moral ou que esteja ligado ao comportamento social. O pecado é agir contra a dignidade do homem e assim sendo não cumprir com o projeto Divino, é estar fora da Graça de Deus. O amor de Deus deve nos unir como irmãos, este é o grande mistério da vida de Francisco, o pecado está quando nos fechamos em um egoísmo chegando ao ponto de dividir o nosso próprio "eu".
"Há em nós uma coisa profundamente errada, tanto individual quanto coletivamente. Não se trata só de ações pecaminosas, pelas quais possamos ser mais ou menos culpados, de acordo com as circunstancias. Trata-se especialmente do pecado em si. O pecado que se esconde no egoísmo e na divisão existente no próprio eu (…)".(DOYLE,1985.pg 201)
            Francisco não age de forma moralista, condenando a todos, mas nos alerta sobre nossa humanidade que sempre esta propensa ao pecado. Ele nos alerta que a Graça de Deus esta sempre presente em nossas vidas, e que não podemos deixar esta Graça acabar, pela razão de nossos pecados. Em nossa existência está presente o pecado, mas muito está presente a Graça e a misericórdia de Deus, e Francisco viveu e cantou esta realidade com a própria vida.
"Louvai e bendizei o meu Senhor
e rendei-lhe graças.
Servi-o com grande humildade"
            Francisco ao compor o Cântico das Criaturas não pensa em um solista, mas convida a todos a cantarem louvores ao Altíssimo. Este convite é feito de forma espontânea e muito tranqüila, não somos obrigados a louvar a Deus, pois somos livres. Mas ao tomarmos consciência de que nosso fim é louvar o Criador em  tudo que fazemos, a nossa existência toma novo sentido e novo sabor.
            Francisco tem plena consciência da limitação humana, mas ele não se preocupa com isso, pelo contrario, usa da humanidade da criação para louvar a Deus, usa todos os elementos que tem ao seu favor, para louvar e bendizer a Deus.
            O que faz do Cântico das Criaturas uma obra de arte tão bela, e uma experiência mística tão forte, é a grande humildade que se encontra em todos os seus versos. Em nenhum momento Francisco se vangloria de sua forma de escrever e de sua forma de louvar a Deus, mas se coloca sempre humilde como menor de todas as criaturas que coloca em perene louvor a Deus.
            Devemos ser humildes o bastante para podermos encontrar em nossa vida a graça de agradecermos por tudo que temos e não ficarmos em um eterno pieguismo religioso, mas é reconhecer-mos a todos instante que nossa existência e tudo que possuímos vem de Deus.
"Um de nossos maiores dons, como seres humanos, é a capacidade de dizer "obrigado". Dar graças resulta do reconhecimento de que há uma razão para tal. Esse reconhecimento se torna possível pela humildade que sempre reconhece a  verdade. Não é humildade negar os dons que possuímos, quando alguém nos louva por causa deles. Isso é uma mentira. Humildade é a virtude pela qual reconhecemos que nossa existência e talento vem de Deus".(DOYLE, 1985. pg 215)
            Francisco nos ensina que devemos louvar sempre a Deus, porque desde a nossa existência ele já nos amava, com gratuidade total. Podemos nos perguntar: o que é a criatura diante de tanto amor?. Como diz o salmista, "o que é o homem para dele assim lembrardes e tratardes com tanto carinho?". Assim como Deus constituiu toda a criação por amor livre, ele continua a nos oferecer tal amor, somos seres amados por Deus, e por isso devemos louvá-lo. O pensamento racional nos mostra que somos seres que caminham em busca de resposta, Francisco contraria este pensamento e nos responde que somos seres que caminham para o amor de Deus.
            Tomar consciência deste amor de Deus para conosco faz com que louvemos com mais intensidade, e foi isto que aconteceu com Francisco de Assis, tomou consciência de sua existência, de sua relação com os irmãos e com a criação e principalmente tomou consciência do amor de Deus, e isto fez surgir dentro de seu peito inflamado sempre mais pelo "amor que não é amado", o Cântico das Criaturas, a mais bela e humilde expressão franciscana de amor.
"De fato, ele nos conhecia e amava desde toda a eternidade, no profundo de sua mente e vontade divinas. À pergunta, portanto, "o que é uma criatura?" pode-se responder com plena segurança: "um-ser-amado-por-Deus". E, assim como o filósofo define o homem como "animal racional", o crente o define como "o-ser-amado-por-Deus-e-feito-seu-co-amante". Na verdadeira, humildade, existe uma beleza que torna o seu possuidor muito atraente. Por meio do amor, o humilde louva a Deus ao máximo e lhe rende as melhores graças.
            Francisco nos deixa uma lição de vida, de que para chegarmos muito mais alto no amor, devemos sempre de novo ser mais humildes e servir e louvar a Deus nos irmãos a todo instante.
Conclusão
            São Francisco de Assis conseguiu captar o louvor das criaturas ao seu criador. Tendo esta experiência como referencia podemos nos perguntar: "As criaturas conseguem louvar a Deus nos dias de hoje?" Com tanta ganância pelo lucro, e pela exploração desenfreada dos recursos naturais, a resposta se torna algo complexo. Pois, o homem perdeu a sensibilidade para com sigo mesmo e para com a criação, e o grande exemplo está no desmatamento, na caça ilegal de animais silvestres, nos maus tratos com animais e seres humanos, decorrentes em varias regiões do mundo. E nós franciscanos, possuímos ainda a sensibilidade que Francisco ensinou? Francisco no cântico das criaturas demonstra que possui uma sensibilidade existencial imensa, dentro da espiritualidade humano-cristã. Francisco ao escrever este cântico tem o intuito de nos mostrar quão frágil é o ser humano e quão esplendido é Deus. Ele não faz comparativos entre animais racionais e irracionais, ele engloba todo o cosmos, e este como criação divina, como fraternidade universal.
            O amor de Deus está expresso em todas as realidades, e esta é a mensagem que Francisco nos transmitiu. A experiência mística de Francisco se foca em seguir o Cristo pobre, humilde e crucificado que ao ser encarnar coloca toda a criação em pé de igualdade e louvor diante de Deus. Dizia Francisco "em Deus somos, nos movemos e existimos", ou seja, nossa realidade existencial só tem sentido em Deus.
            O cântico das criaturas é o convite universal que Francisco faz, convite este que nos convoca a louvarmos a Deus por toda a eternidade, não louvores criados por nossa inteligência e capacidade, mas louvores que se dão com o nosso próprio modo de ser. "Diante de Deus somos aquilo que somos". A realidade divina na criação não é escravocrata, mas de gratuidade cordial. Louvamos a Deus em gratuidade de espírito.


            Portanto, no cântico das criaturas, que procede da experiência mística de Francisco de Assis, está sintetizado de forma simples e objetiva, o sentido de toda existência criacional, louvar a Deus. Louvar a Deus não é bajular, mas completar a nossa finitude com o infinito amor do Pai Criador.

Fonte: Consciência.org



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ROGER BACON - Mozart - Ave verum corpus




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Roger Bacon

1214 - 1292



Segundo a Enciclopédia Britânica, não houve Rosacruzes antes do século XVII, referindo-se obviamente, às circunstâncias ligadas ao aparecimento dos três famosos documentos: Fama Fraternitatis, 1614; Confessio, 1615 e As Bodas ´Químicas de Christian Rosenkreuz, 1616 - ano em que morreu Shakespeare. Três anos mais tarde Robert Fludd criou sua Rosa-Cruz, que consistia de uma cruz latina simples, com uma rosa no centro, sobre uma pirâmide de três degraus.
No entanto, de acordo com as tradições da Fraternidade Rosacruz, aquele que é conhecido sob o nome simbólico de Christian Rosenkreuz, apareceu durante o século XIII e no século XIV, em 1313, fundou a Ordem Rosa-Cruz. Esta é a data aceita por Max Heindel, embora alguns historiadores aceitam  o aparecimento de Christian Rosenkreuz no século XV e 1413 como o ano da fundação da Ordem. A cronologia de Max Heindel associa a fundação da Ordem da Rosa-Cruz com a queda da Ordem do Templo ou Templários, que se deu em 1312, depois de muitos anos de perseguições e execuções por parte da Igreja e do Rei.
Para que o Templo da Rosacruz tenha sido fundado em 1313 é óbvio que o trabalho tenha começado no século anterior, lá por 1200 e é de se esperar que encotremos um grande número de pensadores brilhantes pertencentes a esse século. No início daquele século apareceu Roger Bacon.
Nascido em 1214, na Inglaterra, o famoso frei franciscano e matemático inglês, Adepto nas artes mágicas, astrologia filosófica  e  alquimia, é tido por muitos, como um precursor da Ordem da Rosa Cruz. É chamado de Pai da Ciencia Moderna, sendo considerado autor de descobertas e inventos importantes como a das duas lentes, côncava e convexa, o telescópio, o vidro ustório, a pólvora, e a lanterna mágica. Se foram ou não inventados totalmente por ele ou simplesmente aperfeiçoamentos de algo encontrado por ele na Espanha ou no Oriente, não sabemos ao certo, mas historiadores encontraram referências às duas luas de Marte em literatura da Idade Média. Jonathan Swift menciona isso nas "Viagens de Gulliver" muito antes delas serem descobertas pelos astrônomos do século XIX. A astronomia hindu também menciona planetas além de Saturno, como Madame Blavatsky sabia. Temos, então, uma suspeita de que telescópios, de algum tipo, deveriam ter existido na Idade Média, na Europa e, talvez ainda mais cedo, no Oriente. Talvez Roger Bacon tenha visto as luas de Júpiter muito antes que Galileu tivesse nascido. Isto não é impossível. Arthur Clarke, autor e cientista, diz que aos dez anos de idade, fez um telescópio com duas lentes e um cilindro de papelão e com isto ele estudou a Lua e a conhecia com mais familiaridade do que sua própria cidade.
Mencionamos isto para mostrar como o progresso  científico estava adiantado no século XIII, muito dele na sub rosa - secreta, esotérica e associada à Rosa e a Cruz. Mas o que aconteceu com este conhecimento? Por que desapareceu? Foi porque a Cruzada Albigense - uma cruzada contra os hereges, no sul da França, deu início a Inquizição. Isto aconteceu na primeira metade do século XIII e, por isso, Roger Bacon teve razões suficientes para temer por sua vida, quando fugiu para o refúgio do mosteiro, onde esperava continuar seus estudos e pesquisar em paz e segurança.
Diz-se, também, segundo a lenda, que Christian Rosenkreuz foi criado em um mosteiro.
Depois da Cruzada Albigense toda a ciência e toda a filosofia eram suspeitas de não terem tido origem no Livro do Gênesis. Esqueceram-se que nos primeiros séculos de nossa era, alguns rabinos tentaram tirar o Gênesis da Bíblia - talvez, porque estivessem mais familiarizados com a ciência grega que postulava a evolução da humanidade a partir de uma espécie de peixe, o Sol era uma grande bola de fogo, a Lua e Vênus mundos habitáveis e a Terra redonda.
A Renascença é familiar a todos os estudantes de história, mas seu início não está ainda claramente definido. Alguns historiadores falam de uma Pré-renascença que chamam de Renascimento do Saber, que recebeu um impulso muito grande quando a cidade de Toledo, na Espanha, caiu nas mãos dos cristãos. Toledo era uma cidade de bibliotecas e escolas. Era o Greenwich do mundo medieval, onde foram marcados os primeiros meridianos de longitude. Era ali que estava guardada a famosa Tábua das Esmeraldas - também descrita como um bloco dourado com incrustações de esmeraldas - que, diz-se, foi tirada dos Judeus pelos Mouros e que outrora pertencera a Salomão. A semelhança desta Tábua com as Tábuas das Esmeraldas de Hermes é óbvia. De qualquer maneira, o astrônomo reconhece que há , aqui, alguma relação com mapas astronômicos. Quando Toledo foi tomada pelos cristãos, os Mouros carregaram a Tábua para Medina, uma das cidades possivelmente visitadas por Christian Rosenkreuz em suas viagens. Toledo caiu para os cristãos em 1085 mas, bem antes desta data, sábios e estudantes de outras partes da Europa dirigiram-se para a Espanha a procura de sabedoria pois a sabedoria grega era acessível nas escolas do Islã.

 
Gravura de autor desconhecido representando Roger Bacon contemplando o céu na janela de seu mosteiro franciscano
Devemos a Roger Bacon a aplicação da geométria na ótica.






Fraternidade Rosacruz Max Heindel - Centro Autorizado do Rio de Janeiro
Rua Enes de Souza, 19 Tijuca,  Rio de Janeiro, R.J. Brasil  20521-210
Telefone celular:  (21) 9548-7397  -  E-mail: rosacruzmhrio@ gmail.com

Filiada a Rosicrucian Fellowship
2222 Mission Avenue, Oceanside, CA 92054-2399, USA PO Box 713, Oceanside, CA 92049-0713, USA (760) 757-6600 (voice), (760) 721-3806 (fax)




PARÁBOLA - SUS - Ao som de Mozart - Lacrimosa abre Allas




YouTube - Mozart - Requiem - Lacrimosa - 27-01: 253rd anniversary of Mozart's birth
&

YouTube - Mozart - Rondo Alla Turca




Parábola do sistema único de ´stupidez´ 




Dr. Alessandro Loiola*



Era uma vez uma moça muito inteligente chamada Verdade. Toda vez que a Verdade chegava perto das pessoas, elas fugiam. Algumas até diziam preferi-la sempre à sua prima biscateira, a Mentira, comentavam como a Verdade era magnífica e necessária, mas ficar por perto? Não, não.


Então, certa noite, a Verdade sentou-se sozinha e desanimada em uma calçada. E antes que algum passante mais atrevido sugerisse um programa (quem não gosta de apertar, torcer e fornicar com a Verdade?), uma senhora corcundamente idosa aproximou-se.


- Por que você está tão triste? - perguntou Dona Sabedoria.


- Ninguém gosta de mim. - chorou a Verdade.


A velha mediu a Verdade dos pés à cabeça, fez uma pausa e cravou:


- Mas também, olhe para você, veja só o seu estado...! Lastimável!


A bem da verdade, a Verdade não estava lá essas coisas. Talvez por acreditar que apenas sua luz interior fosse suficiente, ela nunca havia se preocupado muito com a parte de fora. O vestido sujo maltrapilho, o penteado dreadlock e aquele perfume estilo Moscas Ardentes, do Bosticário, não eram realmente sedutores.


- Vamos fazer uma coisa? Vou lhe apresentar uma amiga - aconselhou Dona Sabedoria.


- Tenho certeza de que ela poderá lhe dar umas dicas.


E Dona Sabedoria e a Verdade foram até uma casa de massagem gerenciada por uma cafetina chamada Riqueza. A Riqueza era, por assim dizer, o bicho: por mais que ela se escondesse e esquivasse, os homens sempre estavam atrás dela - e algumas vezes por cima e por baixo também. A Riqueza, sem dúvida alguma, sabia das coisas.


- Eu não entendo... - questionou a Verdade, olhando com desdém para a Riqueza.


- Você é fútil, volátil, passa de mão em mão sem criar laços, não cultiva respeito ou sentimentos. Afinal, o que os homens vêem em você?


- O que eles vêem em mim, querida? - disse a Riqueza, colocando o indicador com 3cm de unha postiça vermelha no canto da boca.


- O que eles não vêem em você, eu lhe digo. Mal acabada desse jeito, nem o inquilino do viaduto vai lhe dar uma cantada. Mas eu já sei o que fazer: vou lhe emprestar um vestido meu, que é fatal. Tiro e queda, meu amor. Ele se chama Parábola.


E desde então, a Verdade tem conseguido se aproximar dos homens travestida de Parábola. A parábola não assusta, é engraçadinha e permite que a Verdade dê sua opinião. Entretanto, é só marcar aquela esticada no motel e tudo recomeça: ainda não existe um remédio para evitar o terror na frente da verdade nua e crua. A resposta para isso, nem mesmo a Sabedoria ou a Riqueza parecem ter.


E é com esse espírito altruísta em busca da Verdade que abrimos o champanhe para comemorar os 20 anos do SUS - ou Sistema Único de Stupidez, como costumo chamar, pedindo perdão pela transgressão da língua no último verbete, mas imprescindível para sustentar a sigla.


Surtos psicóticos

O SUS é fruto daqueles surtos psicóticos que nossos governantes têm, quando acham que vivem em um planeta com recursos ilimitados. No papel, o SUS é belíssimo. Na prática, é de uma patetice sem tamanho. Em teoria, o SUS é um plano de saúde com cobertura em 100% do território nacional, oferecendo resgate e assistência médica em todas as especialidades 24h por dia, 7 dias na semana, além de pré-natal, puerilcultura, vacinas, tratamento oncológico e assistência odontológica sem glosas por pré-existência.

Um plano assim, particular, sairia, em média, a uns R$ 400,00 por cabeça, por mês.

Contabilidade

Vamos fazer a contabilidade. Quatrocentos reais por cabeça por mês. Somos 200 milhões de brasileiros. Se o governo fosse de fato oferecer o que reza a Constituição (um plano de saúde top de linha com acesso universal), seria necessário um investimento de cerca de R$ 80 bilhões/mês (R$ 400 x 200 milhões de pessoas), ou R$ 960 bilhões/ano. E de quanto é o orçamento anual do SUS? R$ 35 bilhões/ano. Isso lá em casa dava até pra fazer uma festa, mas no universo do SUS... tsc tsc...

Se formos temperar a conversa com os desvios, os superfaturamentos, as prefeituras que instalam manilhas, compram lanche de escola e inauguram praças com verba da saúde, então é melhor nem pensar em colocar na ponta do lápis.

E se o governo fala em aumentar impostos para financiar o embuste, ops, perdão, financiar o SUS, a gritaria é geral. Melhor fazer reuniões e encontros e workshops e conferências intermináveis para saber como humanizar o inabitável, como pagar com um sorriso nos lábios e uma explicação estapafúrdia uma conta que nunca fecha.

Para fazer o SUS engrenar, não precisamos de mais parábolas. Muito menos desse cordel de faz de contas. Para fazer o SUS engrenar, é preciso algo acima. É preciso muito dinheiro e uma nação de homens (e mulheres) de Verdade, de preferência guiados pelas mãos da Sabedoria. Aí sim, teremos saúde. E qualidade de vida.

E um país de Verdade, ao invés de futebol com carnaval para inglês ver.

Apesar dessa ser uma idéia boa e linda, acho que não vai rolar. Todo brasileiro sempre adia o encontro com a velha corcunda para passar antes no bordel da Riqueza, "pra dar aquela saideira, sacumé?". Sei. Quem sabe depois, né? Quem sabe.

Eu vou estar esperando sentado na calçada.



FONTE:  Qua, 04 Nov, 06h28
Dr. Alessandro Loiola*  
Fale com ele pelo e-mail aloiola@brpress.net


*Dr. Alessandro Loiola é médico, escritor e palestrante. Autor de, entre outros livros, "Para Além da Juventude - Guia para uma Maturidade Saudável" (Editora Leitura).
 Fale com ele pelo e-mail aloiola@brpress.net



Paracelso bate palmas
 - enfim aparece a Verdade
 na boca de um Médico
*

É de médicos inteligentes (indignados)

que o brasileiro precisa
-Viva Alessandro Loiola!



CIVILIZAÇÕES: MAIA - INCA - ASTECA - Mozart - Requiem - Lacrimosa - 27-01: 253rd anniversary of Mozart's birth


YouTube - Mozart - Requiem - Lacrimosa - 27-01: 253rd anniversary of Mozart's birth
Mozart vive
perpétua mente  no mundo
- formata consciências.

Civilização Maia  

O povo maia habitou a região das florestas tropicais das atuais Guatemala, Honduras e Península de Yucatán (região sul do atual México). Viveram nestas regiões entre os séculos IV a.C e IX a.C. Entre os séculos IX e X , os toltecas invadiram essas regiões e dominaram a civilização maia.

Nunca chegaram a formar um império unificado, fato que favoreceu a invasão e domínio de outros povos. As cidades formavam o núcleo político e religioso da civilização e eram governadas por um estado teocrático.O império maia era considerado um representante dos deuses na Terra.
A zona urbana era habitada apenas pelos nobres (família real), sacerdotes (responsáveis pelos cultos e conhecimentos), chefes militares e administradores do império (cobradores de impostos). Os camponeses, que formavam a base da sociedade, artesão e trabalhadores urbanos faziam parte das camadas menos privilegiadas e tinham que pagar altos impostos.

 Arte e arquitetura: pirâmide da civilização maia
A base da economia maia era a agricultura, principalmente de milho, feijão e tubérculos. Suas técnicas de irrigação eram muito avançadas. Praticavam o comércio de mercadorias com povos vizinhos e no interior do império.
Ergueram pirâmides, templos e palácios, demonstrando um grande avanço na arquitetura. O artesanato também se destacou: fiação de tecidos, uso de tintas em tecidos e roupas.
A religião deste povo era politeísta, pois acreditavam em vários deuses ligados à natureza. Elaboraram um eficiente e complexo  calendário que estabelecia com exatidão os 365 dias do ano.
Assim como os egípcios, usaram uma escrita baseada em símbolos e desenhos (hieróglifos). Registravam acontecimentos, datas, contagem de impostos e colheitas, guerras e outros dados importantes.
Desenvolveram muito a matemática, com destaque para a invenção das casas decimais e o valor zero.

Civilização Asteca  

Povo guerreiro, os astecas habitaram a região do atual México entre os séculos XIV e XVI. Fundaram no século XIV a importante cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México), numa região de pântanos, próxima do lago Texcoco.

A sociedade era hierarquizada e comandada por um imperador, chefe do exército. A nobreza era também formada por sacerdotes e chefes militares. Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos compunham grande parte da população. Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais de irrigação, estradas, templos, pirâmides).

Durante o governo do imperador Montezuma II (início do século XVI), o império asteca chegou a ser formado por aproximadamente 500 cidades, que pagavam altos impostos para o imperador. O império começou a ser destruído em 1519 com as invasões espanholas. Os espanhóis dominaram os astecas e tomaram grande parte dos objetos de ouro desta civilização. Não satisfeitos, ainda escravizaram os astecas, forçando-os a trabalharem nas minas de ouro e prata da região.

 Arte asteca e arquitetura: pirâmide da civilização asteca
Os astecas desenvolveram muito as técnicas agrícolas, construindo obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo), onde plantavam e colhiam milho, pimenta, tomate, cacau etc. As sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moedas por este povo.
O artesanato a era riquíssimo, destacando-se a confecção de tecidos, objetos de ouro e prata e artigos com pinturas.

A religião era politeísta, pois cultuavam diversos deuses da natureza (deus Sol, Lua, Trovão, Chuva) e uma deusa representada por uma Serpente Emplumada. A escrita era representada por desenhos e símbolos. O calendário maia foi utilizado com modificações pelos astecas. Desenvolveram diversos conceitos matemáticos e de astronomia.
Na arquitetura, construíram enormes pirâmides utilizadas para cultos religiosos e sacrifícios humanos. Estes, eram realizados em datas específicas em homenagem aos deuses. Acreditavam, que com os sacrifícios, poderiam deixar os deuses mais calmos e felizes.

Civilização Inca
Os incas viveram na região da Cordilheira dos Andes (América do Sul ) nos atuais Peru, Bolívia, Chile e Equador. Fundaram no século XIII a capital do império: a cidade sagrada de Cusco. Foram dominados pelos espanhóis em 1532.


 pintura: arte inca
O imperador, conhecido por Sapa Inca era considerado um deus na Terra. A sociedade era hierarquizada e formada por: nobres (governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média ( funcionários públicos e trabalhadores especializados) e classe mais baixa (artesãos e os camponeses). Esta última camada pagava altos tributos ao rei  em mercadorias ou com trabalhos em obras públicas.

Na arquitetura, desenvolveram várias construções com enormes blocos de  pedras encaixadas, como templos, casas e palácios. A cidade de Machu Picchu foi descoberta somente em 1911 e revelou toda a eficiente estrutura urbana desta sociedade. A agricultura era extremamente desenvolvida, pois plantavam nos chamados terraços (degraus formados nas costas das montanhas). Plantavam e colhiam feijão, milho (alimento sagrado) e batata. Construíram canais de irrigação, desviando o curso dos rios para as aldeias. A arte destacou-se pela qualidade dos objetos de ouro, prata, tecidos e jóias.

Domesticaram a lhama (animal da família do camelo) e utilizaram como meio de transporte, além de retirar a lã , carne e leite deste animal. Além da lhama, alpacas e vicunhas também eram criadas.
A religião tinha como principal deus o Sol (deus Inti). Porém, cultuavam também animais considerados sagrados como o condor e o jaguar. Acreditavam num criador antepassado chamado Viracocha (criador de tudo).

Criaram um interessante e eficiente sistema de contagem : o quipo. Este era um instrumento feito de cordões coloridos, onde cada cor representava a contagem de algo. Com o quipo, registravam e somavam as colheitas, habitantes e impostos. Mesmo com todo desenvolvimento, este povo não desenvolveu um sistema de escrita.

Incas era os líderes do império americano o maior. No fim do 1ô século o império começou a expandir de seu território inicial na área de Cuzco, as montanhas andean do sul de América sul. Esta expansão terminou brutal com a invasão espanhola leaded por Francisco Pizarro em 1532.
Pela época de sua rendição, o império controlou uma população estimada de 12 milhão povos que representa hoje de Peru e de Equador e uma grande parte do Chile, de Bolívia e de Argentina.


O império Inca
Incas chamou seu território Tawantinsuyu, que em Quechua, a língua de Inca, meios as quatro peças. Um território de terras e de tempos variados e fortemente marcados, aquele consistiu em uma tira grande do deserto na costa, interspersed com os vales irrigated ricos; os summits elevados dos Andes; e o summit da montanha da floresta tropical no leste. A palavra Inca designou o líder ele mesmo as.well.as os povos do vale de Cuzco, o capital do império. É usada às vezes designar todos os povos incluídos no Tawantinsuyu, mas não está correta. A maioria dos reinos menores mantiveram sua massa de pão que da identidade mesmo foram unidas polìtica e economicamente ao Incas. Quechua era a língua oficial e foi falado em a maioria das comunidades até a chegada do espanhol, mas quase 20 dialects locais remanesceram em algumas partes do império.

A arquitetura
Incas desenvolveu um estilo muito funcional pública avançada da arquitetura que era notável para a sua engenharia e técnicas de pedra finas do edifício. A planta das cidades foi baseada em um sistema das avenidas principais cruzadas pelas estradas menores que convergiram em um quadrado aberto principal cercado edifícios municipais e igrejas. A estrutura era a de somente um assoalho de um conjunto perfeito de pedras cortadas; usaram também o tijolo da terra e da palha nas regiões litorais. Para a construção de monumentos grandes goste do Sacschuaman, grande fortaleza perto de Cuzco, blocs maciços em uma forma do polygon foram postos junto com uma precisão extraordinária. Nas regiões da montanha, como a espectacular cidade dos Andes situada em Machu Picchu, a arquitetura de Inca refletiu adaptações frequentemente ingenious do relevo natural.

A religião
A religião do estado foi baseada na adoração do Sol. Os emperors incas foram considerados os descendentes do deus Sol e adorados como divinidades. O ouro, símbolo do ouro do Sol, foi explorado muito para o uso os líderes e os membros do elite, não como a moeda corrente mas para da decoração, da roupa e dos rituals. A religião dominou toda a estrutura astuta. Do Templo do Sol no centro de Cuzco, nós poderíamos extrair uma linha imaginária para os lugares da adoração das classes sociais diferentes na cidade.
A prática religiosa consistiu nos consultas do oracle, sacrifícios para ofertório, transesreligiosos e confissãos públicas. Um ciclo anual de festividades religiosas foi regulado pelo calendário de Inca, extremamente preciso, era assim o ano agricultural. Por causa estes e outros aspectos, a cultura de Inca assemelhou-se muito a algumas culturas da Meso-América como o Aztec e Maya.
 
Origem
Os incas estabeleceram o império mais amplo da época pré-hispânica.
Apesar de arqueólogos e historiadores não concordarem, acredita-se que os incas vieram de uma região árida e montanhosa localizada nos Andes Centrais. Por razões também desconhecidas, eles deixaram seu lugar de origem em busca de novos territórios.
Ao chegar a Cuzco, aproximadamente no ano 1100, eles decidiram se estabelecer. A principal razão desta decisão foi a terra boa de cultivo que eles encontraram e também por se sentirem protegidos entre as montanhas de possíveis inimigos. Cuzco é um vale rico andino, situado na confluência dos rios Huantanay e Tullumayo, rodeada de um circo de montanhas que atingem uma altura de mais de 3000 metros acima do nível do mar.

Para se estabelecer em Cuzco eles tiveram que lutar e vencer o povo que vivia na região, provavelmente de língua aymará. Segundo alguns pesquisadores, os incas se aliaram aos senhores da região de Titicaca, com a qual mantinham estreitos vínculos econômicos.
De acordo com os relatos míticos dos incas, a fundação de Cuzco é atribuída a Manco Capac, considerado um herói e um deus. Ele foi o primeiro Inca, nome dado mais tarde aos monarcas, e estabeleceu as primeiras regras da organização social, que nesta época era um pequeno estado com pouco poder.
O sucessor de Manco Capac, Sinchi Roca, que significa herói guerreiro, iniciou a série de monarcas lendários que fortaleceram seu assentamento em Cuzco e dominaram o território até o lago Titicaca.

Civilização Inca  
DADO CURIOSO
Os incas chamavam o seu império de Tahuantinsuyo, que quer dizer as quatro partes do mundo.

Império
Os incas chamaram o seu império de Tahuantinsuyo, que quer dizer as quatro partes do mundo. Ele era dividido em quatro regiões, que por sua vez se dividiam em províncias. Na frente do império estava o Inca, e as regiões conquistadas eram dirigidas pelos curacas ou governadores de província.
A história do império se inicia no ano 1438 com Pachacutec. Este monarca, cujo nome significa “o transformador do mundo”, foi um general afortunado na guerra contra os chancas, um temível povo do noroeste que invadiu e esteve a ponto de acabar com Cuzco e com os incas. Devido a sua vitória, ele foi nomeado Inca e iniciou uma série de conquistas militares no norte, que o levaram até o território ocupado atualmente pelo Equador.

Durante seus últimos anos, ele deixou as operações militares nas mãos de seu filho, Tupac, e se dedicou a organizar o território dominado, mandando fazer um mapa do mesmo, em barro. Pachacutec teve a idéia original de integrar os povos vencidos como parte de seu império e não como províncias submissas.
Ele combinou o sistema de tributos com um regime de produção e distribuição. A ele também se atribui a regulamentação do sistema agrícola: épocas convenientes de semeadura e colheita. Para isso, Pachacutec mandou erguer colunas em todo o império com o objetivo de saber com precisão a posição do sol e dos astros. Ele morreu em 1471, sendo sucedido por seu filho Tupac Yupanqui.

Civilização Inca    

DADO CURIOSO
Para derrotar o reino Chimú, os incas cortaram os aquedutos que forneciam água potável.

Expansão e decadência

O Inca Tupac Yupanqui governou o Império entre 1471 e 1493. Este grande conquistador levou a fronteira meridional até o norte do Chile e na costa, conseguiu dominar o poderoso reino Chimú. Para derrotá-lo ele teve que cortar os aquedutos que abasteciam água potável da serra.
Este inca fracassou na sua tentativa de dominar a selva amazônica, pelo qual havia mandado construir fortificações nas gargantas que desciam até ela, a fim de evitar possíveis invasões.
A morte de Tupac Yupanqui em 1493 foi causada por uma luta entre suas mulheres, para garantir a sucessão de seus filhos. Uma delas o envenenou, ocasionando uma guerra civil com várias complicações. Finalmente Huayna Capac, o filho designado pelo próprio falecido inca, se impôs. Assim começou o período em que o Tahuantisuyo chegou a sua máxima extensa.

Religião
     Quando os Incas conquistaram os Andes, impuseram o culto ao deus Sol. Todas as tribos construíram um templo em homenagem ao Sol, mas o principal templo ficava em Cuzco capital do Império Inca. Outros deuses também eram adorados: a Lua, os deuses do arco-íris, do trovão, porém sobre todos eles reinava Viracocha, o criador, que era o pai e a mãe do Sol e da Lua. A religião Inca era de caráter politeísta, havia sacrifícios humanos para a satisfação dos deuses.

   Os Deuses dos Incas
     VIRACOCHA: (Ilha Viracocha Pachayachachi), (Esplendor originário, Senhor, mestre do mundo), foi a primeira divindade dos antigos Tiahuanacos, proveniente do Lago Titicaca. Como o seu homônimo Quetzalcoatl, surgiu da água, criou o céu e a Terra e a primeira geração de gigantes que viviam na obscuridade. O culto do Deus criador supunha um conceito intelectual e abstrato, que estava limitado à nobreza. Semelhante ao Deus Nórdico Odín, Viracocha foi um deus nômade, e como aquele, tinha um companheiro alado, o condor Inti, grande profeta.
     INTI: (o Sol), chamado "Servo de Viracocha", exercia a soberania no plano superior ou divino, do mesmo modo que um intermediário, o Imperador, chamado "Filho de Inti", reinava sobre os homens. Inti era a divindade popular mais importante: era adorado em muitos santuários pelo povo inca, que lhe rendiam oferendas de ouro, prata e as chamadas virgens do Sol.

  MAMA QUILLA: (Mãe Lua), Esposa do Sol e mãe do firmamento, dela se tinha uma estátua no templo do Sol. Essa imagem era adorada por uma ordem de sacerdotisas, que se espalhava por toda a costa peruana.

 PACHA MAMA: "A Mãe Terra", tinha um culto muito idolatrado por todo o império, pois era a encarregada de propiciar a fertilidade nos campos.

MAMA SARA: (Mãe do Milho).

 MAMA COCHA: (Mãe do Mar)

    As lendas incas

     A Primeira Criação: "Caminhava pelas imensas e desertas pampas da planície, Viracocha Pachayachachi, 'o criador das cosas', depois de haver criado o mundo em um primeiro ensaio (sem luz, sem sol e sem estrelas). Mas quando viu que os gigantes eram muito maiores que ele, disse: - Não é conveniente criar seres de tais dimensões; parece-me melhor que tenham minha própria estatura! Assim Viracocha criou os homens, seguindo suas próprias medidas, tal como são hoje em dia, mas aqueles viviam na obscuridade".
     A Maldição: Viracocha ordenou aos hombres que vivessem em paz, ordem e respeito. Entretanto, os homens se rendeream à vida ruim, aos excessos, e foi assim que Deus criador os maldisse. E Viracocha os transformou em pedras ou animais, alguns caíram enterrados na Terra, outros foram absorvidos pelas águas. Finalmente, despejou sobre os homens um dilúvio, no qual todos pereceram.
     A Segunda Criação: Somente três homens restaram com vida, e com o objetivo de ajudar Viracocha em sua nova criação. Assim que o dilúvio passara, "o mestre do mundo" decidiu dotar a Terra com luz e foi assim que ordenou que o sol e a lua brilhassem. A lua e as estrelas ocuparam seu ligar no vasto firmamento.

Olmecas
     Portanto, dentre as populações citadas acima, vale a pena destacar os Olmecas. Foram eles responsáveis pela presença da civilização urbana nesta região, difundindo seus conhecimentos por toda a Mesoamérica, do litoral do Golfo até o litoral do Pacífico, El Salvador e Costa Rica.
    Os Olmecas construíram um grande centro cerimonial em (1250 a.C): San Lorenzo. Seus artífices levantaram uma grande plataforma com 45 metros de altura, alinhando praças retangulares de norte a sul.A arte olmeca também é surpreendente. Sabiam esculpir em jade pequenas imagens ao mesmo tempo em que faziam grandes cabeças de pedra, cujo peso foi calculado em 20 toneladas.

    As figuras representadas são de homens com traços (lábios e nariz) grossos. Freqüentemente, esculpiam uma figura, meio homem meio jaguar, que era repetida em inúmeros objetos.
    A principal cidade (de que temos conhecimento) construída pelos Olmecas, foi San Lorenzo. Nela estão as cabeças colossais que devem representar seus líderes entre 1200 e 900 a.C.. A cidade disseminou sua influência tanto ao Norte como ao Sul, por meios pacíficos e belicosos.

    A construção dos seus monumentos demonstra que foi necessário um grande esforço para se obter o efeito monumental que desejavam. Como não conheciam a roda nem utilizavam animais para a tração, essa energia sobre-humana foi gasta por aqueles homens que viviam nas proximidades dos centros cerimoniais e que, de alguma forma, eram obrigados a desempenhar tal esforço.

    Por volta de 900 a.C., uma luta interna destruíu San Lorenzo e seus enormes monumentos foram aniquilados, senão totalmente, pelo menos em parte. Mas, a cultura iria reflorescer em outro lugar: La Venta.
    Como se vivessem num eterno desafio novas cabeças foram erguidas em La Venta, de proporções ainda maiores. As construções, dadas as suas dimensões, são admiráveis para a época. Surpreende-nos também os conhecimentos astronômicos e as habilidades nos cálculos.

    Os olmecas tinham preocupação de memorizar as datas dos acontecimentos que consideravam mais importantes. Assim, passavam o seu saber de uma geração para outra. Usavam símbolos pictóricos para escrever. Geralmente eles eram esculpidos em madeira, infelizmente, material perecível. Por este motivo, são raros os que sobraram para serem analisados pelos arqueólogos.

    Em 400 a.C., La Venta foi destruída da mesma forma que San Lorenzo. Os olmecas ficaram em Três Zapotes até 200 a.C., sem construir cabeças colossais apenas produzindo o artesanato olmeca.
    Em suma, a importância da civilização olmeca é muito grande para nós, porque será a base para o desenvolvimento de outras civilizações. Dentre os exemplos significativos, vale a pena lembrar os astecas e os maias, que serão herdeiros capazes de repensar o calendário e a escrita olmeca.

                                            Fonte:

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